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Parece-nos que há um certo sadismo na atuação dos poderosos e poderosas, quando promovem o mal na vida das pessoas.
Os profetas bíblicos muito insistiram junto aos poderosos, para que cumprissem
o direito e a justiça. (oldskool photography/ Unsplash)
Por Felipe Magalhães Francisco*
Provavelmente você já se perguntou se aqueles e aquelas que estão no poder, nas três esferas, conseguem dormir tranquilamente durante à noite, quando, durante o dia, assumem posições e atitudes que levam à desgraça milhões e milhões de brasileiros e brasileiras. Recordo-me de uma reportagem, na qual se narrava a dificuldade de Michel Temer em dormir no Palácio, quando usurpou o poder que havia sido legitimamente eleito. É bem difícil sabermos qual a influência da consciência, na vida das pessoas.
Definitivamente, não podemos contar com a boa vontade das pessoas que estão no poder, em seguirem, nem que sejam minimamente, suas consciências, para que atuem fielmente para a realização daquilo a que foram designadas. Mais das vezes, parece-nos que há um certo sadismo na atuação dos poderosos e poderosas, quando promovem o mal na vida das pessoas, seguindo a influência dos interesses próprios e de quem os financia. É o sarcasmo sobre nossa ruína!
Fora de uma reforma verdadeira e comprometida, tanto no sistema político quanto no judiciário, o país continuará mergulhado nessa situação, na qual são os empobrecidos e empobrecidas os mais afetados e condenados à morte. Pode entrar e sair governo, com promessas eleitoreiras baseadas na moralidade e nos bons costumes, que a prática da politicagem continuará a mesma: basta ver o que se passa na atual gestão e que só tende a piorar, e muito.
Os profetas bíblicos muito insistiram junto aos poderosos, para que cumprissem o direito e a justiça. Condenaram, com veemência, o abuso de poder, que só gera sofrimento e morte. É triste perceber que um governo alçado ao poder, com grande influência e apoio de religiosos e religiosas, esteja a serviço da destruição do país e de todas as consequências que essa destruição traz. Não é racional que milhares de pessoas religiosas tenham entregue seus votos de confiança em pessoas que, apenas por um discurso religioso e pautado na moral e nos costumes, estejam desde sempre dispostas a destruir o país.
A fé se descolou da vida. A negação da Política – entre outras coisas – nos trouxe ao abismo em que nos encontramos. A pretensão de uma “nação evangélica”, como se estivesse na religião a solução para nossos problemas estruturais (que falta, a consciência histórica nos traz!), tomou conta do centro do poder. Talvez haja, por parte dos que se apropriam do discurso religioso na política, uma sagacidade nefasta: se o abuso da fé das pessoas, nas igrejas, dá-se de modo admirável, por que não se apropriar dessa dimensão, para aliená-las também de seus direitos e das questões políticas? Os profetas se retorcem em seus túmulos!
Não aceitar nenhum sarcasmo sobre nossa ruína (Ester 4,17p) é um apelo de uma fé comprometida com a vida. É o que nos ensina a personagem bíblica Ester: diante da ameaça de destruição de seu povo, ela se agarra à fé no Deus que, em toda a história, já havia dado mostras de sua fidelidade e justiça, bem como sabe que precisa atuar, para transformar aquela situação de opressão em liberdade e bem-viver. O poder não deve estar a serviço da morte. Não é possível que, em nome de uma fé, aceitemos que no banquete dos poderosos seja servida a carne dos empobrecidos e empobrecidas. É preciso mudar a nossa sorte, por meio de nossa própria atuação!
*Felipe Magalhães Francisco é teólogo. Articula a Editoria de Religião deste portal. É autor do livro de poemas Imprevisto (Penalux, 2015). E-mail: felipe.mfrancisco.teologia@gmail.com.
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