sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Profeta do Concílio. Arrupe: está aberta a fase diocesana para a causa de beatificação

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Ser homem para os outros. Este foi o lema da vida e a orientação apostólica do Padre Pedro Arrupe
Os 18 anos de governo de Arrupe também foram marcados por momentos de
Os 18 anos de governo de Arrupe também foram marcados por momentos de "incompreensão" e "atrito" com a Santa Sé. (Vatican Media)
Por Filippo Rizzi

Ser homem para os outros. Este foi o lema da vida e a orientação apostólica do Padre Pedro Arrupe (1907-1991), o segundo basco após Inácio de Loyola a liderar a Companhia de Jesus na tempestade que se seguiu ao Concílio, de 1965 a 1983.

Foi aberta nesta terça-feira, em Roma, a causa de beatificação do padre jesuíta que liderou a Companhia durante o Vaticano II, foi missionário no Japão, criador da opção pelos “pobres” e foi o primeiro preposto geral a pedir demissões.

A abertura da fase diocesana no Palácio de Latrão, na presença do Cardeal vigário De Donatis e do atual superior geral Sosa. O postulador Cebollada explica: assim será possível recuperar a sua espiritualidade.

Paulo VI recebeu o Padre Pedro Arrupe, que foi eleito prepósito da Ordem dos Jesuítas em 1965, durante o Concílio Vaticano II.

Ser homem para os outros. Este foi o lema da vida e a orientação apostólica do Padre Pedro Arrupe (1907-1991), o segundo basco após Inácio de Loyola a liderar a Companhia de Jesus na tempestade que se seguiu ao Concílio, de 1965 a 1983. E, provavelmente, este slogan símbolo de "Dom Pedro", como era comumente chamado pelos "seus" coirmãos, repercutiu nesta terça-feira, dia 05 - o mesmo dia em que, em 1991, o carismático inaciano morreu na enfermaria da Cúria da Ordem em Roma - durante a abertura Oficial às 16h da causa de beatificação, em Roma, no Palácio de Latrão, na presença do cardeal vigário de Roma, Angelo de Donatis e do terceiro sucessor de Arrupe, o atual geral da Companhia, o venezuelano Arturo Sosa Abascal.

"Este ato - explica o postulador da causa, Pascual Cebollada, jesuíta espanhol nascido em 1960 - vai nos permitir fazer uma primeira panorâmica histórica desta figura, reler seus escritos, a sua espiritualidade, e também para levar a cabo uma investigação inicial através dos testemunhos daqueles que o conheceram e assim apurar em profundidade como praticou e viveu as virtudes cristãs. Na esteira da melhor tradição dos Exercícios, ele foi um profundo conhecedor da ‘humanidade de Cristo’". Um personagem, Arrupe, na devota memória de gerações de jesuítas: basta pensar na admiração manifestada a ele por homens da magnitude de Carlo Maria Martini e Jorge Mario Bergoglio, que logo após ter sido eleito Pontífice, em julho de 2013 foi em peregrinação ao túmulo do amado geral em Roma. E Arrupe também foi missionário no Japão. Tendo se tornado mestre dos noviços, estava em Hiroshima quando, em 6 de agosto de 1945, foi lançada a bomba atômica sobre a cidade. Para ajudar a população, transformou o noviciado em hospital de campanha e, graças à sua formação médica, ajudou muitos feridos. "Não é por acaso que desse episódio tenha se originado nele um sentido de atenção pelos últimos, ‘o amor fundamental pelos pobres’- ressaltou Cebollada – que serão junto com a missão e a inculturação um dos traços fundamentais de sua direção ao lado da questão da justiça social".

Mas o que mais chama a atenção no aspecto de santidade desse religioso, conhecido também por sua capacidade de ser "um excelente comunicador" - em 1973, a prestigiosa revista Time vai dedicar-lhe uma capa - e considerado, precisamente por isso, pela mídia de seu tempo em certo sentido como o último "Papa negro" dos jesuítas, é a sua índole de viver sempre na insígnia de uma sobriedade tipicamente inaciana. "Analisando sua longa existência – observa o postulador – se percebe como é edificante o seu estilo de pobreza pessoal e como durante a sua direção houve uma completa redescoberta das fontes originais de espiritualidade inaciana. E a própria palavra "discernimento", agora tão em voga, tem nele um dos inspiradores em uma abordagem de linguagem também no nível pastoral". E ele observa: "Da mesma forma que Inácio ajudou os jesuítas a implementar o Concílio de Trento, assim Arrupe fez com o Vaticano II".

No entanto, os 18 anos de governo de Arrupe também foram marcados por momentos de "incompreensão" e "atrito" com a Santa Sé. A 32ª Congregação da Companhia(1974-1975) por ele presidida iria emitir um pedido para estender o 4º voto de obediência a todos os jesuítas (rejeitada por Paulo VI) e a renúncia como superior geral (a primeira na história da Ordem para um cargo que Inácio tinha planejado para toda a vida) aceita por João Paulo II por causa de um acidente vascular cerebral com danos permanentes que atingiu o sacerdote basco em 1981. Para o interregno na condução da Ordem o Papa Wojtyla nomeou como seus "delegados pessoais" dois jesuítas: o milanês Paolo Dezza (o confessor de Paulo VI) e Giuseppe Pittau, da Sardenha A intervenção durou até a eleição do sucessor, o holandês Peter Hans Kolvenbach em 1983.

"Se for analisada profundamente a ação de Arrupe - confidencia Cebollada – deixa-nos impressionados a sua admiração e obediência como autêntico jesuíta ao Romano Pontífice. Para ele, o Papa é o Papa, e pronto. Muitas vezes ele foi contraposto a João Paulo II, mas se for analisada a visão em torno da evangelização e das questões sociais, encontram-se muitos pontos em comum entre os dois: eles tinham o mesmo espírito missionário". Um religioso de estirpe, portanto, que dentro da Companhia ainda é memória viva: no mundo todo há centros de pesquisa, de espiritualidade ou de ajuda aos refugiados dedicados a ele, incluindo o Jesuit Refugee Service Astalli de Roma. "Por enquanto não há milagres atribuíveis a ele – reflete por fim o postulador -. Existem indícios, pequenos sinais que, no entanto, apoiam a sua ‘fama de santidade’. Ele foi para nós, como disse o padre Kolvenbach, ‘o profeta da renovação conciliar’".

Em comum com Inácio de Loyola, a origem basca Pedro Arrupe (1907-1991) foi, depois Inácio de Loyola, o segundo religioso oriundo do País Basco nomeado como 28º sucessor do fundador para conduzir a Companhia de Jesus por 18 anos, a partir de 1965 até 1983. Entre os dados singulares de sua gestão houve na longa história da Ordem um primado: em 1965 os jesuítas tocaram o pico de sua presença numérica: 36 mil religiosos (divididos em professos, coadjuvantes espirituais e temporais) que desceu para 25 mil no ano de sua morte em 1991. Arrupe foi o último prepósito da Companhia de Jesus em seus mais de 450 anos de história a ter um rito fúnebre na igreja mãe da ordem de "Jesus" de Roma, onde descansam os restos mortais de Santo Inácio de Loyola. As exéquias do "Papa negro", segundo a tradição, foram realizadas em 9 de fevereiro de 1991 e celebradas pelo mestre da Ordem dos Dominicanos (foi o último caso na história da Companhia), o irlandês Damian Byrne. Pedro Arrupe desde 1997 teve o privilégio de ser sepultado na Igreja del Gesù, em Roma. Seu pequeno monumento fúnebre está localizado em frente ao de outro jesuíta que conduziu a Companhia de Jesus, em anos turbulentos, o holandês Jan Roothaan.

Um site mantido pelos coirmãos relembra a sua vida

Por ocasião da abertura da causa de beatificação, a Cúria Geral dos Jesuítas criou uma página web dedicada ao seu Geral Pedro Arrupe: arrupe.jesuitgeneral.org/en.

O site permite conhecer de perto, através de uma detalhada galeria fotográfica, a história e o apostolado deste religioso.

Biografias
Atualmente sobre a figura deste jesuíta carismático foram escritas muitas biografias.

Entre estas, destacamos o ensaio do historiador Gianni La Bella (Il Mulino, 2007); 

"Pedro Arrupe. Um uomo per gli altri (Pedro Arrupe. Um homem para os outros), a obra de seu biógrafo mais respeitado, o jesuíta Pedro Miguel Lamet, escrita para a Àncora em 1993;
"Pedro Arrupe. Un’esplosione nella Chiesa” (Pedro Arrupe. Uma explosão na Igreja);
e, finalmente, aquela escrita para a editora Paulinas, em 1998, pelo historiador assistente de sua gestão, Jean Pierre Calvez "Pedro Arrupe. La Chiesa dopo il Vaticano II” (Pedro Arrpe. A Igreja depois do Vaticano II).

Avvenire/ IHU - Tradução: Luisa Rabolini

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