domingo, 24 de março de 2019

Antes que seja tarde

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Temos que agir antes que seja tarde demais. Jesus está vivo no meio de nós.
Temos que agir antes que seja tarde demais. Jesus está vivo no meio de nós. (Pixabay)
Por José Antonio Pagola*

Tinha passado muito tempo desde que Jesus se apresentou em sua cidade, Nazaré, como profeta, enviado pelo espírito de Deus, para anunciar aos pobres a boa nova. Continua repetindo incansavelmente sua mensagem: 'Deus está próximo, abrindo caminho para fazer um mundo mais humano para todos'.

Porém, é realista. Jesus sabe bem que Deus não pode mudar o mundo sem que que as pessoas mudem. Por isso, esforça-se em despertar nas pessoas a conversão: “Convertei-vos e acreditai nesta boa nova”. Esse empenho de Deus em fazer um mundo mais humano será possível se respondermos acolhendo o seu projeto.

Passa-se o tempo e Jesus observa que as pessoas não reagem à sua chamada como seria o seu desejo. São muitos os que vêm para o ouvir, mas não se abrem ao “reino de Deus”. Jesus vai insistir. É urgente mudar antes que seja tarde demais.

Baseando-se neste contexto, segue uma pequena parábola. O proprietário de um terreno tem plantada uma figueira no meio da sua vinha. Ano após ano, vem procurar frutas e não consegue encontrá-las. Sua decisão parece a mais sensata: a figueira não produz frutos e está a ocupar inutilmente o terreno. O mais razoável é cortá-la.

Mas o encarregado do corte reage de forma inesperada. Por que não deixar a vinha? Ele conhece aquela figueira, a viu crescer e cuidou dela. Não queria que morresse. Ele decidiu cuidar da vinha, dedicando mais tempo e cuidado, a fim de verificar se daria frutos.

A história é interrompida abruptamente. A parábola fica em aberto. O dono da vinha e seu encarregado desaparecem de cena. É a figueira que decidirá seu destino final. Entretanto, receberá mais cuidados do que nunca daquele agricultor. Tudo isso nos faz pensar em Jesus: “aquele que veio para procurar e salvar o que foi perdido”.

O que se necessita, atualmente na Igreja, não é apenas introduzir pequenas reformas, e, sim, promover o “aggiornamento” ou cuidar da adaptação aos nossos tempos. Precisamos de uma conversão a nível mais profundo Um “coração novo”, uma resposta responsável e decidida à chamada de Jesus para entrar na dinâmica do Reino de Deus.

Temos que agir antes que seja tarde demais. Jesus está vivo no meio de nós. Como o encarregado da vinha, ele cuida das nossas comunidades cristãs, cada vez mais frágeis e vulneráveis. Ele nos alimenta com o Evangelho e nos sustenta com o seu Espírito.

Devemos olhar para o futuro com esperança. Ao mesmo tempo, vamos criando novo clima de conversão e renovação, que tanto necessitamos, e que os decretos do Concílio Vaticano não conseguiram, até agora, consolidar na Igreja.

*José Antonio Pagola é padre e tem dedicado a sua vida aos estudos bíblicos, nomeadamente à investigação sobre o Jesus histórico. Nascido em 1937, é licenciado em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma (1962), licenciado em Sagradas Escrituras pelo Instituto Bíblico de Roma (1965), e diplomado em Ciências Bíblicas pela École Biblique de Jerusalém (1966). Professor no seminário de San Sebastián (Espanha) e na Faculdade de Teologia do Norte de Espanha (sede de Vitória), foi também reitor do seminário diocesano de San Sebastián e vigário-geral da diocese de San Sebastián.

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