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Mesmo perdendo fiéis, o cristianismo ainda exerce grande influência no imaginário religioso dos povos.
Na vida de muita gente, a causa de Jesus ainda pulsa e é isso que torna o
cristianismo possível e vivo. (Arquidiocese de BH/Flickr)
Por Felipe Magalhães Francisco*
As estatísticas mostram que o cristianismo continua sendo majoritário no mundo. Mesmo com o crescimento considerável daqueles e daquelas que se reconhecem como agnósticos ou ateus, bem como o vertiginoso número das pessoas que se convertem ao islã, o cristianismo continua expressivo, em números. No catolicismo, a eleição de um papa latino-americano é sinal da força que o continente, atualmente, tem para a religião. A queda no número de fiéis no catolicismo é tema constante. O neopentecostalismo cresce, sobretudo em regiões com altos índices de pobreza, mas este crescimento não significa adesão perene a essas igrejas. Mesmo perdendo fiéis, o cristianismo ainda exerce grande influência no imaginário religioso dos povos.
Há algo, no entanto, que devemos perguntar: a confissão religiosa de pertença a uma comunidade cristã significa adesão existencial à causa daquele que é reconhecido como o fundador da Igreja cristã, Jesus Cristo? A resposta é, certamente, negativa. Ainda existe um número considerável de pessoas que se confessam cristãs, sobretudo no catolicismo, por uma religião de herança familiar, sem outros significados concretos para a vida dessas pessoas. Também as igrejas estão cheias de pessoas que vivem as práticas religiosas que compõem o sistema de crença, mas que ainda não alcançaram uma experiência profunda de transformação existencial e de comprometimento com o Evangelho, tal como compreendemos como sendo espiritualidade. A pergunta de Jesus, aqui, é interpelativa: “O Filho do Homem, quando vier, será que vai encontrar fé sobre a terra?” (Lc 18,8).
Diante dessa espécie de crise do cristianismo, que é a dissociação da pertença religiosa com a dimensão existencial e concreta da vida cotidiana, percebemos uma descontinuidade entre a prática religiosa cristã atual e a pregação de Jesus. É próprio das transformações advindas do tempo essa descontinuidade com a pregação original e fundante da religião. Por outro lado, em meio a essa descontinuidade, há um fio fundamental e inquebrantável, que garante a continuidade da fé e que mantém vivo o projeto de Jesus. Nos meios populares, em meio às comunidades, entre lideranças, não é difícil percebermos a força que a fé e o seguimento da pessoa de Jesus Cristo têm. Na vida de muita gente, a causa de Jesus ainda pulsa e é isso que torna o cristianismo possível e vivo. É por esse sinal de continuidade entre a motivação primeira e a atualidade do cristianismo, que a missão cristã de anúncio e testemunho do Reino de Deus não deve esmorecer, mas sempre se ressignificar. É nessa perspectiva que propomos nosso Dom Especial desta semana.
Os tempos em que vivemos podem parecer complicados e, em muitos sentidos, de fato são. Mas a fé cristã continua possível e, diríamos, necessária. Ajuda-nos a refletir sobre a fé em Jesus em nossos tempos o artigo Crer em Jesus Cristo em tempos de distopia, de César Thiago do Carmo Alves. Partindo do conceito filosófico da distopia, o autor nos ajuda a compreender nosso tempo e o modo como a fé cristã pode iluminá-lo.
A fé cristã pressupõe a existência. Rodrigo Ferreira da Costa nos propõe refletir sobre a necessidade de se Viver pela fé e não numa fantasia espiritual. Diante do risco, sempre constante e cada vez mais atual, de a fé cair numa exterioridade estéril, é preciso voltar à experiência profunda de escutar Deus, que se revela no rosto do outro.
A fé cristã pressupõe seguimento. Seguir Jesus é trilhar os seus passos, dedicando a vida à evangelização: ao anúncio do Reino de Deus. É a esse respeito que o terceiro artigo de nosso Dom Especial se dedica: Evangelização se faz com testemunho, de Antônio Ronaldo Vieira Nogueira. A evangelização, nascida do testemunho, está pautada em três critérios fundamentais, dos quais nos fala o artigo: o amor, a alegria e o serviço.
Boa leitura!
*Felipe Magalhães Francisco é teólogo. Articula a Editoria de Religião deste portal. É autor do livro de poemas Imprevisto (Penalux, 2015). E-mail: felipe.mfrancisco.teologia@gmail.com.
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