terça-feira, 16 de abril de 2019

Angústia toma conta da 'Cidade das Luzes' que mergulha em sombrio pesar por Notre-Dame

Homem olha para a emblemática catedral de Notre-Dame em Paris em chamas.
Um incêndio de grandes proporções atingiu na segunda-feira (15) a catedral, monumento mais visitado da França e Patrimônio Mundial da Humanidade desde 1991.
Homem olha para a emblemática catedral de Notre-Dame em Paris em chamas.
Homem olha para a emblemática catedral de Notre-Dame em Paris em chamas. (AFP)
PARIS - Parisienses angustiados e turistas atônitos observavam descrentes nesta segunda-feira enquanto um imenso incêndio destruía a catedral de Notre-Dame em Paris, um dos monumentos mais amados do mundo.

Confira o vídeo: Notre-Dame em chamas
Milhares de observadores se aglomeraram nas pontes e margens do rio Sena, mantidos à distância por um cordão de isolamento montado pela polícia, enquanto as chamas engoliam o telhado da catedral.

“Estou devastada”, disse Elizabeth Caille, de 58 anos, que mora perto da catedral. “É um símbolo de Paris. É um símbolo da Cristandade. É todo um mundo que desaba.”

Com o cair da noite na capital francesa, as chamas laranjas que se erguiam do coração da catedral do século 12 lançavam um brilho assustador sobre os vitrais e as torres de pedra.

Observadores embasbacados permaneciam imóveis enquanto digeriam a escala da catástrofe, questionando se a catedral iria sobreviver à noite enquanto nuvens de fumaça se espalhavam pelo céu. Alguns estavam visivelmente emocionados.

“Nunca será a mesma”, disse Samantha Silva, de 30 anos, com lágrimas escorrendo de seus olhos enquanto contava que sempre trazia os amigos em visita a Paris para conhecer a catedral.

Construída ao longo de um século com início ao redor de 1160, Notre Dame é considerada pelos historiadores como um dos melhores exemplares da arquitetura gótica francesa.

Notre Dame sobreviveu ao saque durante uma revolta de huguenotes no século 16, à pilhagem durante a Revolução Francesa nos anos 1790 e à negligência parcial até a publicação do romance “O Corcunda de Notre Dame”, em 1831, que trouxe renovado interesse pela catedral e levou a uma grande obra de restauro iniciada em 1844.

“É horrível, é uma história de 800 anos virando fumaça”, disse o turista alemão Katrin Recke.

"Sensação de bombardeio"

Quando Philippe Marsset, vigário geral da arquidiocese de Paris, entrou em Notre-Dame após o incêndio teve a "sensação de um bombardeio". Ele observou os vitrais quebrados e um buraco acima do coro, provocado pela queda do pináculo (a flecha), e símbolo da catedral.

"Há 850 anos esta igreja foi construída, resistiu às guerras, aos bombardeios, a tudo", afirmou o religioso, ordenado padre nesta catedral há 31 anos.

Ao entrar no local durante a noite, com o incêndio apenas sob controle e focos de chamas ainda ardendo, "tive a sensação de estar diante de um bombardeio", repete.

"Tudo estava escuro e ao fundo estava a grande cruz amarela iluminada pelas chamas. Era impressionante!", descreve o vigário.

"À direita da cruz há uma estátua de Maria. Está de pé, está a cruz e Nossa Senhora, ali, no coração de Notre-Dame", conta.

E no meio de tudo isto, um "robô lançava água". E havia "faíscas provocadas pelo chumbo derretido caindo do teto".

"Durante toda a noite eu vi homens passando com lágrimas nos olhos. Pensei nesta imagem: é um caos, mas não pode nos levar ao nocaute".

Mas a primeira palavra que vem a sua cabeça quando recorda do momento do incêndio é "inferno". O fogo começou pouco depois do final da missa.

"Não é Notre-Dame dos católicos, é Notre-Dame da França, é Notre-Dame do mundo: a igreja queima e o mundo inteiro começa a chorar".

"Os bombeiros, heróis"

Para o vigário geral esta "não é uma pequena igreja danificada, é o símbolo da história da França e de Paris".

"Esta igreja é tão simbólica, os quilômetros são contados a partir de Notre-Dame, é o umbigo de Paris".

"Todos estamos estupefatos, foi mais que milagroso, uma intervenção divina", completou, antes de chamar os bombeiros de "heróis".

Por ocasião da Semana Santa, na qual os cristãos celebram a ressurreição de Jesus Cristo, "havia missas programadas para quarta-feira, quinta-feira e sexta-feira", recorda.

"Ainda não sabemos onde vamos realizá-las. É como se tivessem provocado danos a nossa mãe".

Um pouco desorientado, o religioso aponta para a catedral: "Minha cama está lá. Esta manhã, estou na cabeceira de Nossa Senhora, que chora".

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Reuters/AFP/DomTotal.com

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