terça-feira, 9 de abril de 2019

Não deveria ser assim

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Sabemos que o seguimento de Jesus é autêntico quando a palavra de Cristo é guardada. E sua palavra é que nos amemos uns aos outros.
Lançamento da Campanha da Fraternidade pela CNBB.
Lançamento da Campanha da Fraternidade pela CNBB. (Marcelo Camargo/ Agência Brasil)
Por Tânia da Silva Mayer*

O tempo da quaresma vai se encaminhando para o fim com a aproximação das celebrações pascais na vida das comunidades cristãs. Ao longo desses dias, as liturgias dominicais estiveram impregnadas da Palavra de Deus que apelava para a conversão dos corações. Uma oportunidade ímpar para rever a própria vida, perceber os limites para o autêntico segmento de Jesus e empreender uma transformação verdadeira das ações, dos gestos, das palavras e dos pensamentos cotidianos. O tempo da quaresma é propício para o apelo de conversão porque está amparado por ritos, símbolos e palavras que fomentam esse importante movimento que precisa acontecer não somente durante este tempo favorável, mas ao longo da vida de cada pessoa que escolheu Jesus Cristo como Mestre e Senhor. Esse ano, a Campanha da Fraternidade veio ajudar a Igreja no Brasil a refletir, na ótica de uma Igreja em saída, o quão importante é a conversão para o bem comum, sobretudo com vistas à defesa dos direitos que mantém a vida dos pobres e excluídos da sociedade.

Mesmo diante desse apelo para uma verdadeira mudança na vida, ainda há sinais de que o tempo favorável é só mais um acontecimento no calendário litúrgico da Igreja. Não há dúvidas de que o Espírito é capaz de superar quaisquer barreiras que impeçam o corajoso progresso na fé em Jesus, que ele penetre os lugares mais inacessíveis do ser humano ajudando-o a dar passos de acolhida da novidade do Reino de Deus. Mas mesmo diante da fé inabalável na graça de Deus que superabunda em todas as realidades de pecado, ainda nos vemos atônitos com o comportamento anticristão de alguns fiéis, mesmo durante o tempo que convoca à conversão. Espanta o número dos que saem do armário da maldade com linguagens chulas e com discursos de ódio que afirmam com todas as letras quererem eliminar a vida de seus divergentes. Claramente, assumem posições segundo as quais os outros que pensam e agem de maneira diferente devem ser mortos. Qualquer pessoa no exercício da lógica saberia que essas posições estão infinitamente distantes do Evangelho de Jesus, escandalizam a fé cristã e jamais podem ser justificadas à luz do mandamento do amor. Não deveria ser assim.

Não é digno da fé que professa com a boca aquele que no seu íntimo procura a morte de seus divergentes. Aos inimigos, Jesus ensina que também a eles nós devemos amar. Não com um amor romântico de televisão, mas com um amor que vai às últimas consequências doando a própria vida se preciso for. Precisamente, o mandamento novo consiste em amar como o próprio Jesus amou a humanidade, e ele é a chave para reconhecer quem, de fato, é discípulo e discípula do Mestre na caminhada para o Reino. Portanto, a conversão urgente da qual estamos todos precisados é a do ódio para o amor, da maldade para a bondade, da violência para a paz. A quaresma irá acabar, mas o sol nascerá todos os dias nos oferecendo a oportunidade de sermos pessoas melhores do que temos sido. O convite à conversão nos acompanhará até o fim de nossas vidas e Jesus estará sempre a bater na porta de nossos corações para entrar e ficar conosco. Que sejamos capazes de nos abrir a essa dignidade.

*Tânia da Silva Mayer é mestra e bacharela em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE); graduanda em Letras pela UFMG. Escreve às terças-feiras. E-mail: taniamayer.palavra@gmail.com.

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