quarta-feira, 15 de maio de 2019

Quem não gosta de Francisco

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Uma batalha política, espiritual e teológica de grande envergadura está sendo travada contra a igreja de Roma e seu bispo. Não por acaso ou por uma distorção midiática: mas por razões teológicas, espirituais e políticas, que nessas últimas horas fornecem várias evidências.

O comentário é de Alberto Melloni, professor da Universidade de Modena-Reggio Emilia e diretor da Fundação de Ciências Religiosas João XXIII, de Bolonha, publicado por la Repubblica, 13-05-2019. A tradução é de Luisa Rabolini. 

O amálgama reacionário (anti) europeu que há anos tenta se apoderar do tradicionalismo católico para torná-lo a cola ideológica das direitas, descendo da Polônia ao longo das terras dos Habsburgos até Milão, só poderia acabar em Roma. Mas em Roma, onde contava seduzir um sistema eclesiástico com oblíquas mensagens fundamentalistas, encontrou Francisco. E desencadeou contra ele uma luta que quer atingir através de sua pessoa toda a Igreja.

Francisco, jesuíta combativo, não desistiu da luta e não se assustou diante do silêncio dos bispos: enfrentou de cara aberta uma campanha feita de manipulações, dúvidas, memoriais, pseudoepígrafes, até acusações de heresia. E ganhou trazendo os adversários para o seu terreno: que é o da autenticidade evangélica sobre a qual move seus homens - Krajewski é um deles - com implacável leveza.

Em seu discurso de 9 de maio à diocese de Roma - digno de Gregorio Magno - explicou que a igreja não deve reorganizar suas confusões: ela deve, em vez disso, "sustentar o desequilíbrio" e livrar-se do funcionalismo, ouvindo o "grito das pessoas". O que o Papa fez ao receber a família de Imer Omerovic e Senada Sejdovic (os "roms de Casal Bruciato") com um amor que não pode ser simulado.

A palavra e o gesto papal tiveram duas respostas. Uma foi a do Cardeal Krajewski que - claramente dotado de coragem e chaves de fenda de marca rigorosamente bergogliana - foi religar rocambolescamente a luz em um edifício ocupado por famílias que ele já conhece e frequenta desde que Francisco confiou-lhe a tarefa de levar aos pobres, não o dinheiro do Papa, mas seu amor. Não é, portanto, um gesto teatral ou arranjado para o caso, mas um bom exemplo "pontifício": que, em teoria, o expõe ao risco de um processo penal que se acontecer teria um valor epocal.

Depois de tantas denúncias de sacerdotes e prelados por violências, acobertamentos e más ações, ter um cardeal denunciado por ter levado a crianças a energia elétrica necessária para assistir aos desenhos animados e conservar o leite na geladeira seria um milagre de Dom Di Liegro e, de qualquer forma, uma graça para o catolicismo. Por enquanto, chegou uma dose padrão de propaganda salviniana: que ataca Krajewski, mesmo sabendo que, ser insolente com ele, significa ser insolente com o próprio Papa. Mas, como o caso Arata mostrou, existe um sistema de relações "curtas" com os grupos antibergoglianos aos quais obviamente uma parte da Liga não pode se dar ao luxo de desobedecer: e se vier a ordem de atacar o Papa, algo que na Itália nunca costuma ser feito, colocando Krajewski na mira, ele deve fazê-lo.

A outra resposta foi dada por Forza Nuova com uma manifestação que perturbou o Angelus do Papa na Praça São Pedro. Um gesto grave que não se reduz a uma palhaçada fascista. Porque profanar um templo de oração após a série de atentados que atingiram os fiéis na sinagoga, na mesquita ou na igreja, significa estar perigosamente inconsciente do ato que está fazendo e, portanto, manipulável por qualquer titereiro ou estar perigosamente ciente disso e, portanto, participar do seu lento avanço.

Apontar a pessoa do pontífice como digna de uma vingança supremacista em território italiano (toda a via della Conciliazione e a praça estão sob jurisdição italiana) requer gestos inequívocos das autoridades encarregadas da ordem pública e da magistratura. Caso contrário, eles correm o risco de o papa enviar Krajewski para cortar-lhes a luz.

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