domingo, 2 de junho de 2019

A benção de Jesus

Reflexão sobre o Evangelho do Domingo da Ascenção - Lucas 24,46-54.


Jesus volta ao Pai, levantando suas mãos e abençoando seus discípulos. É seu último gesto.
Jesus volta ao Pai, levantando suas mãos e abençoando seus discípulos. É seu último gesto. (Jeremy Perkins/ Unsplash)
Por José Antonio Pagola*
São os últimos momentos de Jesus com os seus. Em seguida os deixará para entrar definitivamente no mistério do Pai. Já não os poderá acompanhar pelos caminhos do mundo como o fez na Galileia. Sua presença não poderá ser substituída por ninguém.
Jesus só pensa que chegue a todos os povos o anúncio do perdão e da misericórdia de Deus. Que todos escutem sua chamada à conversão. Ninguém deve sentir-se perdido. Ninguém deve viver sem esperança. Todos devem saber que Deus compreende e ama sem fim seus filhos e filhas. Quem poderá anunciar essa Boa Nova?
Segundo o relato de Lucas, Jesus não pensa em sacerdotes ou bispos. Nem em doutores ou teólogos. Quer deixar na terra "testemunhas". Isto é o primeiro: "Vós sois testemunhas dessas coisas". Serão testemunhas de Jesus os que comunicarem sua experiência num Deus bom e contagiarem com seu estilo de vida, trabalhando por um mundo mais humano.
Mas Jesus conhece bem seus discípulos. São fracos e covardes. Onde encontrarão a audácia para serem testemunhas de alguém que foi crucificado pelo representante do Império e pelos dirigentes do Templo? Jesus tranquiliza-os: "Eu vos enviarei o dom prometido pelo meu Pai". Não lhes vai faltar a "força do alto". O Espírito de Deus os defenderá.
Para expressar graficamente o desejo de Jesus, o evangelista Lucas descreve sua partida deste mundo de forma surpreendente: Jesus volta ao Pai, levantando suas mãos e abençoando seus discípulos. É seu último gesto. Jesus entra no mistério insondável de Deus e sobre o mundo desce sua bênção.
Os cristãos esqueceram que somos portadores da bênção de Jesus. Nossa primeira tarefa é ser testemunhas da bondade de Deus, manter viva a esperança, não nos rendermos ante o poder do mal. Este mundo que às vezes parece um "inferno maldito" não está perdido. Deus olha para ele com ternura e compaixão. Também hoje é possível fazer o bem, difundir a bondade. É possível trabalhar por um mundo mais humano e uma convivência mais saudável. Podemos ser mais solidários e menos egoístas. Mais austeros e menos escravos de dinheiro. A mesma crise econômica pode levar-nos a procurar urgentemente uma sociedade menos corrupta.
Jesus é uma bênção e as pessoas precisam sabê-lo. O primeiro é promover uma "pastoral da bondade". Temos que sentir-nos como testemunhas e profetas desse Jesus que passou a vida semeando gestos e palavras de bondade. Assim despertou no povo da Galileia a esperança em um Deus Bom e Salvador. Jesus é uma bênção e as pessoas devem saber disso.
*José António Pagola é padre e tem dedicado a sua vida aos estudos bíblicos, nomeadamente à investigação sobre o Jesus histórico. Nascido em 1937, é licenciado em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma (1962), licenciado em Sagradas Escrituras pelo Instituto Bíblico de Roma (1965), e diplomado em Ciências Bíblicas pela École Biblique de Jerusalém (1966). Professor no seminário de San Sebastián (Espanha) e na Faculdade de Teologia do Norte de Espanha (sede de Vitória), foi também reitor do seminário diocesano de San Sebastián e vigário-geral da diocese de San Sebastián.

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