É preciso ter discernimento para não se deixar enganar por falsos pastores.
![Decisões ruins, consequências nefastas! Boa parte da sociedade enganada, muitas vezes por aqueles que deveriam ser os bons pastores, fez com que todo mundo estivesse à mercê da ideologia da destruição e da morte.](https://domtotal.com/img/noticias/2019-07/1360987_406801.jpg)
Boa parte da sociedade enganada, muitas vezes por aqueles que deveriam ser os bons pastores, fez com que todo mundo estivesse à mercê da ideologia da destruição e da morte. (Patrick Schneider/ Unsplash)
Por Felipe Magalhães Francisco*
A sabedoria popular tem insistido há muito que não é possível semear vento e colher outra coisa senão ventania. Se parássemos para discernir bem, o que a sabedoria popular construiu como parâmetro para o bem-viver, não cairíamos nem em metade dos problemas que enfrentamos no cotidiano. Discernimento é uma palavra deveras importante para a fé cristã: buscar compreender o querer de Deus, em meio aos sinais cotidianos da vida, para melhor vivermos. Esse discernimento, a ser praticado a partir de coisas simples, deve chegar ao ponto de nortear as decisões mais importantes e significativas da vida.
Eleições políticas entram nessas decisões, com as quais deveríamos nos pautar pelo bom senso, depois do necessário discernimento. Na democracia, a resposta vem de modo bastante rápido: se votamos bem, colhemos os bons frutos; se votamos mal, já bem o sabemos, historicamente em nosso país... Agora, o que há de querer de Deus – pelo menos do Deus no qual acreditam os cristãos e cristãs – com as questões políticas? Imediatamente, nada, nós já sabemos.
Contudo, se há um querer divino a nosso respeito, ou seja, se há um sonho de Deus para com a humanidade, é que nós vivamos na dignidade para qual ele nos trouxe à vida. Nesse sentido, os caminhos que escolhemos trilhar dizem respeito diretamente à realização do sonho de Deus para conosco, ou não. Quando elegemos pessoas comprometidas com os próprios interesses e com os interesses dos ricos e poderosos, quem mais paga o preço dessa decisão são os historicamente injustiçados e injustiçadas da história. E a dignidade para a qual fomos criados torna-se cada vez mais distante no horizonte da vida.
Não há dúvidas a respeito da importância de pessoas com vinculação religiosa, no que diz respeito à força que exercem com seus votos. Não é à-toa que, a cada eleição, políticos se aproximam de líderes religiosos com grandes influências, para buscar apoio: tem sido assim em parte à direita e à esquerda. Cristãos e cristãs representam uma parte que não deve ser desconsiderada, no quociente eleitoral. Agora, a maneira como os cristãos e cristãs exercem a sua força cidadã, muitas vezes compreendida a partir do que compreendem ser a fé, é fundamental.
As últimas eleições mostraram de maneira não muito positiva a incidência da religião, na escolha política. Líderes religiosos usaram de sua influência, e da confiança que os fiéis neles depositam, para promover um discurso radicalizado que manifestava ódio. Abusaram daquilo que dizia ser a vontade de Deus, para alçar ao poder aquele que achavam que seria mais conveniente aos próprios interesses. E, assim, uniram-se posturas absurdas: o nome de Deus em slogan de campanha e um versículo bíblico, com a celebração e incitação à violência, a destruição de direitos, a perseguição a adversários, o subjugar de minorias pelas maiorias, e a cultura da tortura e da morte.
De tempos em tempos caímos em situações delicadas, nas quais se torna urgente lembrar o fato de que não há salvadores da Pátria. Agora, boa parte da sociedade enganada, muitas vezes por aqueles que deveriam ser os bons pastores, fez com que todo mundo estivesse à mercê da ideologia da destruição e da morte. São as consequências da democracia e é preciso, agora, lidarmos com elas, buscando alternativas legítimas que revelem nossa força e caminhos possíveis para estarmos mais pertos do bem-comum, na urgência da defesa dos empobrecidos e empobrecidas que estão mais suscetíveis ao descaso de quem gere a coisa pública.
Há cinco meses da atual gestão, quem continua a dizer que o atual governo corresponde à vontade de Deus sobre o nosso país, desconhece profundamente o Evangelho ou age de má fé. Haja discernimento dos espíritos! O atual governo foi eleito graças aos votos de uma parcela da sociedade. Ponto. É preciso, pois, que toda a sociedade lide com as consequências dessa escolha, buscando pelos meios legítimos atuar em vista do bem de todos e todas, pois isso faz parte do jogo democrático. Mas Deus, definitivamente, nada tem a ver com isso. Aliás, se esse Deus é o Deus anunciado por Jesus Cristo, ele jamais se coadunaria com um sistema de destruição e morte. Estamos largados à nossa própria sorte, essa é a verdade! Não nos iludamos com a pregação de falsos profetas, nem nos deixemos guiar por falsos pastores. Assumamos, pois, o nosso legítimo papel e nos comportemos como cidadãos e cidadãs responsáveis, que não colocam no colo de Deus, a responsabilidade pelas consequências de nossas próprias escolhas e, pior, de nossas más escolhas!
*Felipe Magalhães Francisco é teólogo. Articula a Editoria de Religião deste portal. É autor do livro de poemas Imprevisto (Penalux, 2015). E-mail: felipe.mfrancisco.teologia@gmail.com.
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