segunda-feira, 3 de junho de 2019

Decisões ruins, consequências nefastas!

É preciso ter discernimento para não se deixar enganar por falsos pastores.


Boa parte da sociedade enganada, muitas vezes por aqueles que deveriam ser os bons pastores, fez com que todo mundo estivesse à mercê da ideologia da destruição e da morte.
Boa parte da sociedade enganada, muitas vezes por aqueles que deveriam ser os bons pastores, fez com que todo mundo estivesse à mercê da ideologia da destruição e da morte. (Patrick Schneider/ Unsplash)
Por Felipe Magalhães Francisco*
A sabedoria popular tem insistido há muito que não é possível semear vento e colher outra coisa senão ventania. Se parássemos para discernir bem, o que a sabedoria popular construiu como parâmetro para o bem-viver, não cairíamos nem em metade dos problemas que enfrentamos no cotidiano. Discernimento é uma palavra deveras importante para a fé cristã: buscar compreender o querer de Deus, em meio aos sinais cotidianos da vida, para melhor vivermos. Esse discernimento, a ser praticado a partir de coisas simples, deve chegar ao ponto de nortear as decisões mais importantes e significativas da vida.
Eleições políticas entram nessas decisões, com as quais deveríamos nos pautar pelo bom senso, depois do necessário discernimento. Na democracia, a resposta vem de modo bastante rápido: se votamos bem, colhemos os bons frutos; se votamos mal, já bem o sabemos, historicamente em nosso país... Agora, o que há de querer de Deus – pelo menos do Deus no qual acreditam os cristãos e cristãs – com as questões políticas? Imediatamente, nada, nós já sabemos.
Contudo, se há um querer divino a nosso respeito, ou seja, se há um sonho de Deus para com a humanidade, é que nós vivamos na dignidade para qual ele nos trouxe à vida. Nesse sentido, os caminhos que escolhemos trilhar dizem respeito diretamente à realização do sonho de Deus para conosco, ou não. Quando elegemos pessoas comprometidas com os próprios interesses e com os interesses dos ricos e poderosos, quem mais paga o preço dessa decisão são os historicamente injustiçados e injustiçadas da história. E a dignidade para a qual fomos criados torna-se cada vez mais distante no horizonte da vida.
Não há dúvidas a respeito da importância de pessoas com vinculação religiosa, no que diz respeito à força que exercem com seus votos. Não é à-toa que, a cada eleição, políticos se aproximam de líderes religiosos com grandes influências, para buscar apoio: tem sido assim em parte à direita e à esquerda. Cristãos e cristãs representam uma parte que não deve ser desconsiderada, no quociente eleitoral. Agora, a maneira como os cristãos e cristãs exercem a sua força cidadã, muitas vezes compreendida a partir do que compreendem ser a fé, é fundamental.
As últimas eleições mostraram de maneira não muito positiva a incidência da religião, na escolha política. Líderes religiosos usaram de sua influência, e da confiança que os fiéis neles depositam, para promover um discurso radicalizado que manifestava ódio. Abusaram daquilo que dizia ser a vontade de Deus, para alçar ao poder aquele que achavam que seria mais conveniente aos próprios interesses. E, assim, uniram-se posturas absurdas: o nome de Deus em slogan de campanha e um versículo bíblico, com a celebração e incitação à violência, a destruição de direitos, a perseguição a adversários, o subjugar de minorias pelas maiorias, e a cultura da tortura e da morte.
De tempos em tempos caímos em situações delicadas, nas quais se torna urgente lembrar o fato de que não há salvadores da Pátria. Agora, boa parte da sociedade enganada, muitas vezes por aqueles que deveriam ser os bons pastores, fez com que todo mundo estivesse à mercê da ideologia da destruição e da morte. São as consequências da democracia e é preciso, agora, lidarmos com elas, buscando alternativas legítimas que revelem nossa força e caminhos possíveis para estarmos mais pertos do bem-comum, na urgência da defesa dos empobrecidos e empobrecidas que estão mais suscetíveis ao descaso de quem gere a coisa pública.
Há cinco meses da atual gestão, quem continua a dizer que o atual governo corresponde à vontade de Deus sobre o nosso país, desconhece profundamente o Evangelho ou age de má fé. Haja discernimento dos espíritos! O atual governo foi eleito graças aos votos de uma parcela da sociedade. Ponto. É preciso, pois, que toda a sociedade lide com as consequências dessa escolha, buscando pelos meios legítimos atuar em vista do bem de todos e todas, pois isso faz parte do jogo democrático. Mas Deus, definitivamente, nada tem a ver com isso. Aliás, se esse Deus é o Deus anunciado por Jesus Cristo, ele jamais se coadunaria com um sistema de destruição e morte. Estamos largados à nossa própria sorte, essa é a verdade! Não nos iludamos com a pregação de falsos profetas, nem nos deixemos guiar por falsos pastores. Assumamos, pois, o nosso legítimo papel e nos comportemos como cidadãos e cidadãs responsáveis, que não colocam no colo de Deus, a responsabilidade pelas consequências de nossas próprias escolhas e, pior, de nossas más escolhas!
*Felipe Magalhães Francisco é teólogo. Articula a Editoria de Religião deste portal. É autor do livro de poemas Imprevisto (Penalux, 2015). E-mail: felipe.mfrancisco.teologia@gmail.com.

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