domingo, 16 de junho de 2019

Mistério de bondade

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Reflexão sobre o Evangelho da festa da Santíssima Trindade - João 16,12-15
As três pessoas divinas - Pai, Filho e Espirito Santo - constituem o único Deus.
As três pessoas divinas - Pai, Filho e Espirito Santo - constituem o único Deus. (Reprodução/ Pixabay)
Por José Antônio Pagola*

Ao longo dos séculos, os teólogos têm-se esforçado por aprofundar o mistério de Deus mergulhando conceitualmente na sua natureza e expondo suas conclusões com diferentes linguagens. Mas, com frequência, nossas palavras escondem seu mistério em vez de revelá-lo. Jesus não fala muito de Deus. Oferece-nos simplesmente sua experiência.

A Deus, Jesus chama-Lhe "Pai" e experimenta-o como um mistério de bondade. Vive-o como uma presença boa que abençoa a vida e atrai Seus filhos e filhas para lutar contra o que prejudica os seres humanos. Para Ele, o mistério último da realidade que os crentes chamamos de "Deus" é uma presença próxima e amigável que abre caminho no mundo para construir, conosco e junto a nós, uma vida mais humana.

Jesus nunca separa esse Pai do seu projeto de transformar o mundo. Não pode pensar nele como alguém encerrado no seu mistério insondável, de costas para o sofrimento dos seus filhos e filhas. Por isso, pede aos seus seguidores para se abrir ao mistério desse Deus, acreditar na boa nova do seu projeto, juntar-nos a ele para trabalhar por um mundo mais justo e feliz para todos, e procurar sempre que a sua justiça, a sua verdade e a sua paz reinem cada vez mais no mundo.

Por outro lado, Jesus experimenta-se a Si mesmo como "Filho" desse Deus, nascido para impulsionar na Terra o projeto humanizador do Pai e para o levar à sua plenitude definitiva acima até mesmo da morte. Por isso, procura a todo o momento o que quer o Pai. A sua fidelidade a ele leva-o a buscar sempre o bem dos seus filhos e filhas. Sua paixão por Deus traduz-se em compaixão por todos os que sofrem.

Por isso, toda a existência de Jesus, o Filho de Deus, consiste em curar a vida e aliviar o sofrimento, defender as vítimas e reclamar para elas justiça, semear gestos de bondade, e oferecer a todos a misericórdia e o perdão gratuito de Deus: a salvação que vem do Pai.

Finalmente, Jesus age sempre impulsionado pelo "Espírito" de Deus. É o amor do Pai que o envia para anunciar aos pobres a boa nova do seu projeto salvador. É o alento de Deus o que move a curar a vida. É a sua força salvadora que se manifesta em toda sua trajetória profética.

Este Espírito não se extinguirá no mundo quando Jesus estiver ausente. Ele mesmo promete assim aos Seus discípulos. A força do Espírito os fará testemunhas de Jesus, Filho de Deus e colaboradores do plano salvador do Pai. Assim, os cristãos vivem praticamente o mistério da Trindade.

Traduzido por IHU e publicado originalmente por Religión Digital.

*José Antonio Pagola é padre e tem dedicado a sua vida aos estudos bíblicos, nomeadamente à investigação sobre o Jesus histórico. Nascido em 1937, é licenciado em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma (1962), licenciado em Sagradas Escrituras pelo Instituto Bíblico de Roma (1965), e diplomado em Ciências Bíblicas pela École Biblique de Jerusalém (1966). Professor no seminário de San Sebastián (Espanha) e na Faculdade de Teologia do Norte de Espanha (sede de Vitória), foi também reitor do seminário diocesano de San Sebastián e vigário-geral da diocese de San Sebastián.

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