segunda-feira, 1 de julho de 2019

Crentes, fiquem atentos ao sinal de Jonas!

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É preciso crer apesar de milagres acontecerem, ou não.
É preciso, com a força do Espírito e nossa abertura à configuração à vida de Cristo, mergulhar de modo cada vez mais profundo em nossa experiência de fé. (Free-Photos/Pixabay)
É preciso, com a força do Espírito e nossa abertura à configuração à vida de Cristo, mergulhar de modo cada vez mais profundo em nossa experiência de fé. (Free-Photos/Pixabay)
Por Felipe Magalhães Francisco*

“Essa geração é má; procura um sinal, mas nenhum sinal lhe será dado, exceto o sinal de Jonas (...)” (Lc 11,28). Como esta fala de Jesus é pertinente para comunidades que sobrevivem da espetacularização da fé! De sinais, os atos de poder (“milagres”), em certas religiosidades espiritualistas, tornaram-se critérios de fé. É preciso crer apesar de milagres acontecerem ou não. Uma das grandes interpelações que a fé de Jesus nos faz, é que possamos depositar nossa confiança no Pai, da maneira como ele o fez. É preciso, com a força do Espírito e nossa abertura à configuração à vida de Cristo, mergulhar de modo cada vez mais profundo em nossa experiência de fé. É preciso crer com gratuidade e a partir dela!

Jonas, segundo podemos apreender da narrativa homônima, é um profeta controverso. O significado do seu nome é “pomba” e, por muitas vezes, o verbo “descer” aparece no texto: tão logo, já intuímos que ele voa para baixo! Enviado por Deus a profetizar em Nínive, o profeta assume uma postura controversa: pega o caminho oposto e parte para Társis. Um elemento curioso não se percebe de antemão, no texto: o lugar para onde Jonas fugiu era, na compreensão hebraica do século 4 a.C., símbolo do fim do mundo. O texto insiste em afirmar que Jonas fugia da face do Senhor. Ora, que lugar melhor para isso, que no “fim do mundo”? O drama vivido por Jonas é que ele despreza os estrangeiros: sua visão de mundo e de salvação é o que chamamos de exclusivista.

Buscando fugir de diante da face de Deus, o que Jonas experimenta é um tempo (“três dias e três noites”) de retiro: no ventre de um monstro marinho, ele precisa ficar diante de si mesmo. De lá, ele recobra sua religiosidade e dirige uma prece a Deus, prometendo cumprir os votos que tiver feito. Ele diz que seu coração não se afastou do Templo do Senhor, lugar da habitação divina. Mas, perguntamo-nos, a Palavra do Senhor, será que permanecia com ele? Salvo, Jonas se põe em direção a Nínive. O narrador dá ao leitor uma informação valiosa: Nínive era uma cidade grande que, para ser percorrida, levavam-se três dias. Jonas tem muita pressa: ele percorre a cidade em apenas um dia, anunciando sua destruição. Ele não quer gastar tempo em meio aos estrangeiros, a quem ele despreza.

Outra coisa chama a atenção: o profeta só denuncia, ele não propõe uma alternativa de conversão e salvação. Para ele, não importa se aquele povo é capaz ou não de acolher a Palavra de Deus. Para ele, o destino daquela gente só podia ser um: a danação. Ao contrário do que aparentemente esperava Jonas, o povo estrangeiro acolhe a pregação, inclusive o rei. Todos se mostram receptivos à conversão (mesmo que ela não tenha sido dada como opção aos ninivitas!) e, até mesmo os animais, participam da contrição. Jonas se apressa em sair da cidade e, ainda que tenha havido conversão, ele esperava que Deus inflamasse sua ira contra os ninivitas. Tão desgostoso ficou o profeta ante a ação misericordiosa de Deus, que revogou a condenação àquela cidade, Jonas revela preferir morrer a ver aqueles estrangeiros sendo poupados. Aos leitores e leitoras, um conselho: vale à pena ler os quatro capítulos que compõem a novela...

De nossa parte, propomos uma interpretação. Troquemos estrangeiros por fiéis de outras religiões, e teremos, na personagem Jonas, o desenho ideal de muitos cristãos e cristãs, que se compreendem detentores da salvação. Nas visões exclusivistas, ela não é graça de Deus. Irmanados à pessoa e à missão de Jesus, precisamos viver nossa vocação batismal de profetas, com a responsabilidade de quem experimenta, na própria vida, a graça de Deus. E é essa graça que anunciamos. Com Jesus, aprendemos que essa graça é manifestação do amor, o que deve pautar nossas ações. Um verdadeiro profeta não apenas denuncia, mas também anuncia. Se não há notícias que nutram a esperança, a profecia é manca. Uma das perguntas que brotam ao fim da leitura do Livro de Jonas é se o profeta se converteu, ou não; se ele começou a voar para o alto. Eis, aqui, o sinal de Jonas que devemos perceber: nossa vida e pregação cristãs, estão pautadas na graça de Deus e dela estão a serviço? Este é o verdadeiro “milagre” que devemos viver!

*Felipe Magalhães Francisco é teólogo. Articula a Editoria de Religião deste portal. É autor do livro de poemas Imprevisto (Penalux, 2015). E-mail: felipe.mfrancisco.teologia@gmail.com.

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