domingo, 7 de julho de 2019

Gentileza e rudeza

É essencial que qualquer humano, ao lidar com outro humano, se tratem com gentileza.



Os humanos já não se olham quase todos preferindo ficar imersos em seu mundo interior, triste, sombrio, sem amor.
Os humanos já não se olham quase todos preferindo ficar imersos em seu mundo interior, triste, sombrio, sem amor. (Paulo Whitaker/Reuters)
Por Evaldo D'Assumpção*
Gentileza é uma palavra que vem do latim gentilis, significando pessoas de uma mesma família. Como se supunha que pessoas da mesma origem familiar se tratariam com extrema cordialidade, surgiu esse nome para designar a cordialidade no trato com as pessoas. E, por extensão, também na forma de utilizar objetos, e de lidar com situações. Mesmo considerando que hoje não é tão usual assim, as pessoas de uma mesma família se tratarem com cordialidade, a palavra ficou. Da mesma forma como ficou a importância das pessoas serem gentis, umas com as outras, independentemente de parentesco, amizade ou até de uma apresentação formal. 
É essencial que qualquer humano trate o outro com gentileza. Afinal, somos de uma mesma espécie, a qual se considera bem mais evoluída que as demais. Se somos, tenho dúvidas... Todavia, temos condições e qualidades que os outros seres não têm, como um cérebro capaz de pensar, refletir, emocionar, sentir e saber o que sente e porque está sentindo.
Não obstante, a cada ano que passa os humanos perdem um pouco mais de sua gentileza. Em tempos antanhos, pessoas se cruzavam pelas ruas e se cumprimentavam, mesmo sendo totalmente desconhecidas. Afinal, um “bom dia”, “boa tarde”, “boa noite” nunca arrancou pedaço de ninguém. E também é bom saber que todas as palavras têm energia própria, e quando digo “bom dia” a alguém, certamente ele receberá uma energia positiva que lhe ajudará a realizar aquilo de que necessita. E se ela, igualmente nos responde, da mesma forma receberemos daquela energia positiva. E seremos duas pessoas bem destinadas a terem um bom dia.
Se alguém duvida dessas energias, leia um pouco sobre física quântica, e certamente descobrirá coisas muito interessantes para fortalecer essa necessidade de darmos e recebermos energias positivas, através dos nossos “bons dias!” e equivalentes.
Por outro lado, também existem energias negativas, e quando desejamos o mal para uma pessoa, obviamente não teremos o poder de fazer aquele mal acontecer, entretanto estaremos enviando à ela um quantum de energia negativa, que certamente poderá lhe causar obstáculos a ser feliz. O problema é que essas energias têm uma trajetória de duas vias e o que desejamos aos outros, de certa forma nos predispõe a receber idêntico quantum de energia que nos virá deles, diretamente ou por ressonância. Por isso, as pessoas mal-humoradas nos incomodam.
Sempre aprendi que a sabedoria popular é bem mais elevada do que parece, mesmo sem ter sido adquirida em livros ou escolas. Ela vem da intuição, quem sabe até de energias outras que assimilamos sem perceber. Certamente, os mais vividos se recordam de que, nas charges e historinhas em quadrinhos, quando se queria representar um olhar de raiva para outra pessoa, eram colocadas várias setinhas ou facas como que saindo dos olhos da pessoa irada em direção à outra. De onde surgiu essa ideia? 
Por outro lado, fala-se muito em mau olhado, como se alguém tivesse poderes para causar o mal a outra pessoa. Isso não é real, mas os sentimentos negativos voltados contra alguém são energias que podem causar desequilíbrios ao mundo energéticos da outra. Há pessoas que relatam ter possuído uma planta muito bonita e, recebendo a visita de alguém que a manuseou com sentimentos de inveja, 24 horas depois a planta estava completamente seca. Coincidência? Talvez, mas a morte da planta foi real.
Voltando à questão da cortesia, observa-se hoje, nitidamente, a infelicidade estampada no rosto de muita gente com quem cruzamos pelas ruas. Carrancudas, apressadas, olhar perdido ou nublado, como se procurassem um raio de sol, mesmo em dias ensolarados. Já não se pede “com licença” para passar onde está alguém, já não se fala “agradecido, muito obrigado” quando se recebe qualquer coisa. Jovens não cedem lugar para os idosos, gestantes ficam desconfortavelmente de pé onde todas as cadeiras estão ocupadas. Profissionais de atendimento às pessoas, não têm a menor paciência em fazê-lo, e, se lhes pedem alguma informação, não respondem ou o fazem grosseiramente. 
Em consultórios, postos de saúde e assemelhados, atendentes, enfermeiros e até os médicos parecem ali estar por imposição, a contragosto, pois a gentileza de atendimento não faz parte do seu repertório de trabalho. Raramente respondem cumprimentos, e quase nunca tomam a iniciativa de cumprimentar. As pessoas estão cada vez mais rudes, cada vez mais grosseiras, e boa parte desse comportamento está ligado ao uso compulsivo e escravizante dos celulares multifuncionais, que dominam totalmente a atenção, o interesse e as reações das pessoas. 
Os humanos já não se olham – alguns até pelo receio de serem acusados de assédio, outro aspecto deletério para as gentilezas – quase todos preferindo ficar imersos em seu mundo interior, triste, sombrio, sem amor. Andam apressados pelas ruas, enquanto outros se escondem em seus carros de vidro escuro para não serem reconhecidos. Muitos, em seus home-offices (escritórios em casa) fazem todo o seu trabalho com a companhia exclusiva de computadores; estudantes fazem os terríveis cursos à distância, sem qualquer convivência com colegas e formação de novas amizades.
Num mundo já bastante robotizado, também nós já estamos nos tornando máquinas que trabalham insensíveis à natureza, ao meio ambiente, às pessoas que vivem ao nosso redor. E máquinas não são gentis. São apenas engrenagens sem sentimento, sem os cinco sentidos, sem humanidade. Será esse o mundo com que sonhávamos? Será esse o mundo do futuro?
*Médico e escritor.

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