domingo, 14 de julho de 2019

Que sentido tem uma religião tão pouco humana?

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Reflexão sobre o Evangelho do 15º domingo do Tempo Comum - Lc 10,25-37
O decisivo é reagir e
O decisivo é reagir e "aproximar-nos" do que sofre. (Jonathan Kho/ Unsplash)
Por José Antonio Pagola*
Religión Digital

"Sejam compassivos como vosso Pai é compassivo". Essa é a herança que Jesus deixou à humanidade. Para compreender a revolução que quer introduzir na história, temos de ler com atenção seu relato do "bom samaritano". Nele se descreve a atitude que temos de promover, para além das nossas crenças e posições ideológicas ou religiosas, para construir um mundo mais humano.

Na sarjeta de uma estrada solitária, jaz um ser humano, roubado, agredido, despojado de tudo, meio morto, abandonado à sua sorte. Neste ferido sem nome e sem pátria, Jesus resume a situação de tantas vítimas inocentes maltratadas injustamente e abandonadas nas sarjetas de tantos caminhos da história.

No horizonte aparecem dois viajantes: primeiro um sacerdote, depois um levita.Ambos pertencem ao mundo respeitado da religião oficial de Jerusalém. Os dois agem de forma idêntica: "veem o ferido, dão a volta e passam ao lado". Os dois fecham os seus olhos e os seus corações, aquele homem não existe para eles, passam sem parar. Esta é a crítica radical de Jesus a toda a religião incapaz de gerar nos seus membros um coração compassivo. Que sentido tem uma religião tão pouco humana?

Pelo caminho vem um terceiro personagem. Não é sacerdote nem levita. Nem sequer pertence à religião do templo. No entanto, ao chegar, vê o ferido, comove-se e aproxima-se. Então faz por aquele desconhecido tudo o que pode para resgatá-lo com vida e restaurar sua dignidade. Esta é a dinâmica que Jesus quer introduzir no mundo.

O primeiro é não fechar os olhos. Saber "olhar" de forma atenta e responsável para os que sofrem. Esse olhar pode libertar-nos do egoísmo e da indiferença que nos permite viver com a consciência tranquila e a ilusão de inocência no meio de tantas vítimas inocentes. Ao mesmo tempo, "comover-nos" e deixar que o seu sofrimento nos doa também a nós.

Mas o decisivo é reagir e "aproximar-nos" do que sofre, não para nos perguntarmos se tenho ou não alguma obrigação de ajudá-lo, mas para descobrir que é um necessitado que precisa de nós por perto. A nossa ação concreta revelará a nossa qualidade humana. Tudo isso não é teoria. O samaritano do relato não se sente obrigado a cumprir um determinado código religioso ou moral.

Simplesmente responde à situação do ferido, criando todo o tipo de gestos práticos destinados a aliviar o seu sofrimento e a restaurar a sua vida e a sua dignidade. Jesus conclui com estas palavras: "Vai e faz tu o mesmo".

Publicado originalmente por Religión Digital e tradução por IHU.

*José Antonio Pagola é padre e tem dedicado a sua vida aos estudos bíblicos, nomeadamente à investigação sobre o Jesus histórico. Nascido em 1937, é licenciado em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma (1962), licenciado em Sagradas Escrituras pelo Instituto Bíblico de Roma (1965), e diplomado em Ciências Bíblicas pela École Biblique de Jerusalém (1966). Professor no seminário de San Sebastián (Espanha) e na Faculdade de Teologia do Norte de Espanha (sede de Vitória), foi também reitor do seminário diocesano de San Sebastián e vigário-geral da diocese de San Sebastián.

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