terça-feira, 30 de julho de 2019

Papa clama a Deus após maior tragédia mediterrânea do ano: “Por que, Pai?”

Naufrágio de dois barcos, com total entre 250 e 350 imigrantes a bordo, pode ter matado mais de 150 pessoas

Ao rezar neste domingo pelas vítimas de mais um naufrágio de imigrantes no Mar Mediterrâneo, o Papa Francisco clamou a Deus de modo doloroso e arrepiante:
“Por que, Pai?”
Dois barcos, com um total estimado entre 250 e 350 imigrantes a bordo, naufragaram na quinta-feira a 120 km de Trípoli, na Líbia, matando mais de 150 pessoas de acordo com estimativas divulgadas pela ONU. Os números ainda não foram oficialmente confirmados. Até sábado, 55 corpos haviam sido retirados do mar e 134 pessoas tinham sido resgatadas vivas.
O Papa Francisco, que em setembro de 2016 já tinha definido o Mar Mediterrâneo como um “grande cemitério”, derramou seu sofrimento pela enésima tragédia desta onda migratória descontrolada e pediu que os fiéis presentes na Praça São Pedro rezassem pelas vítimas e pelas suas famílias:
“Soube com dor da notícia do dramático naufrágio, ocorrido nos últimos dias, nas águas do Mediterrâneo, em que perderam a vida dezenas de migrantes, incluindo mulheres e crianças. Renovo um apelo sincero para que a comunidade internacional aja com prontidão e decisão, para evitar o repetir-se de tragédias similares e garantir a segurança e a dignidade de todos. Convido vocês a rezarem comigo pelas vítimas e pelas suas famílias. E também, do fundo do coração, a perguntarem: ‘Por que, Pai?'”.

Trágico recorde do ano

Qualquer que venha a ser o número final de mortos oficialmente confirmados, já é a maior tragédia de 2019 no Mar Mediterrâneo.

Líbia, uma tragédia também em terra

Com a Líbia fragmentada pela guerra civil entre milícias após a derrubada do sanguinário ditador Muamar Kadafi, traficantes de seres humanos se aproveitaram do caos no país para transformá-lo na principal plataforma de envio de migrantes forçados e refugiados para o sul da Europa, nas chamadas “viagens da morte” via Mediterrâneo.
A maioria dos migrantes vem de países miseráveis da África subsaariana. A Líbia é usada como ponto de passagem para os embarques, arranjados por máfias que exploram o desespero dos migrantes para lhes vender a arriscadíssima tentativa de uma vida melhor no primeiro mundo.
A União Europeia apoiou a Itália no treinamento da Guarda Costeira da Líbia para que o país passasse a fazer resgates no mar. Por um lado, a medida procura conter o fluxo descontrolado de migrantes que se arriscam mortalmente no Mediterrâneo e cuja quantidade não está sendo absorvida adequadamente pelos países europeus. Por outro, os migrantes que são alcançados em pleno mar pelas forças líbias são levados de volta ao país e submetidos a inúmeras formas de violação dos direitos humanos, tornando o dilema dos migrantes um dos mais dramáticos da história recente da humanidade.
 
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