sexta-feira, 2 de agosto de 2019

A pobreza e a fome como projeto de poder: a institucionalização da desumanidade


A desumanidade do sistema econômico já fez e continua fazendo muitas vítimas.


O empobrecimento e a fome não podem ser um projeto de poder, com o qual devemos conviver sem que pese nossa consciência!
O empobrecimento e a fome não podem ser um projeto de poder, com o qual devemos conviver sem que pese nossa consciência! (Yasuyoshi Chiba / AFP)
Por Felipe Magalhães Francisco*
política deixou, há muito, de ser Política, para servir à economia. Não qualquer modelo econômico: mas aquele idolátrico, que nos faz lembrar do deus Mamon, ao qual se refere, criticamente, a Sagrada Escritura. Não há modelo econômico perfeito. Mas sabemos bem que este que nos rege é desumano e cruel: a partir da pobreza de uma maioria absoluta, o empobrecimento miserável vai se expandindo, para trazer lucros imensuráveis – aos olhos daqueles que sobrevivem com pouco ou quase nada –, para uns poucos.
A desumanidade desse sistema já fez e continua fazendo muitas vítimas. Ainda assim, governos insistem em ceder aos caprichos do deus Mercado, pois é ele quem tudo controla. No fundo, os votos de eleitores de nada valem, se a mão invisível do Mercado não ungir aqueles e aquelas que devem ocupar os cargos no legislativo e executivo (e não nos enganemos, também em lugares estratégicos no judiciário!). Aliado a isso tudo, temos a chaga da corrupção que necrosa nosso sistema político e que deixa à mercê milhões de pessoas afogadas em indignidade, sem poder usufruir de educação, saúde e segurança, além de outros elementos básicos à dignidade da vida.
Constrange e gera indignação quando um presidente da república demonstra ignorar a situação de centenas de milhares de pessoas, a quem ele deveria proteger, constitucionalmente, pelo papel para o qual foi eleito. É bem certo que não há o que se esperar de bom, de quem elogia a tortura e canoniza torturadores. Mas, ainda assim, é estarrecedor que tenhamos que conviver com tais impropérios e desumanidades. A atuação econômica do atual governo já está bem estabelecida: é entreguista, desumana e cruel. E é cada vez mais chancelada por pronunciamentos de um incapaz, que ocupa a cadeira central do país. Para os cristãos e cristãs – e para as pessoas de fé, em geral –, além de desumano, esse governo deve ser considerado também blasfemo, já que se apropria do nome de Deus para produzir injustiças de todo tipo.
Não podemos aceitar! Não podemos compactuar! Uma fé que não nos faça romper com uma postura tal como a do atual presidente da república, não está a serviço da vida nem do bem. O empobrecimento e a fome não podem ser um projeto de poder, com o qual devemos conviver sem que pese nossa consciência!
Para nos inspirar à reflexão, organizamos este Dom Especial, com o qual queremos refletir, profeticamente, a questão do empobrecimento e, mais especificamente, da fome em sua crueza. Abre nossa reflexão, Aldo Reis, com o artigo Pobreza: uma análise antropológica e social, no qual propõe uma leitura do que seja a pobreza e de qual deve ser o papel do Estado diante dessa situação, inspirado pelo princípio da Subsidiariedade, proposto pela Doutrina Social da Igreja. Tânia Mayer, no artigo A fome ensina humanidades, reflete, num diálogo profundo com a literatura, como o estado de fome gera uma solidariedade, à qual tem sido incapazes de alcançar aqueles e aquelas que vivem na fartura. Encerra nossa reflexão, Daniel Reis, com o artigo: Pão a quem tem fome e fome de justiça a quem tem pão, que resgata a inspiração evangélica, que remonta ao próprio Jesus, de que os discípulos e discípulas devem estar engajados, eles próprios, na superação da fome e do empobrecimento.
Boa leitura e inspiração!
*Felipe Magalhães Francisco é teólogo. Articula a Editoria de Religião deste portal. É autor do livro de poemas 'Imprevisto' (Penalux, 2015). E-mail: felipe.mfrancisco.teologia@gmail.com.

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