sábado, 24 de agosto de 2019

Card. Hummes: modelo atual de desenvolvimento da Amazônia é reedição do colonialismo

Índios do povo Mura no Amazonas, em foto de 20 de agosto, em área de desmatamento da Amazônia
Índios do povo Mura no Amazonas, em foto de 20 de agosto, em área de desmatamento da Amazônia 
Em edição deste sábado (24), o jornal vaticano L’Osservatore Romano repropôs um extrato do livro do cardeal brasileiro, Dom Cláudio Hummes, sobre a Amazônia e os novos modelos de desenvolvimento para deter os predadores da floresta. "Um dos problemas cruciais para proteger a Amazônia e os povos que habitam a floresta surge, precisamente, do modelo de desenvolvimento adotado atualmente, imposto pelas autoridades públicas e pelos interesses das empresas privadas. Trata-se, basicamente, de um modelo que se expressa como uma reedição do colonialismo."
Manoel Tavares - Cidade do Vaticano

O jornal do Vaticano L’Osservatore Romano publicou, na sua edição deste sábado (24/8), um capítulo do livro "O Sínodo para a Amazônia", de autoria do Cardeal Cláudio Hummes, Presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam), dedicado aos "Novos modelos de desenvolvimento” para deter os predadores da floresta.

Um dos problemas cruciais para proteger a Amazônia e os povos que habitam a floresta – afirma o jornal vaticano – surge, precisamente, do modelo de desenvolvimento adotado atualmente, imposto pelas autoridades públicas e pelos interesses das empresas privadas. Trata-se, basicamente, de um modelo que se expressa como uma reedição do colonialismo.

Reedição do Colonialismo
A floresta amazônica é concebida em termos de uma imensa reserva, explorada por indústrias de todos os tipos: utilização da madeira, pesca, minas, busca de agricultura preciosa e intensiva, monoculturas para exportação como soja, milho, algodão. E, por parte do governo, grandes projetos para a produção de eletricidade (hidrelétrica) e muitas outros.

Quando essas atividades predatórias começam a se expandir é inevitável a derrubada das florestas e os processos de poluição da água. Com o desmatamento, a poluição, a imensa rica e complexa biodiversidade do ambiente se dissipam.

Emigração dos índios
Como consequência direta e simultânea dessas ações, milhares de índios são forçados a migrar para outros lugares por não terem mais a chance de viver nas áreas devastadas da floresta. Quando chegam às cidades, a grande maioria acaba nos subúrbios e se defronta com a pobreza e alcoolismo, permanecendo em estado de abandono total. Assim, são descartados e excluídos da sociedade, em nome do progresso.

Novos modelos de desenvolvimento
O Sínodo para a Amazônia – recorda l’Osservatore Romano -enfrentará o desafio de formular e promover novos modelos de desenvolvimento. Claro, a Igreja como tal não tem competência para formular modelos deste tipo, mas é capaz de denunciar os males, que o modelo atual provoca; pode indicar princípios, que iluminam a formulação de novos modelos e estimular o desenvolvimento de modelos, sua implementação e funcionamento.

Em nossos dias, deve ser proposto um modelo socioambiental de desenvolvimento, que se contrapõe ao atual modelo vigente, de puro saque, que poderia ser definido como “neocolonialista”.

Modelo alternativo
A Conferência de Aparecida, em 2007, - recorda ainda o jornal vaticano - havia proposto "buscar um modelo de desenvolvimento alternativo, integral e solidário, baseado em uma ética da busca responsável de uma autêntica ecologia natural e humana, cujas raízes se afundam no evangelho da justiça, solidariedade e destino universal dos bens"(DA, 474).

Por fim, l’Osservatore Romano ressalta o atual modelo de predação, bem descrito pelo Papa Francisco, quando denuncia "aqueles que, depois de terem explorado tudo o que podiam explorar, dão no pé" (RJ, 2013). Neste sentido, disse o Papa, “a Igreja não faz a mesma coisa”.

Consequências desastrosas
O modelo socioambiental deve ser "um modelo de redistribuição de renda, do uso coletivo da terra, como reservas minerais, terras indígenas, territórios administrados em quilombos e projetos de desenvolvimento sustentável. E o Jornal do Vaticano conclui dizendo: se o atual modelo de desenvolvimento da Amazônia persistir, toda a região será destruída, com terríveis e desastrosas consequências para o mundo.

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