sábado, 10 de agosto de 2019

Dois terços dos desaparecidos no Brasil têm relação com violência policial, diz procuradora

Exonerada por Bolsonaro da comissão da presidência da Comissão sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, Eugênia Gonzaga contou como é o trabalho da comissão e qual a realidade dos desaparecidos brasileiros. “Se alguém nesse país for enterrado como ‘indigente’, acabou”, afirmou Eugênia. Assista

(Foto: Felipe L. Gonçalves/Brasil247)

247 - A procuradora regional da República e ex-presidente da Comissão sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), Eugênia Augusta Gonzaga, foi exonerada do cargo após críticas feitas à fala de Bolsonaro, que ironizou a morte do desaparecido político durante a ditadura Fernando Santa Cruz, pai de Felipe Santa Cruz, presidente da OAB. 

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Em entrevista à TV 247, a procuradora explicou qual o trabalho da comissão e qual a realidade das famílias que aguardam por respostas de entes desaparecidos ou mortos no Brasil.

Eugênia Gonzaga disse que a ministra da Mulher e Direitos humanos, Damares Alves, que tem a CEMDP como parte integrante de seu ministério, passou a fazer distinção entre os desaparecidos.  

“A ministra começou a dar declarações bastante infelizes em relação a isso, a própria atuação dos peritos e a fazer diferenças entre desaparecidos. Ela queria cuidar de desaparecidos ‘civis’”. 

A procuradora contou também o motivo de sua preocupação com a fala da ministra. “Me deu medo dessa distinção porque o Brasil tem muitos desaparecimentos até hoje e a política que existe, desde 1970, de sepultamento em cemitério público diz que esses corpos são simplesmente exumados e enviados para ossários ou incinerados. No Brasil, não é que a gente não encontra corpos de 1970, a gente não vai encontrar corpos de 2010. Se alguém nesse país for enterrado como chamado ‘indigente’, acabou”. 

A ex-presidente da CEMDP explicou a classificação feita entre os desaparecimentos. “Desses milhares de desaparecimentos por ano que acontecem no Brasil a gente tem dois terços que são desaparecimentos forçados, pessoas que a polícia prendeu, muitas vezes indevidamente, bateu demais e essas pessoas morreram e desaparecem. E tem o caso da irmã do Vitor Belfort, a irmã dele desapareceu voltando da aula, sem nenhuma relação aparente com violência policial. Um terço desses desaparecidos são essas pessoas”. 

E completou dizendo que os desaparecimentos forçados existem no Brasil pela “penumbra” que existe e que permite este tipo de acontecimento. Quando a ministra fala em desaparecido civil, imagino que ela esteja se referindo a este um terço. Esses desaparecimentos só acontecem por conta dessa penumbra que existe aqui e que garante o desaparecimento forçado”. 

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