segunda-feira, 5 de agosto de 2019

Governo decidiu mudar diretor do Inpe, órgão que apontou aumento do desmatamento da Amazônia, após Bolsonaro criticar instituto e questionar estatísticas.
Por G1

Após inauguração, Bolsonaro concedeu coletiva em Sobradinho — Foto: Júlio César/TV Bahia
Após inauguração, Bolsonaro concedeu coletiva em Sobradinho — Foto: Júlio César/TV Bahia


O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta segunda-feira (5) em Sobradinho, na Bahia, que “maus brasileiros” fazem “campanha com números mentirosos” sobre a Amazônia. A declaração foi dada em cerimônia para inaugurar a primeira etapa de uma usina solar flutuante instalada no reservatório da cidade baiana.

O governo de Jair Bolsonaro vem recebendo críticas de ambientalistas, cientistas, autoridades estrangeiras e da imprensa estrangeira pelas medidas que têm tomado em relação ao meio ambiente e pelos riscos que pode estar gerando para a preservação da Amazônia.

“A Amazônia é um potencial incalculável. Por isso, alguns maus brasileiros ousam fazer campanha com números mentirosos contra a nossa Amazônia. E nós temos que vencer isso e mostrar para o mundo, primeiro, que o governo mudou e, depois, que nós temos responsabilidade para mantê-la nossa, sem abrir mão de explorá-la de forma sustentável", declarou.
No último dia 19, após o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgar dados que apontam para o aumento do desmatamento na Amazônia, Bolsonaro questionou as estatísticas e o próprio órgão, que disse estar a serviço de ONGs internacionais.

No dia seguinte, o diretor do instituto, Ricardo Magnus Osório Galvão, negou as acusações de Bolsonaro e reafirmou os dados sobre desmatamento. Na semana passada, Galvão disse que as declarações dele causaram constrangimento e que será exonerado.

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Novo diretor do Inpe
Nesta segunda, mais cedo, o ministro de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Marcos Pontes, disse que cogita escolher um oficial da Aeronáutica para a direção do órgão. O nome deverá ser anunciado no início desta semana.

Em entrevista coletiva após a cerimônia em Sobradinho nesta manhã, Bolsonaro foi questionado sobre o anúncio do novo diretor.

"Olha, o que eu decidi junto aos meus ministros, eles têm liberdade total para fazer a composição do seu respectivo ministério e eu tenho poder de veto, como já exerci no passado. Não é questão de ser militar ou ser civil, é para ter uma pessoa extremamente responsável e competente no cargo."

Governadores do Nordeste
Durante a entrevista, Bolsonaro, que admitiu no mês passado que pode disputar a reeleição, disse que não vai negar recursos para os estados do Nordeste, mas que os governadores precisarão dizer que "estão trabalhando junto com o presidente Jair Bolsonaro" para serem atendidos.

Em julho, em conversa informal com o ministro Onyx Lorenzoni divulgada pela imprensa, o presidente se envolveu em polêmica com os governadores da região ao afirmar que "daqueles governadores de 'paraíba', o pior é o do Maranhão".

"Eu não fiz discurso nenhum sobre 'paraíba' e Nordeste. Eu cochichei no ouvido do ministro [Onix] Lorenzoni, eu me referi ao governador da Paraíba e do Maranhão... Que eles procuram nosso ministério, conseguem coisas como outro qualquer, chegam nos seus respectivos estados, alardeiam os recursos para seus estados e 'descem a borduna' em cima de mim. Então, o que eu quero desses dois governadores, não vou negar nada para o estado, mas se eles quiserem que isso tudo seja atendido, eles vão ter que falar que estão trabalhando com o presidente Jair Bolsonaro, caso contrário eu não vou ter conversa com eles", declarou nesta segunda.

Apesar da declaração, o presidente disse que "não quer fazer política", mas que não poderia admitir que os governadores do Maranhão e da Paraíba — Flávio Dino (PCdoB) e João Azevêdo (PSB), respectivamente — fizessem "politicalha em relação à minha pessoa".

Novo PGR
Durante a entrevista coletiva, Bolsonaro também comentou sobre o anúncio do novo procurador-geral da República, que irá substituir Raquel Dodge. O cargo costuma ser ocupado por um dos nomes indicados pela Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) em lista tríplice.

"Não vou falar sobre o MP atual. Obviamente que o nome será escolhido entre os quase 80 que estão aí à disposição. Temos excelentes nomes e precisamos bater o martelo por um nome. E pretendo, nos próximos dias, semana que vem no máximo, anunciar esse nome", disse.
O presidente da República não é obrigado a indicar um dos integrantes da lista eleita pela ANPR. Nos dois mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva e também nos dois de Dilma Rousseff, o escolhido para a PGR foi o primeiro da lista.

Na noite se sexta-feira (2), Bolsonaro recebeu, pela terceira vez, o subprocurador-geral da República Augusto Aras. O encontro não constou da agenda oficial de Bolsonaro, divulgada pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência. Aras integra o Ministério Público desde 1987 e se define publicamente como conservador

DADOS SOBRE O DESMATAMENTO
19/07: Após aumento de alertas de desmatamento, Bolsonaro disse ter 'convicção que os dados são mentirosos'

20/07: Em resposta, diretor do Inpe reafirmou consistência dos dados e disse que não iria se demitir

22/07: Bolsonaro diz que dados sobre aumento do desmatamento dificultam negociações comerciais

22/07: Ministro Marcos Pontes convoca reunião com diretor do Inpe para tratar sobre o tema

31/07: Ministro Ricardo Salles admite aumento do desmatamento, mas critica uso dos dados para comparações mensais

01/08: General Augusto Heleno diz que, se governo julgasse que os dados fossem corretos, deveria cuidar do problema 'internamente'

02/08: Após reunião com Marcos Pontes, diretor do Inpe diz que será exonerado

02/08: Em entrevista ao G1, diretor do Inpe diz que Marcos Pontes se comprometeu a não interferir no trabalho do órgão

Veja a repercussão da exoneração do diretor do Inpe, após críticas do governo aos dados do órgão sobre alertas de desmatamento

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