sexta-feira, 13 de setembro de 2019

Amazônia e obscenidade


A questão da Amazônia é paradigmática para repensarmos toda a nossa relação com o meio ambiente e com os recursos naturais.


Área da Amazônia perto de Porto Velho, em Rondônia, é atingida por incêndio em 26 de agosto.
Área da Amazônia perto de Porto Velho, em Rondônia, é atingida por incêndio em 26 de agosto. (Carl de Souza/AFP)
Por Felipe Magalhães Francisco*
Infelizmente, queimadas na região da Amazônia desde há muito tempo acontecem. Aquela situação dramática que acompanhamos no último mês não é uma novidade. Mas não deixa de ser absurda e extremamente simbólica. Estamos sendo governados por um grupo que não tem nem o mínimo de responsabilidade ecológica e de soberania nacional. Não à toa, vimos que a “organização” daquele dia do fogo, deu-se, também, como homenagem ao atual ocupante da cadeira de maior responsabilidade no país: Jair Bolsonaro, o Messias do terror.
Os avanços do “progresso” sobre a Amazônia começaram no período da Ditadura Militar. Percebemos, pois, a linha de continuidade desse pensamento no atual governo, cujo líder é um ex-militar inepto que louva a ditadura e a tortura, e que não tem nenhum senso ecológico. Se, no período ditatorial, o pensamento era desenvolvimentista, agora, um agravante ainda maior: temos escancarado um ódio contra a causa dos povos originários de nosso país e um flerte descarado com a destruição. Os olhos do mundo inteiro se voltam para o que acontece em nosso país. E, com a total inépcia do principal mandatário e de sua trupe (com o perdão dos circenses!), interesses internacionais, uma vez mais, sobrevêm sobre nossa soberania.
Enquanto isso, o presidente surfa na caça aos inimigos e nas questões morais. A economia não tem bom futuro; os avanços sociais, andam velozmente em marcha ré; a educação sendo orquestrada e ininterruptamente, há nove meses, sendo desmontada. O que resta, então? Questões morais que, aliás, são um verdadeiro telhado de vidro, para a maior parte dos apoiadores do atual presidente. São tempos de afirmação de que tudo o que contradiga a visão de mundo dos reacionários seja obsceno. Mas, obsceno, mesmo, é o que tem acontecido com a Amazônia, por exemplo: temos um presidente da república que é predatório e que incentiva a destruição. Nada mais simbólico do que a imagem das queimadas para ilustrar o que o atual governo tem feito com nosso país: o fogo tem pressa em tudo consumir.
Certamente essa questão da Amazônia se torna paradigmática para repensarmos toda a nossa relação com o meio ambiente e com os recursos naturais, abundantes em nosso país. Faz parte da educação para a cidadania, formar homens e mulheres críticos, que acompanhem de perto a questão ecológica. Esse é um tema que jamais deve sair de nossas pautas, pois é fundamental para a vida.
Neste Dom Especial, buscamos refletir sobre essa realidade obscena. No primeiro artigo, O sacrifício da Amazônia, de Rodrigo Ferreira da Costa, temos uma metáfora das queimadas na região Amazônia, sinalizadas pela imagem dos sacrifícios nas religiões antigas. Esse sacrifício, mostra-nos o autor, é idolátrico, porque provém da e provoca injustiça. Tânia Mayer, no artigo Purgatório brasileiro, provoca-nos também recorrendo a uma imagem cristã, para interpretar as lamentáveis queimadas como possibilidade de que purifiquemos nosso olhar e nossas ações, diante das questões ecológicas. O olhar sobre a Amazônia, que todo o mundo dedicou, desde o último mês, não pode ser mais uma situação em que difunda uma perspectiva racista que ignore, por exemplo, situação parecida em toda a África. É o que nos interpela Vitor Vinicios da Silva, no artigo Um discurso midiático racista.
Boa leitura!
*Felipe Magalhães Francisco é teólogo. Articula a Editoria de Religião deste portal. É autor do livro de poemas Imprevisto (Penalux, 2015). E-mail: felipe.mfrancisco.teologia@gmail.com.

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