terça-feira, 24 de setembro de 2019

Em NY, indígenas repudiam 'discurso de truculência'

Nos EUA, indígenas reagem ao discurso de Bolsonaro na Assembleia Geral da ONU: 'dia de terror'
Quatro representantes de povos indígenas deram uma entrevista para rebater discurso de Jair Bolsonaro na ONU.
Por G1
Dinamam Tuxá, Sonia Guajajara, Cris Pankararu e Artemisa Xakriaba dão entrevista coletiva em Nova York, em 24 de setembro de 2019 — Foto: Reprodução
Dinamam Tuxá, Sonia Guajajara, Cris Pankararu e Artemisa Xakriaba dão entrevista coletiva em Nova York, em 24 de setembro de 2019 — Foto: Reprodução

A Amazônia é um patrimônio da humanidade e Jair Bolsonaro usa a ideia de integração dos povos indígenas ao resto da sociedade para não demarcar terras, afirmaram quatro representantes de nações indígenas brasileiras em Nova York nesta terça-feira (24) para se opor ao discurso do presidente do Brasil na ONU.

"Foi um dia de terror para o Brasil, e para todos os povos indígenas do Brasil e do mundo. Bolsonaro fez discurso de intolerância e truculência", disse Sonia Guajajara, uma das lideranças presentes.
"Bolsonaro nos chamou hoje de animais das cavernas e ainda desrespeitou nosso grande líder, indicado ao Nobel da Paz, o cacique Raoni", acrescentou. "Com esse discurso, se colocou mundialmente como uma ameaça concreta à Amazônia, e ainda se coloca como porta-voz do agronegócio, da exploração mineral com essa visão e mentalidade do século 19", criticou Sonia Guajajara.

"Estamos aqui pra dizer que a gente não tem medo do governo Bolsonaro, mesmo com as nossas terras sendo tomadas, nossas florestas sendo queimadas. (...) Bolsonaro mente. Seu governo destrói o meio ambiente, explora nossa biodiversidade e os nossos conhecimentos tradicionais. E permite que mineradores e hidrelétricas avancem sobre os nossos territórios", afirmou ainda.
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Além de Sonia Guajajara, outros três representantes estavam presentes -- Dinamam Tuxá, Cris Pankararu e Artemisa Xakriaba. Os quatro fazem parte da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil.

O cacique Raoni era aguardado para o evento, mas, de acordo com a organização, se sentiu mal e decidiu não participar.

Sônia Guajajara afirmou também que a representante dos povos indígenas que esteve na ONU com Bolsonaro, Ysani Kalapalo, não tem legitimidade nem para representar a sua própria nação.

“Nós, povos indígenas no Brasil, somos diversos, são 305 povos. Não podemos exigir que todos tenham o mesmo pensamento. Ela pode ser alguém que representa o governo dela, não os indígenas”, afirmou.

Guajajara foi candidata a vice-presidente na chapa do PSOL, encabeçada por Guilherme Boulos nas eleições de 2018, vencidas por Bolsonaro.

Defesa de Raoni
Bolsonaro, em seu discurso na ONU, afirmou que, "muitas vezes", líderes indígenas como o cacique Raoni, são "usados como peça de manobra" por governos estrangeiros. Ele não citou quais seriam os governos, contudo, recentemente Raoni se encontrou com o presidente da França, Emmanuel Macron.

“Não estamos sendo usados por ninguém, estamos atendendo o clamor da mãe terra”, disse Sonia Guajajara. Ela afirmou que a sugestão de que os povos indígenas são usados era uma prática da ditadura.

Por fim, ela atacou a carta dos agricultores indígenas citada por Bolsonaro, que ela classificou como falsa. “É uma lista de representantes que participaram de uma audiência pública que aconteceu no Congresso em 2018”, disse.

Dinamam Tuxá, um dos quatro presentes na coletiva, afirmou que os indígenas têm uma maneira tradicional de viver, e que se trata do modelo mais efetivo para proteger todos os biomas. “Se se quer ter a certeza da proteção, faça a demarcação”, disse.

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