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Já nem as sociedades mais progressistas são capazes de assegurar um trabalho digno a milhões de cidadãos.
O dinheiro, convertido em ídolo absoluto, é o grande inimigo para construir esse mundo mais justo e fraterno, amado por Deus. (Pixabay)
Por José Antonio Pagola*
"Não podeis servir a Deus e ao dinheiro". Essas palavras de Jesus não podem ser esquecidas nestes momentos por aqueles de nós que se sentem seus seguidores, pois contêm a advertência mais grave que Jesus deixou à humanidade. O dinheiro, convertido em ídolo absoluto, é o grande inimigo para construir esse mundo mais justo e fraterno, amado por Deus.
Desgraçadamente, a riqueza converteu-se, neste nosso mundo globalizado, em um ídolo de imenso poder que, para subsistir, exige cada vez mais vítimas e desumaniza e empobrece cada vez mais a história humana. Nestes momentos encontramo-nos apanhados por uma crise gerada em grande parte pelo desejo de acumular.
Praticamente tudo se organiza, se move e dinamiza a partir desta lógica: procurar mais produtividade, mais consumo, mais bem-estar, mais energia, mais poder sobre os outros. Essa lógica é imperialista. Se não a pararmos, pode colocar em perigo o ser humano e o próprio planeta.
Talvez a primeira coisa seja tomar consciência do que está acontecendo. Esta não é apenas uma crise econômica. É uma crise social e humana. Nestes momentos já temos dados suficientes à nossa volta e no horizonte do mundo para perceber o drama humano em que vivemos imersos.
É cada vez mais óbvio ver que um sistema que conduz uma minoria de ricos a acumular cada vez mais poder, deixando em fome e miséria milhões de seres humanos, é uma loucura insuportável. É inútil olhar para o outro lado.
Já nem as sociedades mais progressistas são capazes de assegurar um trabalho digno a milhões de cidadãos. Que progresso é este que, lançando- nos a todos para o bem-estar, deixa tantas famílias sem recursos para viver com dignidade?
A crise está arruinando o sistema democrático. Pressionados pelas exigências do Dinheiro, os governantes não podem atender às verdadeiras necessidades dos seus povos. O que é a política se já não está ao serviço do bem comum?
A diminuição dos gastos sociais em diversos campos e a privatização interesseira e indigna de serviços públicos como a saúde continuarão a bater nos mais indefesos, gerando cada vez mais exclusão, desigualdade vergonhosa e fratura social.
Os seguidores de Jesus não podem viver encerrados numa religião isolada deste drama humano. As comunidades cristãs devem ser nestes momentos um espaço de conscientização, discernimento e compromisso. Devemos nos ajudar a viver com lucidez e responsabilidade. A crise há de tornar-nos mais humanos e mais cristãos.
*José Antonio Pagola é padre e tem dedicado a sua vida aos estudos bíblicos, nomeadamente à investigação sobre o Jesus histórico. Nascido em 1937, é licenciado em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma (1962), licenciado em Sagradas Escrituras pelo Instituto Bíblico de Roma (1965), e diplomado em Ciências Bíblicas pela École Biblique de Jerusalém (1966). Professor no seminário de San Sebastián (Espanha) e na Faculdade de Teologia do Norte de Espanha (sede de Vitória), foi também reitor do seminário diocesano de San Sebastián e vigário-geral da diocese de San Sebastián.
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