sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Papa: não a católicos obcecados com o sexo


Em bate-papo com seus confrades, Francisco condena a fixação de certos católicos com o sexo e aponta o clericalismo como instrumento desse tipo de discurso.


Papa Francisco encontra missionários jesuítas no dia 5 de setembro, durante sua viagem à África.
Papa Francisco encontra missionários jesuítas no dia 5 de setembro, durante sua viagem à África. (Vatican Media)
Por Mirticeli Medeiros*
O que temos observado, nos últimos tempos, é a redução da moral católica somente à questão sexual. Foi isso que Francisco refletiu em um encontro à portas fechadas com missionários jesuítas que atuam em Moçambique, durante sua última viagem apostólica ao país neste mês. Por causa da informalidade do evento, o conteúdo da conversa só foi divulgado nessa quinta feira (26).
O pontífice, que se confessa a cada 15 dias, não só tem relembrado a importância do sacramento da confissão enquanto oportunidade para uma revisão de vida, mas o quanto a formação católica tem ignorando os vários atentados à dignidade humana que são incompatíveis com o cristianismo. “Se concentram somente no sexo e não dão nenhum peso à injustiça social, à calúnia, às fofocas e às mentiras”, destacou.
Francisco, que já demonstrou não se preocupar com os vários opositores que trabalham duro para desacreditar seu pontificado, mais uma vez define o clericalismo como a raiz de todas as doenças espirituais que afetam o catolicismo.
“Uma das dimensões do clericalismo é a fixação moral exclusiva no sexto mandamento [...] O clericalismo é a verdadeira perversão da Igreja, já que coloca o pastor acima de todos, alguém que pune com a excomunhão quem se afasta do rebanho. É o oposto do que Jesus fez”, ressaltou. 
O uso da batina
O pontífice argentino declarou, em várias ocasiões, não ser contrário ao uso da batina, desde que ela exprima, de fato, a missão de quem a veste. Em 2010, no famoso livro-entrevista El jesuita, publicado pelos jornalistas Francesca Ambrogeti e Sergio Ruizo então cardeal Jorge Bergoglio disse que não ser contra o uso da batina“desde que quem a use tenha a disposição de arregaçar as mangas da túnica para exercer seu pastoreio”.
Ainda falando sobre o tema do clericalismo, o papa argentino disse se preocupar com o exagero de jovens sacerdotes, os quais acabam desvirtuando o sentido do uso da vestimenta.
“O clericalismo condena, separa, frustra, despreza o povo de Deus. O clericalismo confunde o serviço presbiteral com a potência presbiteral. O clericalismo é carreira e domínio. Em italiano dizemos arrampicamento (escalada). O clericalismo tem como consequência direta a rigidez. Vocês nunca observaram jovens sacerdotes rígidos que usam a túnica preta e um chapéu em formato de planeta saturno? Por trás do clericalismo rígido há sérios problemas”, concluiu.
Os encontros com os jesuítas
Na maioria das vezes, passam despercebidos aos olhos de quem acompanha as visitas apostólicas de Francisco os encontros que ele realiza com os jesuítas. Em suas últimas viagens, o pontífice fez questão de encontrar os missionários de sua congregação que atuam nos países por ele visitados.
Por vezes, tais reuniões não entram na programação oficial e o conteúdo do “bate-papo” acaba sendo divulgado dias depois da visita.
 A verdade é que, a cada reunião como essa, a qual segue um estilo bastante informal, o papa toca em argumentos muito ligados à pastoral e à forma como se transmite a doutrina católica nos vários contextos culturais. Dias depois da visita apostólica, o conteúdo da conversa é divulgado integralmente pela revista jesuíta.
*Mirticeli Dias de Medeiros é jornalista e mestre em História da Igreja pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma. Desde 2009, cobre primordialmente o Vaticano para meios de comunicação no Brasil e na Itália, sendo uma das poucas jornalistas brasileiras credenciadas como vaticanista junto à Sala de Imprensa da Santa Sé.

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