terça-feira, 22 de outubro de 2019

As praias sujas como nossas tristes metáforas

domtotal.com

Educação é exemplo e nosso exemplo de descaso histórico com o meio ambiente permite em parte o que está ocorrendo


As praias imundas e os louváveis voluntários que as limpam são um retrato sim do que nos tornamos.
As praias imundas e os louváveis voluntários que as limpam são um retrato sim do que nos tornamos. (Reuters)
Por Ricardo Soares*
Nossa vaga noção positivista do tal "Ordem e Progresso" sempre foi medida por abrir estradas, construir pontes, detonar florestas, erguer fábricas, explorar petróleo, desenvolver a siderurgia e a indústria naval e, em consequência, gerar emprego e renda para que muitos brasileiros felizes lotem shoppings e supermercados e comprem, engordem, acreditem que a felicidade são os bens materiais em primeiro lugar. Não dá nem pra medir a essa altura os danos civilizatórios que todos os governos propagaram com esse ideário. Mas o resultado é a triste metáfora das praias imundas de óleo no litoral brasileiro. A mais completa tradução de nosso relaxo com a sustentabilidade, meio ambiente e questões afins.
Pode argumentar o prezado leitor e leitora que o desastre ecológico não foi culpa desse hediondo governo federal ou de qualquer governo estadual. Em principio isso é certo, mas se fossemos na verdade um país rígido e rigoroso em nossa legislação ambiental, viriam navios imundos a desovar imundícies em nossas praias? Educação é exemplo e nosso exemplo de descaso histórico com o meio ambiente permite em parte o que está ocorrendo.
As praias imundas e os louváveis voluntários que as limpam são um retrato sim do que nos tornamos. Uma legião de bem intencionados tentando limpar as imundícies que nos jogam na vida todos os dias. Ainda torço que em algum momento sejamos mais e mais como os voluntários que salvam as praias e não essa horda de hunos que depredam a nação, fazem arminhas e pouco se lixam para o nosso futuro.
*Ricardo Soares é diretor de TV, roteirista, escritor e jornalista. Publicou oito livros, dirigiu 12 documentários.

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