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Parábola pretende sacudir a consciência dos que creem ser 'cidadãos de bem' e desprezavam os demais. Reflexão sobre o Evangelho do 30º Domingo Comum - Lc 18,9-14
Temos de ler a parábola em atitude autocrítica: por que achamos que somos melhores que os agnósticos? Por que nos sentimos mais perto de Deus dos que não são praticantes? (Reprodução/ Pixabay)
José Antonio Pagola*
A parábola do fariseu e do publicano geralmente desperta em muitos cristãos uma grande rejeição do fariseu que se apresenta diante de Deus, arrogante e seguro de si mesmo, e uma simpatia espontânea para com o publicano que humildemente reconhece seu pecado. Paradoxalmente, o relato pode despertar em nós este sentimento: “Agradeço-te, meu Deus, porque não sou como este fariseu”.
Para ouvir corretamente a mensagem da parábola, temos de ter em mente que Jesus não a conta para criticar os setores fariseus, mas para sacudir a consciência de “alguns que presumiam serem homens de bem e desprezavam os outros”. Entre estes encontramo-nos, certamente, não poucos católicos dos nossos dias.
A oração do fariseu revela-nos sua atitude interior: “Oh Deus! Te dou graças porque não sou como os outros”. Que tipo de oração é esta de acreditar que é melhor que os outros? Mesmo um fariseu, fiel cumpridor da lei, pode viver numa atitude pervertida. Este homem sente-se justo diante de Deus e precisamente por isso se converte em juiz que despreza e condena os que não são como ele.
O publicano, pelo contrário, só consegue dizer: “Oh Deus! Tem compaixão deste pecador”. Este homem reconhece humildemente o seu pecado. Não se pode vangloriar da sua vida. Entrega-se à compaixão de Deus. Não se compara com ninguém. Não julga os outros. Vive verdadeiramente ante si mesmo e ante Deus.
A parábola é uma penetrante crítica que desmascara uma atitude religiosa de engano, que nos permite viver seguros da nossa inocência, enquanto condenamos desde a nossa suposta superioridade moral a todos os que não pensam ou agem como nós.
Circunstâncias históricas e correntes triunfalistas afastadas do evangelho fizeram os católicos especialmente propensos a esta tentação. Por isso, temos de ler a parábola, cada um em atitude autocrítica: por que achamos que somos melhores que os agnósticos? Por que nos sentimos mais perto de Deus dos que não são praticantes? O que está no fundo de certas orações pela conversão dos pecadores? O que é reparar os pecados dos outros sem viver convertendo-nos a Deus?
Em certa ocasião, ante a pergunta de um jornalista, o papa Francisco fez esta afirmação: “Quem sou eu para julgar um gay?”. As suas palavras surpreenderam a quase todos. Aparentemente, ninguém esperava uma resposta tão simples e evangélica de um papa católico. No entanto, essa é a atitude de quem vive em verdade ante Deus.
Publicado originalmente por Religión Digital.
*José António Pagola é padre e tem dedicado a sua vida aos estudos bíblicos, nomeadamente à investigação sobre o Jesus histórico. Nascido em 1937, é licenciado em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma (1962), licenciado em Sagradas Escrituras pelo Instituto Bíblico de Roma (1965), e diplomado em Ciências Bíblicas pela École Biblique de Jerusalém (1966). Professor no seminário de San Sebastián (Espanha) e na Faculdade de Teologia do Norte de Espanha (sede de Vitória), foi também reitor do seminário diocesano de San Sebastián e vigário-geral da diocese de San Sebastián.
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