terça-feira, 31 de março de 2020

Ditadura, nunca mais

Padre Geovane Saraiva*
10 de dezembro de 1948: Dia Internacional dos Direitos Humanos. Atualmente, a Organização das Nações Unidas (ONU), com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, quer manter viva a memória do povo brasileiro, como nas palavras de Dias Toffoli: "Não se constrói o futuro com experiências fracassadas do passado". Não se constrói mesmo, com a ditadura de 1964, acentuando-se com o AI-5, em 1968, pelos seguintes motivos, irmãos e irmãs: nas noites do silêncio de Deus, com vozes a clamar num espaço infinito, silêncio esse de homens e mulheres pedindo por justiça e compaixão, nas marcas e provas das torturas trazidas nos corpos (cf. Frei Tito de Alencar). Ao mesmo tempo, Deus nos diz: “Vós participastes, com efeito, do sofrimento dos prisioneiros e aceitastes com alegria a espoliação, certos de possuir uma fortuna melhor e mais durável. Não percais, pois, a vossa segurança que tamanha recompensa merece” (Hb 10, 34-35).

Nada de indiferença diante da tortura, instrumento para arrancar, pela força e pela violência, os próprios pensamentos e sentimentos das pessoas que já perderam a liberdade. Na tortura se constata, evidentemente, a antítese da liberdade e da esperança. “Na tortura, o discurso que o torturador busca extrair do torturado é a negação absoluta e radical da liberdade” (cf. Brasil Nunca Mais).

A afirmação “Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante”, da Assembleia Geral da ONU, na Declaração Universal dos Direitos Humanos, bem que ajuda a não esquecer: foram 21 anos, profundamente obscuros e nefastos, vividos pelo povo brasileiro. Não temos dúvidas da devastação de todos os jardins da democracia e da liberdade, de acordo com os registros da nossa História. O golpe militar foi um cruel não ao humanismo, ocasião em que se vivenciou a ausência de liberdade, sem esquecer os tenebrosos porões da tortura, quando aconteciam mortes atrozes e inumanas de muitos irmãos e irmãs.

Com o AI-5 de 1968, o pôr do sol se eternizou em um não à vida de muitos irmãos, neutralizando a aurora da esperança, no mistério do tempo e da vida. O sol vermelho, no romper da aurora, a iluminar o céu, que ilumine a humanidade e a vida como um todo. Na esperança, associamo-nos a todos, mesmo sabendo que da noite vem dia após dia, mas que todos, indignados, possam dizer: noites obscuras e nefastas, como as da ditadura militar de 64, nunca mais.

*Pároco de Santo Afonso, Blogueiro, Escritor e integra a Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza














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