Em nova entrevista, o empresário Marcelo Odebrecht diz que Operação Lava Jato foi o estopim para o colapso da companhia, hoje em recuperação judicial, mas afirma que a empresa errou ao acreditar que os fins justificam os meios, ao falar sobre o caixa dois que vinha desde a década de 80. Ele também negou corrupção no BNDES e favorecimentos nos governos de Lula e Dilma
17 de dezembro de 2019, 07:19 h Atualizado em 17 de dezembro de 2019, 08:18
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(Foto: Reprodução)
247 – O empresário Marcelo Odebrecht concedeu nova entrevista, desta vez ao jornalista Thomas Traumann, em que admitiu seus erros e falou sobre o impacto da Lava Jato na companhia, que era o maior grupo de engenharia do Brasil e hoje se encontra em recuperação judicial. "É fácil dizer que o que quebrou a Odebrecht foi a Lava-Jato. Sim, a Lava-Jato foi o gatilho para nossa derrocada, mas a Odebrecht poderia ter saído dessa crise menor, mas mais bem preparada para um novo ciclo de crescimento sobre bases até mais sustentáveis. Só que nós não soubemos conduzir o processo da Lava-Jato. A Odebrecht quebrou por manipulações internas, não apenas pela Lava-Jato", diz ele.
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Na entrevista, Marcelo negou que houvesse corrupção no BNDES e que ex-presidentes Lula e Dilma tivessem tomado ações concretas para favorecer a empresa. "Não havia uma preferência nem de Lula, nem de Dilma para fazer tal empresa crescer. O que havia eram políticas públicas influenciadas e disputadas por vários setores e empresas. A Odebrecht já era, desde a década de 1990, a maior exportadora de serviços do Brasil. No governo Lula houve uma boa política pública de incentivo à exportação de serviços e nós, pela nossa presença internacional, fomos os maiores beneficiários", afirmou.
O empresário, no entanto, afirmou que a empresa errou ao ser tolerante com o caixa dois, que vinha desde a década de 80. "Nós, porém, sempre fomos tolerantes com o caixa dois. E não faltavam motivos para justificá-lo. Seja porque o político tinha uma referência de orçamento oficial de campanha que não queria ultrapassar, seja porque o político não queria aparecer recebendo muito dinheiro de uma empresa com interesses na região, ou cujos projetos ele defendia. A própria empresa, por sua vez, também não queria aparecer, porque havia uma criminalização na mídia com relação às contribuições oficiais de campanha", afirma. "Nós, da Odebrecht, cometemos nossos dois grandes pecados: a falta de transparência do caixa dois, e a crença de que os fins justificavam os meios."
"Um dos pontos positivos dessa década é que sairemos dela com menos governo. Quanto menos o empresário tiver que viajar para Brasília para defender seus interesses, quanto menos governo tiver dificultando a vida do empresário, - aquela dificuldade criada para vender facilidade - menos problemas teremos. A melhor maneira que você tem de evitar de ter relações indevidas entre a iniciativa privada e o governo é ter menos governo", disse ainda o empresário.
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