A crise em torno do Coronavírus poderá impedir que italianos frequentem missas e vejam o papa por um bom tempo

Durante tradicional oração do Angelus, neste domingo (1), número de turistas no Vaticano cai drasticamente por causa do coronavírus (AFP/Tiziana Fabi)
Mirticeli Medeiros*
“Voltamos ao século XIII: dois papas e uma peste”. É assim que os italianos tentavam levar com bom humor a epidemia do coronavírus, que até duas semanas atrás não era ainda motivo de preocupação para a maioria deles. A verdade é que, nos últimos dias, os 3 mil casos registrados e os mais de 100 mortos colocaram o país em estado de alerta. Até quem fez piadas sobre a doença na internet foi pressionado a se retratar publicamente. O país que estava preparado para atender os poucos casos registrados, agora admite que, se a situação piorar, o sistema sanitário nacional entrará em colapso.
Com o novo decreto publicado pelo governo italiano na última quarta-feira (4), escolas, cinemas, universidades, teatros e outros espaços públicos estarão fechados até o dia 15 de março. Os eventos esportivos e as grandes manifestações públicas também estão proibidos até o dia 3 de april. A famosa maratona de Roma, que deveria acontecer no dia 29 de março, também foi suspensa. As instituições pontifícias, que estão sob a jurisdição direta do Vaticano, resolveram seguir as medidas impostas por Giuseppe Conte, o primeiro-ministro da Itália. O chanceler, em rede nacional, disse que “a Itália nunca se rende” e tomará todas as medidas necessárias para conter a epidemia.
Cultos religiosos comprometidos
Evitar apertos de mão e estar a um metro de distância das pessoas são algumas das precauções que devem ser seguidas pelos cidadãos. Em igrejas da capital, foi excluído até o “abraço da paz”, para impedir que se entre em contato algum infectado. No norte da Itália, considerada a zona vermelha onde se registram 98% dos casos, as missas semanais foram suspensas. “A Igreja na Itália toma parte ao sofrimento do país e assume, de maneira co-responsável, iniciativas para conter a difusão do vírus”, disse o comunicado da CEI - Conferência Episcopal Italiana - publicado nesta quinta-feira (5).
Se continuar assim, até os compromissos públicos do papa deverão ser cancelados. A Santa Sé ainda não se manifestou sobre o parecer do governo, mas a tendência é de agir com precaução nos próximos dias. Apesar de Roma ter registrado pouco mais de 20 casos em bairros periféricos da cidade, aquele otimismo típico dos romanos foi afetado. O que vemos são ônibus vazios e pontos de interesse sem aquela aglomeração de gente à qual estávamos acostumados. Uma cidade eterna silenciosa que há muito não se via.
Roma abriga mais de 900 igrejas. Caso as restrições também sejam impostas à “diocese do papa”, será a coroação de um caso emblemático para os italianos: nem em tempos de guerra o país que abriga o centro da cristandade deixou de celebrar missas. A gripe espanhola de 1918 - a primeira mutação do H1N1 - que matou mais de 3 mil pessoas só na Itália, não impediu que os católicos fizessem suas celebrações. “A Igreja em tempos de cólera”, parafraseando Márquez, pelo jeito assume uma nova postura na contemporaneidade.
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