domingo, 8 de março de 2020

Os medos da Igreja

domtotal.com
Reflexão sobre o Evangelho do Segundo Domingo de Quaresma - Mateus 17,1-9
Levantai-vos, não tenhais medo. Só o contato vivo com Cristo nos poderia libertar de tanto medo
Levantai-vos, não tenhais medo. Só o contato vivo com Cristo nos poderia libertar de tanto medo (Grant Whitty / Unsplash)
José Antonio Pagola*
Religión Digital

Provavelmente, é o medo o que mais paralisa os cristãos no seguir fielmente a Jesus Cristo. Na igreja atual há pecado e fraqueza, mas, sobretudo, existe o medo de correr riscos. Iniciamos o terceiro milênio sem audácia para renovar criativamente a vivência da fé cristã. Não é difícil assinalar alguns desses medos.

Temos medo do novo, como se conservar o passado garantisse automaticamente a fidelidade ao Evangelho. É verdade que o Concílio Vaticano II afirmou de forma rotunda que na Igreja deve haver uma constante reforma, pois como instituição humana, necessita-a permanentemente. No entanto, não é menos verdade que o que move nestes momentos a igreja não é tanto um espírito de renovação, mas um instinto de conservação.

Temos medo de assumir as tensões e conflitos que surgem com a busca de fidelidade ao evangelho. Calamo-nos quando deveríamos falar; inibimo-nos quando deveríamos intervir. Proíbe-se o debate de questões importantes, para evitar situações que podem inquietar; preferimos a adesão rotineira que não traz problemas nem desgosta a hierarquia.

Temos medo da investigação teológica criativa. Medo de rever ritos e linguagens litúrgicas que não favorecem hoje a celebração viva da fé. Medo de falar dos direitos humanos dentro da Igreja. Medo de reconhecer praticamente à mulher um lugar mais de acordo com o espírito de Jesus.

Temos medo de colocar a misericórdia acima de tudo, esquecendo que a igreja não recebeu o ministério do julgamento e da condenação, mas o ministério da reconciliação. Há medo de acolher os pecadores como Jesus fez. Dificilmente se dirá hoje da igreja que é amiga dos pecadores, como se dizia do Seu Mestre.

Segundo o relato evangélico, os discípulos caem por terra cheios de medo ao ouvir uma voz que lhes diz: Este é o meu Filho amado ... escutai-O. É assustador ouvir apenas Jesus. É o próprio Jesus quem se aproxima, toca-lhes e diz: Levantai-vos, não tenhais medo. Só o contato vivo com Cristo nos poderia libertar de tanto medo.

Publicado originalmente por Religión Digital e traduzido pelo IHU.

*José Antonio Pagola é padre e tem dedicado a sua vida aos estudos bíblicos, nomeadamente à investigação sobre o Jesus histórico. Nascido em 1937, é licenciado em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma (1962), licenciado em Sagradas Escrituras pelo Instituto Bíblico de Roma (1965), e diplomado em Ciências Bíblicas pela École Biblique de Jerusalém (1966). Professor no seminário de San Sebastián (Espanha) e na Faculdade de Teologia do Norte de Espanha (sede de Vitória), foi também reitor do seminário diocesano de San Sebastián e vigário-geral da diocese de San Sebastián.

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