sexta-feira, 3 de abril de 2020

De volta às catacumbas

Como celebrar a Semana Santa nestes tempos de pandemia do novo coronavírus
'Acompanhe como se você estivesse em sua comunidade, se ajoelhe, cante, reze'
'Acompanhe como se você estivesse em sua comunidade, se ajoelhe, cante, reze' (Pixabay)

No Monte das Oliveiras, Jesus orou ao pai e pediu que, se fosse possível, o cálice do sofrimento fosse afastado dele. Isso não aconteceu, pois, como nos relatam as sagradas escrituras, “ele veio para os seus, mas os seus não o acolherem”. A cruz foi necessária, e do suplício supremo do filho unigênito do criador veio à salvação de toda a humanidade. Nesta semana maior, a Igreja reúne seus filhos e, num só canto, proclama a vitória de Jesus sobre o pecado e a morte. Ressuscitou como disse, aleluia!

Reze conosco em Meu dia com Deus
Agora, como celebrar nestes dias tão importantes para a nossa fé dentro de nossas casas, longe das igrejas que costumamos lotar nestes tempos? Sem as procissões e os sermões, sem o convívio físico com a comunidade? Nossa geração nunca havia passado por algo assim e, por isso, o coração dos católicos se encontra em frangalhos, na tristeza de não poder celebrar presencialmente as solenidades pascais.

Cabe-nos lembrar das primeiras comunidades cristãs, que faziam de suas cozinhas e quartos de igrejas. Na perseguição imposta pelos imperadores, tudo era celebrado nas catacumbas, no silêncio orante, em meio a poucos crentes. Dali veio a nossa fé, celebrada hoje em meio às multidões que lotam as grandes catedrais e santuários. Deus nos concede a oportunidade de voltar a este tempo nesta semana maior, valorizando o sacrifício feito pelos primeiros convertidos.

Nos Atos dos Apóstolos, vemos que os cristãos tinham tudo em comum, inclusive na partilha das orações. Nestes tempos de pandemia, Deus nos concede a graça de fazer de nossas casas santuários da vida e da acolhida aos ensinamentos da palavra. Somos convidados a converter a nossa tristeza em esperança, pois sabemos que quem confia em Deus não se decepciona. Viver estes momentos em plena comunhão entre tantas e tantos que estão sofrendo por causa das doenças e da solidão, fazem valer o sentido da Páscoa. O Senhor que passou em meio aos Hebreus, passa hoje novamente no meio de nós.

Por isso, faça de sua casa uma igreja doméstica. Reze com sua família as orações deste tempo, e viva à espiritualidade desta semana maior. Os meios de comunicação irão realizar vários momentos de orações, inclusive com a transmissão das celebrações solenes. Acompanhe como se você estivesse em sua comunidade, se ajoelhe, cante, reze. Viva com intensidade esta fonte de graça que é a recordação do sacrifício de Jesus por nós.

Que a tristeza deste tempo de isolamento nos una ao sofrimento de Cristo no Calvário, fazendo que nossos corações se voltem para dentro de nós mesmos, fazendo-nos compreender que o amor de Cristo foi derramado em nós para que pudéssemos nos configurar a ele, através da renúncia total ao pecado. Imbuídos desta mesma fé, contemos com a intercessão poderosa de Maria, que aos pés da cruz se tornou mãe de todos os seres viventes. Fortes na fé, alegres na esperança e firmes na certeza da vitória, prossigamos decididamente rumo a Páscoa da Ressureição.

* João Eduardo S. Mariana é jornalista e colaborador da Arquidiocese de BH.

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