Reflexão sobre o Evangelho do Domingo de Ramos - Mateus 26,14-27,66
Ao contemplar o Crucificado, a nossa reação não pode ser de zombaria ou desprezo, mas de oração confiante e agradecida (Christoph Schmid/ Unsplash)
Por José Antonio Pagola*RD
Segundo o relato Evangélico, os que passavam diante de Jesus crucificado zombavam dele e, rindo-se do seu sofrimento, faziam duas sugestões sarcásticas: se és o Filho de Deus, “salva-te a ti mesmo” e “desce da cruz”.
Essa é exatamente a nossa reação perante o sofrimento: salvar-nos a nós mesmos, pensar apenas no nosso bem-estar e, portanto, evitar a cruz, passarmos a vida evitando tudo o que nos pode fazer sofrer. Será também Deus como nós? Alguém que só pensa em si mesmo e na sua felicidade?
Reze conosco em Meu Dia com Deus
Jesus não responde à provocação daqueles que zombam dele. Não pronuncia qualquer palavra. Não é o momento de dar explicações. Sua resposta é o silêncio. Um silêncio que é respeito por quem o despreza e, acima de tudo, compaixão e amor.
Jesus apenas quebra o seu silêncio para dirigir-se a Deus com um grito desgarrador: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?”. Não pede que o salve baixando da cruz. Só que não se oculta nem o abandona neste momento de morte e sofrimento extremo. E Deus, seu Pai, permanece em silêncio.
Somente ouvindo a profundidade deste silêncio de Deus, descobrimos algo de seu mistério. Deus não é um ser poderoso e triunfante, calmo e feliz, alheio ao sofrimento humano, mas um Deus calado, indefeso e humilhado, que sofre conosco a dor, a escuridão e até a própria morte.
Por isso, ao contemplar o Crucificado, a nossa reação não pode ser de zombaria ou desprezo, mas de oração confiante e agradecida: “Não desças da cruz. Não nos deixes só na nossa aflição. De que nos serviria um Deus que não conhecesse o nosso sofrimento? Quem nos poderia entender?”.
A quem poderiam esperar os torturados de tantas prisões secretas? Onde poderiam colocar a sua esperança tantas mulheres humilhadas e violentadas sem qualquer defesa? A que se agarrariam tantos doentes crônicos e os moribundos? Quem poderia oferecer conforto às vítimas de tantas guerras, terrorismo, fome e miséria? Não. “Não desças da cruz; pois se não te sentirmos ‘crucificado’ junto de nós, ficaremos mais ‘perdidos’”.
Publicado originalmente por Religión Digital e traduzido pelo IHU.
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*José Antonio Pagola é padre e tem dedicado a sua vida aos estudos bíblicos, nomeadamente à investigação sobre o Jesus histórico. Nascido em 1937, é licenciado em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma (1962), licenciado em Sagradas Escrituras pelo Instituto Bíblico de Roma (1965), e diplomado em Ciências Bíblicas pela École Biblique de Jerusalém (1966). Professor no seminário de San Sebastián (Espanha) e na Faculdade de Teologia do Norte de Espanha (sede de Vitória), foi também reitor do seminário diocesano de San Sebastián e vigário-geral da diocese de San Sebastián.
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