sexta-feira, 10 de abril de 2020

Via-Sacra de Sexta-feira Santa, no Vaticano, com meditações ligadas ao mundo prisional

Cinco presos, os pais de uma filha assassinada, juiz, voluntários e polícias apresentam reflexão para a celebração presidida pelo Papa
Foto: Lusa/EPA

Cidade do Vaticano, 10 abr 2020 (Ecclesia) – A Via-Sacra de Sexta-feira Santa, a que o Papa preside hoje numa Praça de São Pedro vazia, por causa da propagação do novo coronavírus, vai ter reflexões ligadas ao mundo prisional.
O Vaticano anunciou que os textos das meditações sobre as 14 estações – momentos ligados à prisão, julgamento e execução de Jesus Cristo – vão ser assinados por cinco presos, os pais de uma filha assassinada, um condenado a prisão perpétua, uma educadora, um juiz, a mãe de um recluso, uma catequista, um sacerdote acusado e posteriormente ilibado, um frade voluntário na cadeia e um polícia, todos ligados à Capelania da Prisão “Due Palazzi” de Pádua (Itália).
“Acompanhar Cristo no Caminho da Cruz, com a voz rouca dos que vivem no mundo carcerário, é uma oportunidade para assistir ao prodigioso duelo entre a Vida e a Morte, descobrindo como os fios do bem se entrelaçam inevitavelmente com os fios do mal”, refere a introdução às meditações, publicadas pela ‘Libreria Editrice Vaticana’.
A primeira estação conta com a reflexão de um condenado à prisão perpétua, que parte das palavras que a multidão dirigiu a Pilatos, sobre Jesus: “Crucifica-o”.
“Depois de 29 anos de prisão, ainda não perdi a capacidade de chorar, de me envergonhar pelo mal que fiz (…) porém sempre procurei algo que fosse vida”, relata.
Na segunda estação (Jesus carrega a cruz), a meditação foi escrita por um casal cuja filha foi assassinada: “No momento em que o desespero parece tomar conta de tudo, o Senhor, de várias formas, vem ao nosso encontro, dando-nos a graça de nos amarmos como casal, apoiando-nos um ao outro, mesmo com dificuldade”.
Um recluso conta como tentou o suicídio, na prisão, mas depois encontrou a luz, por meio do encontro com pessoas que lhe davam novamente “a confiança perdida”, mostrando-lhe que neste mundo existe também a bondade.
A mãe de um preso compara o seu sofrimento ao de Maria, que viu Jesus condenado à morte, e diz que “nem mesmo por um instante” teve a tentação” de o abandonar: “Imagino que Jesus, ao elevar o seu olhar, se tenha cruzado com os olhos da sua mãe cheios, de amor e não se tenha sentido sozinho em nenhum momento. Assim quero que se sinta o meu filho”.
Uma catequista apresenta o seu “segredo” para estar junto dos presos, “respeitando os seus silêncios, escutando as suas dores, procurando olhar para lá do preconceito”.
Um sacerdote acusado e depois absolvido fala da sua Via-Sacra pessoal, que durou 10 anos, “inundada por arquivos, suspeitas, acusações e injúrias”.
“O dia em que fui absolvido descobri que era mais feliz do que há dez anos: toquei com a mão a ação de Deus na minha vida. Preso na cruz, o meu sacerdócio iluminou-se”, escreve.
Um juiz convida a “reconhecer a pessoa escondida por trás da culpa cometida”, para que se possa “dar esperança às pessoas condenadas”.
A sua oração é pelos “magistrados, juízes e advogados, para que se mantenham íntegros no exercício do seu serviço”, em favor, principalmente, dos mais pobres.
celebração, com início marcado para as 21h00 de Roma (menos uma em Lisboa), decorre habitualmente no Coliseu; este ano, por causa da pandemia de Covid-19, será presidida pelo Papa Francisco no Vaticano, no adro da Basílica de São Pedro.
OC

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