terça-feira, 12 de maio de 2020

Maria, mulher da esperança e do cuidado

Exemplo de Maria é alento à fé neste tempo de crise, em que a vida e a esperança são ameadas por um vírus
Mês de maio é dedicado à Maria, mãe de Jesus
Mês de maio é dedicado à Maria, mãe de Jesus (Francesco Alberti/ Unsplash)
Carlos César Barbosa, SJ*

Tradicionalmente, dentro do contexto católico, o mês de maio é dedicado à Maria, mãe de Jesus, onde, a piedade popular, de modo diverso e criativo, sempre procurou honrá-la com muita fé e devoção. Estamos vivendo um mês de maio diferente de todos os outros que já vivemos. Encontramo-nos à sombra de uma pandemia que tem exigido muito de todos nós. O nosso modo de viver e de se relacionar mudou. O modo de celebrar a nossa fé também. As missas, as quermesses, festas e coroações de Nossa Senhora como estávamos acostumados ficarão para depois. Ainda assim, não podemos deixar passar o pretexto que este mês nos dá para dedicarmos à Maria, Mãe de Jesus, um tempo de reflexão, estudo e oração.

Ciente dessa tempestade que estamos atravessando, o Papa Francisco enviou uma carta a todos os fiéis para este mês de maio, onde ele recorda o amor e a devoção do povo à Virgem Maria. Nesta mesma carta o Papa convida a todos a rezarem o terço e outras orações marianas. De fato, essa devoção à pessoa de Maria é uma riqueza da Igreja e quanto mais essa devoção estiver ancorada nas fontes bíblicas, melhor nos aproximaremos daquela que é Bendita pelas maravilhas que Deus nela realizou.

Não podemos negar que ao longo dos séculos a figura de Maria foi ganhando uma infinidade de adornos que, não raras as vezes, ofuscaram a sua simplicidade e pureza. Porém, para além de toda a realeza e demais títulos honoríficos que se devotam a Maria, não podemos esquecer que o que marca a sua vida é a simplicidade, a escuta e a sua confiança em Deus. Por mais que no decorrer do tempo muitos tenham manipulado a fé e desviado daquilo que é o essencial, sempre que lemos os relatos evangélicos onde Maria aparece veremos que sua vida é marcada por dois pontos fundamentais.  O primeiro é que as suas palavras e o seu agir são uma bússola que apontam sempre para Jesus. Como mediadora, Maria não ofusca a mediação singular de seu Filho.

Num segundo ponto percebemos que há um abismo entre a sua vida e as estruturas de poder com os seus poderosos. Ao entoar um cântico a Deus (Lc 1,46-55) Maria, além de reconhecer as maravilhas realizadas pelo Altíssimo, recorda a história da promessa fazendo uma síntese do Antigo Testamento, mas sem deixar passar batido a questão das relações sociais e da justiça de Deus que vai ao encontro dos pequenos.

Neste tempo de crise onde a nossa vida e a nossa esperança se encontram ameaçadas por um vírus, lembrar da jovem mulher de Nazaré como uma mulher que sempre aponta para Deus e que não se esquece de quem sofre, é um alento à nossa fé.

Maria é essa figura cheia de significados. Mesmo em meio aos seus medos e dúvidas ela foi fiel, viu além.  (Lc 1,26-38).  Corajosa, não hesitou em arriscar a sua vida ao projeto divino. Na dificuldade, confiou. (Lc 2,1-21). Na falta de clareza dos fatos, num silêncio eloquente, soube guardar as coisas em seu coração. (Lc 2,22-40). Sensível, soube sair de si para ir ao encontro de quem necessitava. (Lc 1,39-45; 56). Atenta, ela cuidou, intercedeu. (Jo 2,1-11) Na dor, permitiu ser acolhida e cuidada. (Jo 19,25-27)

A coragem, a escuta, o compromisso e o cuidado que vemos em Nossa Senhora podem inspirar a todos nós. Em cada acontecimento, Maria foi discernindo a sua participação no projeto de Deus.  Também nós, na realidade que se nos impõe em tempos de pandemia, somos provocados a discernir, a ter coragem, a escutar os sinais dos tempos, a se comprometer com um mundo novo e a cuidar uns dos outros.

O testemunho é uma grande escola. Passar um tempo com aquelas pessoas que admiramos pode nos ensinar muito. Por isso, podemos neste mês de maio ter Nossa Senhora como uma companheira próxima de quem podemos aprender muito.  Seja num terço, numa reza, numa ladainha, numa leitura bíblica, numa conversa de filho ou através daquela velha canção mariana dos tempos de criança, que possamos, seja como for, aproximarmos mais daquela que é Bendita e Bem-aventurada.

Contemos com a intercessão e o exemplo de Maria.

*Carlos César é jesuíta, graduado em Relações Internacionais pelo Centro Universitário de Brasília (UniCEUB). Estudou na Universidad de La República (Montevideo). Atualmente estuda na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte. (FAJE); E-mail: carloscesarsj@outlook.com

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