sexta-feira, 5 de junho de 2020

A auto-imolação pública de Augusto Aras


Por Luis Nassif -05/06/2020
Faria bem o Procurador Geral Augusto Aras de pensar no destino pós-PGR, analisando seus antecessores.

Geraldo Brindeiro passou a história como envagetador geral da República. Deixou uma herança incõmoda para filhos e netos.

Rodrigo Janot jogou o Ministério Público Federal na aventura irresponsável de interferir na política Está no ostracismo, rejeitado por amigos e familiares.

Raquel Dodge aceitou a corte de Jair Bolsonaro. Senhora fina, expôs-se em público rindo das piadas escatológicas de Bolsonaro. Dona de uma biografia impecável, até aceitar disputar a simpata de Bolsonaro, jogou-a no lixo. Em alguns meses, jogou fora uma reputação que levou décadas para ser construída.

Sérgio Moro acreditou na palavra de Bolsonaro, preparou-se para uma vaga no Supremo, e termiou expelido do governo depois de uma série de desautorizações humilhantes. Hoje reclama da perseguição que sofre do Poder.

Na outra ponta, o grande Cláudio Fontelles, também ex-PGR, envelhece na mais absoluta dignidade, gozando do respeito geral. E Deborah Duprat deixa a Procuradoria Federal dos Direitos Humanos respeitada internacionalmente por sua coerência, coragem e compromisso com sua missão de defender os desvalidos.

Dois episódios recentes comprovam a autodestruição da biografia de Aras.

O primeiro, a lisonja humilhante de Bolsonaro, condecorando-o e acenando publicamente com uma improvável terceira vaga no Supremo Tribunal Federal. Deu a entender publicamente que  Aras é barato: se vende por recompensa futura. Tratou-o como ambicioso e tolo, oferecendo-lhe pastel de vento.

O segundo, a sua oferta para participar do inquérito das fakenews – depois de ter tentado impedi-lo – , e a reação do STF de não aceitar a ajuda. Passou a mensagem pública de que Aras não é um interlocutor confiável e que poderia atuar como 5a coluna. Ou seja, convalidou o inquérito das fakenews e continuará sem participar das investigações

Quem conhece Aras sabe que ele é capaz de manobras imprudentes, mas não de deslealdades. Pouco importa. Ele está construindo sua biografia pública e é, através dela, que a historia o tratará.

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