domingo, 2 de agosto de 2020

.Jesus foi promotor da fraternidade

Reflexão do Evangelho do 18º domingo do Tempo Comum - Mt 14,13-21
O relato do evangelho lembra-nos de que não podemos comer tranquilos o nosso pão e o nosso peixe, enquanto junto a nós há homens e mulheres ameaçados por tantas 'fomes'
O relato do evangelho lembra-nos de que não podemos comer tranquilos o nosso pão e o nosso peixe, enquanto junto a nós há homens e mulheres ameaçados por tantas 'fomes' (Free Bible Images/Lumo Project)
José Antonio Pagola*
RD

Um provérbio oriental diz que "quando o dedo do profeta aponta para a lua, o tolo olha para o dedo". Algo semelhante poderia ser dito de nós quando fixamos exclusivamente no caráter portentoso dos milagres de Jesus, sem alcançar a mensagem que eles contêm.

Porque Jesus não foi um milagreiro dedicado a realizar prodígios propagandísticos. Seus milagres são sinais que abrem uma brecha neste mundo de pecado e apontam já para uma realidade nova, meta final do ser humano.

Concretamente, o milagre da multiplicação dos pães convida-nos a descobrir que o projeto de Jesus é alimentar os homens e reuni-los numa fraternidade real na qual saibam como partilhar "seu pão e seu peixe" como irmãos.

Para o cristão, a fraternidade não é uma exigência junto com outras. É a única maneira de construir, entre os homens, o reino do Pai. Essa fraternidade pode ser mal entendida. Com demasiada frequência a confundimos com "um egoísmo vivo que sabe comportar-se muito decentemente" (Karl Rahner).

Pensamos que amamos o nosso próximo simplesmente porque não lhe fazemos nada especialmente mau, embora mais tarde vivamos com um horizonte mesquinho e egoísta, despreocupados de todos, movidos apenas pelos nossos próprios interesses.

A Igreja, enquanto "sacramento de fraternidade", é chamada a promover, em cada momento da história, novas formas de estreita fraternidade entre os homens. Os crentes devem aprender a viver com um estilo mais fraterno, escutando as novas necessidades do homem de hoje.

A luta pelo desarmamento, a proteção do meio ambiente, a solidariedade com os famintos, o partilhar com os desempregados as consequências da crise econômica, a ajuda aos drogados, a preocupação com os idosos sozinhos e esquecidos... são outras tantas exigências para quem se sente irmão e quer "multiplicar" por todos o pão que os homens necessitam para viver.

O relato do evangelho lembra-nos de que não podemos comer tranquilos o nosso pão e o nosso peixe, enquanto junto a nós há homens e mulheres ameaçados por tantas "fomes". Os que vivem tranquilos e satisfeitos devem ouvir as palavras de Jesus: "Dai-lhes vós de comer".

Publicado originalmente por Religión Digital e traduzido pelo IHU

*José Antonio Pagola é padre e tem dedicado a sua vida aos estudos bíblicos, nomeadamente à investigação sobre o Jesus histórico. Nascido em 1937, é licenciado em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma (1962), licenciado em Sagradas Escrituras pelo Instituto Bíblico de Roma (1965), e diplomado em Ciências Bíblicas pela École Biblique de Jerusalém (1966). Professor no seminário de San Sebastián (Espanha) e na Faculdade de Teologia do Norte de Espanha (sede de Vitória), foi também reitor do seminário diocesano de San Sebastián e vigário-geral da diocese de San Sebastián.

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