Padre Geovane Saraiva*
O seguidor de Jesus de Nazaré é
uma pessoa aguerrida, dinâmica e incontestável no compromisso de buscar o bom Senhor,
enquanto Ele pode ser achado e invocado, embora altíssimo e onipotente, que
quer estar intimamente perto como seu aliado (cf. Is 55, 6-9). Ele conta com o
sonho esperançoso, mas num caminho de superação e de não se desanimar, mesmo
diante de inevitáveis labirintos, nas curvas sinuosas e tortuosas da vida. É o
que nos ensina, irmãos e irmãs, o profeta Isaías, no acima citado, de procurar
conhecer sempre mais a vontade de Deus. Saiba, pois, que nunca é tarde para se
acolher o projeto redentor e salvífico do Pai, evidentemente no distanciamento
e abandono de iniquidades, crueldades, intolerâncias e injustiças, pelo seu bom
coração, afetuoso, afável, plenamente convertido à proposta divina.
O mundo inteiro, neste final de
setembro e início de outubro, festeja o mais universal de todos os santos:
Francisco de Assis. Que o altíssimo e bom Deus derrame, na humanidade inteira,
o espírito do trovador de Assis, no seu amor dedicado a Deus e suas criaturas,
ao impressionar a todos, atraindo aquele mesmo amor acalorado e compassivo,
anunciado por Jesus de Nazaré. É preciso – e como nos faz um enorme bem – ver
Francisco de Assis, da inconsequência ao despojamento. Como não pensar num
jovem envolvido em riqueza e opulência, na corrida insensata e louca dos bens
materiais, ao gastar, ou estourar, dinheiro nas ostentações. Por outro lado, os
negócios de seu pai, que era um comerciante bem-sucedido, pouco lhe despertaram
interesse, sem falar nos estudos. O que ele queria mesmo era curtir, se
divertir e viver a vida na lógica do mundo.
No entanto, Deus nele foi mais
forte, seduzindo-o. Segundo um contemporâneo seu, São Boaventura, ao escrever
sobre o irmão universal, disse: “Mas, com o auxílio divino, jamais se deixou
levar pelo ardor das paixões que dominavam os jovens de sua companhia”. Com seu
exemplo de vida, uma vez convertido, insistiu com sua explícita e incisiva
mensagem de paz, dizendo que nossas relações deveriam caminhar na lógica da
salvação do mundo, e não no seu abandono, numa postura radical, na sua
proximidade com a natureza, que sempre foi a característica mais conhecida do
santo irmão de Assis, sem esquecer os desvalidos do mundo, numa vida infra-humana. Nesse contexto asseverou Dom Helder: “Mais do que o comum
dos dias, olhei o mais que pude os rostos dos pobres, gastos pela fome,
esmagados pelas humilhações, e neles descobri teu rosto, Cristo Ressuscitado!”.
Permita-me uma palavra sobre o
Pe. Júlio Lancellotti, com seu labirinto tenebroso, na dedicação em ajudar moradores de rua, portadores
de HIV, dependentes químicos, menores abandonados e detentos em condições
desumanas, vendo em si mesmo o espírito de Francisco de Assis, ao ser xingado,
ultrajado, perseguido, ou mesmo ameaçado de morte. Aqueles que o hostilizam,
por abraçar, ouvir e alimentar quem não tem absolutamente nada e que vive
largado, sujo, dormindo pelas ruas, que sejam atingidos pela compaixão do
altíssimo e bom Senhor. Assim seja!
*Pároco de Santo Afonso, blogueiro, escritor e integrante da
Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).
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