Padre Geovane Saraiva*
Auristela Leite é uma mulher da Paróquia de Santo Afonso que tem preocupação e
carinho para com os vulneráveis, os moradores de rua, em sua costumeira
presença, à noite, nas praças da nossa querida Fortaleza, levando alimento e,
por vezes, lençóis e agasalho a seus habitantes, além do conforto e alento
espiritual. Pode acreditar! Tenho a certeza de que ela não quer louvores e muito
menos vênias. Ela já chegou a me confidenciar certa vez: “Pe. Geovane, não gosto
muito de elogios e tenho até nojo daquele linguajar jurídico e acadêmico, que
parece lembrar a imagem do ‘santo do pau oco’, chegando próximo da hipocrisia”.
Um dia ela me disse, dentro do contexto da missão universal da Igreja – e
estamos vivendo o Mês Missionário 2020: “Gosto muito de Dom Helder, em sua
apaixonante afirmação: ‘Missão é partir, é não se deixar bloquear nos problemas
do pequeno mundo a que pertencemos: a humanidade é maior. Missão é partir, mas
não devorar quilômetros. É, sobretudo, abrir-se aos outros como irmãos,
descobri-los e encontrá-los. E se, para encontrá-los e amá-los, é preciso
atravessar os mares e voar lá nos céus, então Missão é partir até os confins do
mundo’”. Auristela, mulher afável, terna e carinhosa, tendo na mente e no
coração os desprotegidos deste mundo, tão marcados pela dor, no sofrimento de
toda natureza, disse-me também: “O Papa Francisco é minha inspiração no meu
humilde compromisso por um mundo inclusivo e solidário, por uma Igreja em saída,
mas nunca posso esquecer aquele papa da bondade, São João XXIII (1958-1962), no
seu especial carinho para com as crianças, às quais, mesmo em tempo de pandemia,
gosto de chamar de ‘maluquinhos’”. Nossa paroquiana tem larga clareza de que São
João XXIII percebeu os sinais dos tempos, na sua urgência por renovação ou
rejuvenescimento, o “aggiornamento”, mas dentro de uma nova pedagogia: a de que
se pode contar com o remédio, o perdão, a misericórdia e a brandura, e não com a
severidade. Assim, São João XXIII, com um carinho de que lhe era peculiar,
chegou a dizer aos padres conciliares: “Quando vocês voltarem para casa
encontrarão crianças. Deem a elas um carinho e digam: Este é o carinho do Papa”.
Ó Deus e Pai de bondade, ajude-nos a compreender que a vida é missão, é dom e
compromisso, como na voz do profeta Isaías: “Eis-me aqui! Envia-me!”. Assim
seja! *Pároco de Santo Afonso, blogueiro, escritor e integrante da Academia
Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).
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