Padre Geovane Saraiva*
Pensemos no contexto bíblico da
criação, com o paraíso, o pecado original (serpente), Caim e Abel, e muitos
outros assuntos, no início do Livro do Gênesis, que tem sua plausível
sustentação no bom Deus, ao tomar a decisão de descer do céu, encarnar-se na
história humana e, de um modo pedagógico, instaurar seu reino de justiça e paz.
O Livro Sagrado nos revela a grandeza de um Deus que, além de criar tudo por
amor, é imensamente rico, maravilhoso, belo e vastíssimo no seu amoroso
mistério. No Livro do Gênesis, constata-se o sentido alegórico e poético da
vida como um todo, ao louvar a preciosidade da natureza, como bondade de Deus,
na contemplação dos céus, na sua amplitude e sublime dimensão, numa simbologia
à luz divina com seu esplendor.
Temos a terra e nela os minerais,
as águas, as numerosas plantações, as incontáveis variedades e modos de se
perceber a beleza da vida. Também não se pode esquecer a narrativa do
abismo e nele as forças do mal, na constante tentativa da ameaça de arrastar o
homem e a criação, sendo todos conduzidos ao caos (cf. Gn 1, 1ss). Já no Livro
dos Provérbios e no da Sabedoria, percebe-se a elevação e exaltação da
sabedoria, não deixando dúvidas de que nela se vê o próprio Deus, presente e
vista nos acontecimentos; evidentemente, são obras de suas mãos maravilhosas.
Somos convidados, com o rigor da
razão e muito mais ainda com o rigor da fé, a contemplar a origem de tudo que
existe: “Deus contemplou toda a sua obra, e viu que tudo era muito bom”, obra
esta que encontra nos seres humanos, criaturas de Deus, seu pleno acabamento,
quando na manjedoura somos convidados a perscrutar e admirar aquilo que nos foi
prometido, com a promessa de restaurar todas as coisas consigo. Urge da nossa
parte, criaturas de Deus, colocar o projeto de vida realizado acima dos nossos
interesses ou projetos pessoais. O ideal seria uma reação, com a retomada de um
grande mutirão de solidariedade, dando entonação e relevância ao dom mais
precioso: a vida.
Dentro do espírito escatológico
do Natal e nele o sonho do acabamento do mundo, o que resta à humanidade é uma
única coisa: radicalizar, distanciando-se da “serpente” como mal maior. Ignorar
o espírito do “negacionismo, obscurantismo e anticientificismo”, que seja mais
do que um sonho, sem esquecer-se da ideia deletéria de se estabelecer uma pauta
em que se estimule sempre mais o uso das armas, contrariando a paz e a aurora
afável e terna da criança da estribaria, tendo como drástica consequência o
espanto assombroso, quanto ao abismo da odiosa violência. Assim seja!
*Pároco de Santo Afonso, blogueiro, escritor e
integrante da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).
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