Padre Geovane Saraiva*
Muitos foram os séculos, em que a criatura humana passou a gemer seu pecado, sem nenhum raio de sol e se queixando na sua própria sombra e abismo. Deus, no entanto, promete um salvador, numa didática a ensinar a todos os homens que só se pode superar os empecilhos, no sentido mais pleno, quando se consegue destruir o pecado e tudo que lhe é contrário, favorecido pelo dom da compaixão e da graça divina. É a promessa feita pelo nosso Deus, que renova, perpassando a história, não limitada somente ao povo de Israel, mas que se volta à humanidade inteira. Pensemos no pecado e na queda do primeiro homem, Adão. Nele o plano divino: nossos primeiros pais, criados à imagem e semelhança de Deus, em estado de graça e santidade, sendo presenteados com dignidade de filhos de Deus.
A sabedoria de Deus é pelo reino da paz, da justiça e da verdade que se estabelece e se manifesta ao mundo, indo ao encontro das criaturas humanas, neste tempo do Advento, tempo este que precede o Natal do Senhor. Da nossa parte, como criaturas de Deus, cabe acolher, como dom e graça, o esplendor e a plenitude da paz, aquela paz encantadora, proclamada numa inaudita melodia pela multidão dos anjos da coorte celestial: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade” (Lc 2, 14). Na insignificância e na fragilidade do mistério da criança da estribaria, comporta a exultação na mais extrema alegria, com a presença de um Deus no meio da humanidade, no engrandecimento e na exaltação da dignidade humana.
No Senhor, em quem – com toda disposição – confiamos e nele se encontra nossa única esperança, na certeza de que todo vale será aterrado, toda montanha e colina serão rebaixadas, também as passagens tortuosas ficarão retas e os caminhos acidentados ficarão nivelados (cf. Is 40, 3-4). Deus se manifesta a todos os povos da terra, em meio aos vales de preconceitos e racismo, facções, chacinas e guerras das montanhas acidentadas da vida humana, sem esquecer das passagens e dos caminhos tortuosos a serem percorridos pelos migrantes e refugiados.
No Cristo, que é nossa paz, que se volte o nosso olhar dócil e afável para a realidade das festividades de final de ano, nas quais estamos inseridos, na convicção em Deus de que não seja só “festividade ilusória”, mas, sim, em Deus uma “nova festividade”, mesmo com o desafio da pandemia e suas consequências, nas cruzes a carregar. Que no Emanuel, a nos visitar neste tempo abençoado, como rei justo, solidário e pacífico, longe do ódio, da inveja e de todo mal, aplainem-se as elevadas e acidentadas montanhas do nosso coração, dando-nos a esperança que não ilude. Assim seja!
*Pároco de Santo Afonso, blogueiro, escritor e integrante da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).
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