Padre Geovane Saraiva*
Portanto, jamais devemos prescindir da sabedoria encarnada de Deus Pai, no Filho Jesus, em sua essência, no sentido mais elevado, com muita lucidez, de alma grande e aberta, ao sonho de justiça, paz e fraternidade. Devemos compreender, viver, perseguir e também não hesitar, neste mundo tão complexo, sem ignorar os sinais da diversidade. Não se pode mesmo dispensar a proposta da instauração do Reino de Deus, nos estigmas da violência e da miséria, da intolerância e do preconceito. Hesitar, sim, para não incorrer na mediocridade, como afirmou Dom Helder: “Das barreiras a romper a que mais custa e a que mais importa é, sem dúvida, a da mediocridade”.
No mundo dos empobrecidos, dos marginalizados, dos esquecidos, percebe-se, em nossos dias, uma acentuada tentativa – mesmo dentro da Igreja hierárquica – de se negar sua ação a partir do Concílio Vaticano II (1962-1965) e final do segundo milênio, quando esta tem se voltado, através do povo de Deus – religiosos e religiosas; padres e bispos –, imbuída do mais elevado espírito profético, como na frase célebre de Dom Aloísio Cardeal Lorscheider: “A Igreja é e deve ser essencialmente comunidade de fé e de luta, construindo laços fraternos de verdade, não apenas agregar multidões e entretê-las”.
Persistência, sim, para que ninguém e nada possa aprisionar o que temos de mais sagrado: o de cultores da liberdade de filhos de Deus, com desempenho evidente, notável e perceptível neste mundo contraditório, além da pregação afinada e harmônica em comunhão com a Igreja Universal, na fé lúcida e na esperança profética, curvando-se no quanto for preciso, dizendo sim à vida como dom e graça. Quero me valer do poeta maior, Fernando Pessoa, que de verdade, em nossos bons propósitos, na vontade de edificar o Reino de Deus, não nos deixou dúvida alguma, porque “nossa alma não é pequena”.
Sendo assim, temos a distância quilométrica de gente da Igreja hierárquica, de “alma apequenada”, nos acentuados equívocos, mesmo aqui no Brasil, com parcos argumentos e fracos conteúdos, de alma e coração minúsculos. Com um elevado grau de arraigado fundamentalismo, terraplanismo e negacionismo, contraria a proposta inclusiva de Jesus de Nazaré, na sua novidade e anúncio maior: o Reino de Deus. Assim seja!
*Pároco de Santo Afonso, blogueiro, escritor e integrante da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).
Nenhum comentário:
Postar um comentário