terça-feira, 4 de maio de 2021

Jesus de Nazaré, o filho do carpinteiro

Padre Geovane Saraiva*

Jesus de Nazaré, o homem histórico, que cito de propósito nas reflexões pastorais, nasceu em Belém, cresceu e viveu neste mundo bastante concreto, sendo obediente às leis de seu tempo. De uma família de gente e pessoas humanas, participou de conflitos e clamores de sua sociedade e partilhou também da esperança e realidade de seu povo como qualquer outra pessoa. No seu tempo, a partir do contexto histórico do seu nascimento, não existia o costume de usar sobrenome ou nome para falar de pessoas. Era hábito natural falar da cidade e lugar onde a pessoa tivesse nascido ou vivido, ou quem eram seus pais. Escutamos, nos Evangelhos, Jesus sendo chamado com os seguintes nomes: Jesus de Nazaré; Jesus, o Nazareno; o filho do carpinteiro. “Ele foi habitar na cidade de Nazaré, para que se cumprisse o que fora dito pelos profetas: Ele será chamado Nazareno” (Mt 2, 23).

O fim último do homem, em meio a tudo o que é obscuro, no que diz respeito às suas origens, é o de debruçar-se ou ocupar-se de sua sabedoria, na sua condição humana, à luz da fé, que o futuro lhe reserva, a partir de Jesus de Nazaré, revelação do que de mais humano existe em Deus e o que de mais divino existe na criatura humana. Em Jesus de Nazaré reside o poder de realizar milagres, identificado e tendo à sua disposição, de modo soberano, o poder do Pai. Na sua palavra, que é eterna, Jesus de Nazaré é maior do que o rei Salomão, é maior do que o templo, Ele que conhece o Pai, numa convivência de laços estreitados e íntimos, a ponto de afirmar: “Eu e o Pai somos um”, com sua têmpora, conduta, índole e natureza elevadamente divina, mas de uma vida comum e harmônica das duas pessoas, se assim posso afirmar.

Sendo real e histórico, e de condição humana, sem querer entrar naquele Jesus de Nazaré, o da fé, mas, sim, no filho do carpinteiro que viveu a mesma vida dos seres humanos sobre a terra, sua contribuição maior foi presentear Deus à humanidade. Como filho de Deus, tornou Deus visível, mas no sentido autêntico e verdadeiro, como na assertiva do teólogo Joseph Ratzinger: “Ele quer rasgar a cortina; ele quer saber o que acontecerá para escapar do mal e para ir ao encontro da salvação”. E enfatiza mais, a respeito das religiões: “Não estão apenas ordenadas para o futuro; as religiões procuram, de certo modo, levantar o véu do futuro. Elas são importantes precisamente porque sabem mediar sobre o que há de vir e podem, assim, indicar ao homem o caminho que deve tomar para não fracassar. Por isso é que praticamente todas as religiões desenvolveram formas de visão do futuro”1.

Jesus de Nazaré falou em alto e bom tom no sentido da vida, da liberdade dos filhos de Deus, e pelo anúncio do amor como bem maior e supremo, num não aos sinais de morte e num sim à vida, ao clamar por justiça, fraternidade e paz, indo até as últimas consequências. A bondade ilimitada de Jesus de Nazaré comprova os Evangelhos, na característica determinante de seu coração, sensibilizado e compungido nas dores da humanidade, como nos assegura o apóstolo Pedro: “Ele passou por toda parte fazendo o bem a todos (At 10, 38); curou os doentes e se compadeceu dos pecadores” (Mt 8, 16-17). Assim seja!

*Pároco de Santo Afonso, blogueiro, escritor e integrante da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).

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1 Joseph Ratzinger, Bento XVI, Jesus de Nazaré, p. 21   


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