Padre Geovane Saraiva*
Jesus de
Nazaré, o homem histórico, que cito de propósito nas reflexões pastorais,
nasceu em Belém, cresceu e viveu neste mundo bastante concreto, sendo obediente
às leis de seu tempo. De uma família de gente e pessoas humanas, participou de
conflitos e clamores de sua sociedade e partilhou também da esperança e
realidade de seu povo como qualquer outra pessoa. No seu tempo, a partir do
contexto histórico do seu nascimento, não existia o costume de usar sobrenome
ou nome para falar de pessoas. Era hábito natural falar da cidade e lugar onde
a pessoa tivesse nascido ou vivido, ou quem eram seus pais. Escutamos, nos
Evangelhos, Jesus sendo chamado com os seguintes nomes: Jesus de Nazaré; Jesus,
o Nazareno; o filho do carpinteiro. “Ele foi habitar na cidade de Nazaré, para
que se cumprisse o que fora dito pelos profetas: Ele será chamado Nazareno” (Mt
2, 23).
O fim último do
homem, em meio a tudo o que é obscuro, no que diz respeito às suas origens, é o
de debruçar-se ou ocupar-se de sua sabedoria, na sua condição humana, à luz da
fé, que o futuro lhe reserva, a partir de Jesus de Nazaré, revelação do que de
mais humano existe em Deus e o que de mais divino existe na criatura humana. Em
Jesus de Nazaré reside o poder de realizar milagres, identificado e tendo à sua
disposição, de modo soberano, o poder do Pai. Na sua palavra, que é eterna,
Jesus de Nazaré é maior do que o rei Salomão, é maior do que o templo, Ele que
conhece o Pai, numa convivência de laços estreitados e íntimos, a ponto de
afirmar: “Eu e o Pai somos um”, com sua têmpora, conduta, índole e natureza
elevadamente divina, mas de uma vida comum e harmônica das duas pessoas, se
assim posso afirmar.
Sendo real e
histórico, e de condição humana, sem querer entrar naquele Jesus de Nazaré, o
da fé, mas, sim, no filho do carpinteiro que viveu a mesma vida dos seres
humanos sobre a terra, sua contribuição maior foi presentear Deus à humanidade.
Como filho de Deus, tornou Deus visível, mas no sentido autêntico e verdadeiro,
como na assertiva do teólogo Joseph Ratzinger: “Ele quer rasgar a cortina; ele
quer saber o que acontecerá para escapar do mal e para ir ao encontro da
salvação”. E enfatiza mais, a respeito das religiões: “Não estão apenas
ordenadas para o futuro; as religiões procuram, de certo modo, levantar o véu
do futuro. Elas são importantes precisamente porque sabem mediar sobre o que há
de vir e podem, assim, indicar ao homem o caminho que deve tomar para não
fracassar. Por isso é que praticamente todas as religiões desenvolveram formas
de visão do futuro”1.
Jesus de Nazaré
falou em alto e bom tom no sentido da vida, da liberdade dos filhos de Deus, e
pelo anúncio do amor como bem maior e supremo, num não aos sinais de morte e
num sim à vida, ao clamar por justiça, fraternidade e paz, indo até as últimas
consequências. A bondade ilimitada de Jesus de Nazaré comprova os Evangelhos,
na característica determinante de seu coração, sensibilizado e compungido nas
dores da humanidade, como nos assegura o apóstolo Pedro: “Ele passou por toda
parte fazendo o bem a todos (At 10, 38); curou os doentes e se compadeceu dos
pecadores” (Mt 8, 16-17). Assim seja!
*Pároco de Santo Afonso, blogueiro,
escritor e integrante da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).
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1 Joseph Ratzinger, Bento XVI, Jesus de Nazaré, p. 21
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