Alhures, já falei
repetidas vezes sobre uma Igreja portadora da esperança, que muito fala da
esperança, sendo sua razão de ser, de existir, e seu sonho muito acima dos
demais, mas que nem sempre assegura e provoca a suficiente esperança.[2]
Entende-se como mística a
espiritualidade de Jesus de Nazaré, própria do tempo quaresmal, a do silêncio e
do abandono nas mãos do absoluto de Deus, juntando-se à escuta da Palavra de
Deus, da adoração a Jesus eucarístico, sem esquecer do evangelho da cruz e da
busca do último lugar, identificada aqui com a espiritualidade de Charles de
Foucauld, aquele que foi seduzido pelo amor de Deus, ao confessar seus pecados
e sentir uma indizível alegria, a mesma alegria do filho pródigo. O emblema
apocalíptico da contemplação do Filho de Deus, com a parábola do pai bondoso,
ou misericordioso, que quer chegar ao preconceito dos doutores da lei e dos
fariseus, pessoas consideradas puras, justas e distantes daquelas que, ao
contrário, não eram consideradas boas e também pecadoras. Fica claro que o pai
bondoso é o próprio Deus, que, com seus didáticos ensinamentos, quer ver os
filhos livres, em suas escolhas e decisões.
Numa religião que carrega consigo
as marcas da esperança, eis o pensamento do grande educador e pensador Rubem
Alves: “Eu achava que religião não era para garantir o céu, depois da morte,
mas para tornar esse mundo melhor, enquanto estamos vivos”.[3]
Voltados para uma confissão integralmente pura, que Deus nos dê o dom da
misericordiosa graça, para que, pela mística cristã, possamos experimentar o
amor de Deus-Pai, que ama a todos indistintamente, estando sempre de braços
abertos para acolher os filhos que retornam ao aconchego do bom, generoso e
misericordioso pai.
*Pároco de Santo Afonso, blogueiro, jornalista, escritor,
poeta e integrante da academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).
[1] Cf.
Lc 15, 15 - 31
[2]
Hans Küng, Celebração do Culto Divino.
[3]
Rubem Alves: Educador e Pensador
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