Padre Geovane Saraiva*
Dom Aloísio, ao se tornar
Arcebispo de Fortaleza (1973-1995), dentro do seu ideal franciscano, tinha bem
claro as resoluções do Concílio Vaticano II, dizendo logo de início: “A
comunidade eclesial não é feudo do bispo, mas ele é o servidor de uma Igreja
que se entende a si mesma como sacramento do Reino, isto é, da presença da
verdade e do amor infinito de Deus para com cada criatura humana”. Daí ele não compreender como algo natural e
normal ter que conviver com a miséria e o acentuado empobrecimento do povo, que
tinha como consequência o êxodo, o flagelo e a morte de muitos irmãos.
O povo de Deus no Brasil e, de
modo particular, no Ceará (Arquidiocese de Fortaleza), passou a contar com o
dom da profecia do Cardeal Lorscheider, para dizer que não era vontade de Deus
a realidade aqui encontrada e, ao mesmo tempo, usou de todos os meios, com uma
enorme vontade de transformar essa mesma realidade de pecado, marcando
profundamente a caminhada da Igreja na Arquidiocese de Fortaleza. No dizer do
Desembargador Fernando Ximenes: “Em pleno regime de exceção, a sociedade
cearense logo sentiu os efeitos dessa guinada. As camadas desfavorecidas ou
marginalizadas, os sem-terra, os sem-teto, os presos políticos, os presidiários
comuns, os trabalhadores em greve – ganharam aliado de peso”.
Quando ele se tornou bispo
emérito de Aparecida, veio a seguinte pergunta: o que o senhor vai fazer?
Respondeu: “Sou um simples frade menor e vou fazer o que o meu provincial
mandar, porque a obediência me torna livre”. Jamais podemos esquecer a chama
luminosa de um coração amável e cheio de bondade, de uma pessoa humana, dotada
de grandes virtudes e qualidades, de um “bispo completo”, segundo o grande
teólogo Alberto Antoniazzi e nas palavras do Senador Tasso Jereissati: “do
homem mais ilustre da nossa geração, no Ceará, com a sua vida de dedicação à
causa dos excluídos”, do maior benfeitor e patrimônio do povo cearense, que
partiu há oito anos, deixando-nos tristes e com enorme saudade.
Agradecidos pelo dom de sua vida,
somos conscientes da sua importância na história recente da Igreja, de modo
especial pelo seu compromisso com o Reino de Deus, sensibilidade pastoral,
clareza diante dos desafios, sem jamais faltar-lhe a ternura do Bom Pastor,
Nosso Senhor Jesus Cristo. Que a paz, a alegria e a esperança possam chegar a todos e a todas, conforme a vontade de Deus, anunciada pelo anjo aos pastores: “Eu vos anuncio uma grande alegria, que será também a de todo povo: hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós o Salvador, que é o Cristo Senhor”!
*Pároco de Santo Afonso,
blogueiro, jornalista, escritor, poeta e integrante da Academia Metropolitana
de Letras de Fortaleza (AMLEF).
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