quarta-feira, 22 de março de 2023

O LEGADO DE KARL MARX

 Pe. Waldemir Santana*

No dia 14 de março, celebramos os 140 anos da morte do grande pensador político, Karl Marx. Filósofo e pensador, mas também jornalista, ele descreveu a produção material e a produção ideológica que justificava, a riqueza nas mãos de capitalistas a custa da miséria da classe trabalhadora. O trabalhador, nesse sistema criticado ferozmente por Marx, é desumanizado e transformado numa peça da engrenagem capitalista.

As palavras de Engels no dia do seu sepultamento foram emblemáticas, pois, revelavam a importância que teve esse grande pensador da história. “ Marx foi o homem mais odiado do seu tempo por governos absolutistas, como também republicanos, que o deportaram dos seus territórios”. As difamações contra ele eram crescentes, mas tudo isso ele colocava de lado como se fossem teias de aranhas, não tomando conhecimento e só respondia as agressões quando a necessidade extrema assim exigisse. Esse homem de grande lucidez, foi amado e reverenciado por trabalhadores de todas as partes do mundo. A sua grandeza de pessoa humana era profunda. Apesar de incontáveis adversários, nunca teve nenhum inimigo pessoal. O impressionante é que além do trabalho de organizar os trabalhadores em toda Europa, ainda tinha tempo de produzir uma obra tão vasta que ainda hoje é pesquisada. Cento e quarenta anos depois, a imensidão de toda sua obra ainda não foi totalmente publicada.

O legado teórico de Marx é extraordinário. Ele foi uma figura histórica de primeira grandeza que a partir de observações da realidade, formulou uma base teórica de uma envergadura invejável. Suas ideias políticas não brotavam de uma mente privilegiada, mas do cotidiano de trabalhadores que eram oprimidos pelo nefasto sistema capitalista. Quando Marx fala de modo de produção capitalista, ele o faz como uma chave de interpretação da história humana com suas contradições.

Marx viveu situações de muita carência. Seus filhos morreram de forma precoce, porque passaram por privações e extremas dificuldades que comprometeram a sustentabilidade da própria vida. No sistema capitalista essa realidade de mortes precoces continua com toda sua violência. Muitos morrem antes do tempo, porque não têm as condições adequadas de vida. O que nos deixa estupefatos é que as suas obras ganham vigor teórico em meio a tantas privações. É inconteste que esse arguto pensador deve ser lido e pesquisado para que possamos compreender as crises sucessivas pelas quais passa o sistema capitalista. Até seus inimigos teóricos e políticos têm que reconhecer que Marx foi a grande referência de todo pensamento contemporâneo. Nenhum pensador teve a influência no vértice do pensamento como Marx teve. Muitos afirmam com certa ingenuidade que Marx está superado, fora de moda. O certo é que Marx se sobrepõe a essas deturpações oriundas de capitalistas liberais e da esquerda sócio democrata. A vitalidade do seu pensamento é inquebrantável. Suas obras são instrumentos para pensar e transformar realidade social e política. Marx meios de transformação da realidade e não um dogma religioso cristalizado.

Hoje há ferrenhos adversários do pensamento de Marx. A história nos ajuda a entender uma coisa: quando um pensamento, não consegue derrubado devido a sua grandeza e solidez, procura-se mutilá-lo para que perca sua força teórica e prática. Assim acontece com Marx, como na Igreja acontece com a Teologia da Libertação. Procuram desacreditá-la por estar ao lado dos pobres contra a pobreza e a favor de sua libertação. A afirmação de Marx de que a religião é o ópio do povo, deve ser entendida dentro do seu quadro histórico. A religião pode ser o ópio do povo se ela legitima em nome de Deus a opressão de um povo. Sem sombra de dúvida, se Marx tivesse conhecido a Teologia da Libertação, jamais teria feito essa afirmação. 

Poucos pensadores tiveram a lucidez que Marx teve para compreender os mecanismos sociais, políticos e econômicos do sistema capitalista. Entre o pensador e o homem, o erudito e militante, estava a pessoa que fez da compreensão da história com todas as suas manifestações o seu alimento diário.

Esse grande pensador, abriu-nos um novo horizonte para uma vivência genuinamente num mundo conturbado e em crise dilacerante. É inegável atesta o velho historiador Eric Hobsbawm, as teses de Marx ainda são válidas e importantes para percorrermos outro caminho social e político.

Toda sua história de vida, foi marcada pela busca constante de outra configuração de mundo. Toda sua obra é densa, profunda, fruto da experiência do pensador com a realidade de pobreza. No seu tempo, como no nosso, forças obscuras regem o desenvolvimento social em benefício de uma classe burguesa perversa. Marx por sua coerência de vida e magnitude de seus escritos falou fundo na vida de seus admiradores e dos seus críticos.

O homem é eterno quando sua obra torna-se perene. Marx cumpriu bem a função da vida. Procurou ajudar aos cativos do sistema perverso e cruel que é o capitalismo. Um povo só se liberta se tiver quem o provoque. Decorridos 140 anos de sua morte, queremos render homenagem ao grande contestador das forças da opressão. Esse grande luminar e gigante da história humana permanecerá entre nós, iluminando-nos com a força dos seus escritos e de sua prática. 

 *Professor Universitário, da Fraternidade Jesus + Caritas e Sacerdote  na Arquidiocese da Paraíba

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