Veja entrevista exclusiva de Marina Borges, 22 anos, ao 'Fantástico'.
Segundo especialistas e médicos, foi um 'milagre' a jovem sair com vida.
A motorista que caiu da Ponte Rio-Niterói na segunda-feira (3) concedeu uma entrevista exclusiva ao Fantástico, no Hospital Pasteur, na Zona Norte do Rio, onde está internada. Marina Pinto Borges, de 22 anos, perdeu o controle do carro depois de uma freada. A batida na divisória de concreto jogou o veículo de volta para a pista. Foram oito capotagens, até cruzar as quatro faixas do sentido Niterói-Rio e despencar
"Abri o olho, está o carro todo capotando. Fechei o olho. Quando abri de novo, vi o airbag acionando. Fechei o olho. Quando eu abri, água. Eu achava que o carro tinha capotado, caído e ponto. Estou segura. Vou soltar o sinto e sair andando", contou.
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O choque foi o suficiente para lançar o carro de Marina por sobre a proteção lateral, resultando em uma queda de 50 metros até as águas da Baía de Guanabara, onde ficou boiando até o resgate dos bombeiros. Foi o primeiro acidente em que a vítima sobreviveu após cair dessa altura na Ponte Rio-Niterói.
“A maioria dessas oito voltas, ela dá encostando ainda no pavimento. Duas voltas foram sobre o ar. Então foi um choque com bastante energia mesmo. Um choque bastante grave”, disse Rodolfo Borrel, gestor de atendimento da concessionária CCR Ponte.
Cirurgia
A jovem recebeu o primeiro atendimento médico na Marina da Glória, na Zona Sul, e foi levada para o Hospital Municipal Souza Aguiar. Para a surpresa da equipe médica, Marina não teve fraturas. Sofreu lesões nos pulmões, no fígado e precisou fazer uma cirurgia para retirar o baço, que se rompeu na queda. Na terça-feira (4), foi transferida o hospital particular, onde estava internada em um quarto até a noite deste domingo.
Fantástico: Em algum momento você pensou no pior?
A jovem recebeu o primeiro atendimento médico na Marina da Glória, na Zona Sul, e foi levada para o Hospital Municipal Souza Aguiar. Para a surpresa da equipe médica, Marina não teve fraturas. Sofreu lesões nos pulmões, no fígado e precisou fazer uma cirurgia para retirar o baço, que se rompeu na queda. Na terça-feira (4), foi transferida o hospital particular, onde estava internada em um quarto até a noite deste domingo.
Fantástico: Em algum momento você pensou no pior?
Marina: Não.
Fantástico: O que você viu na sua frente?
Marina: Um carro. Eu estava andando distraída, a ponte vazia, aí eu pensei: eu vou bater nesse carro, vou desviar.
Fantástico: Ele parou bruscamente?
Marina: Não. Eu não lembro. Foi aquele flash. Assim, eu vi a luz vermelha. Não lembro se ele freou ou se já tava com essa luz acesa. Realmente não lembro. Então eu falei só vou desviar. Foi só esse pensamento. No que eu desviei, bati na mureta. Ai, caramba, bati e quebrei meu farol. Revoltada. Abri o olho, está o carro todo capotando. Fechei o olho. Quando abri de novo, vi o airbag acionando. Fechei o olho, quando eu abri, ih, água. Botei a mão no nariz.
Fantástico: Se você tivesse assistindo a uma menina de 22 anos que estivesse caído do vão central da Ponte Rio-Niterói, o que você pensaria?
Marina: Eu não iria acreditar. Não iria acreditar, mesmo. É muito difícil. Você salta 50 metros e você morre. Você está saltando de um prédio, mesmo que você caia na água.
O "Fantástico" pediu para o físico Enio Frota da Silveira calcular o impacto. “Durante uns três segundos, ela atingiu uma velocidade praticamente igual a que ela tinha quando estava dirigindo, ou seja, 80-100 km/h, quando ela impactou na superfície do mar, aí durante uma fração de segundo, uns três décimos de segundo, o carro imobilizou-se dentro d´água. O peso dela aumentou até, digamos, meia tonelada”, disse.
“A única possibilidade de ela sobreviver é se o carro caísse levemente inclinado pra frente, o que provavelmente acionou o airbag e ela caiu abraçada com o airbag”, explicou Moacyr Duarte, especialista em gerenciamento de riscos.
Para Moacyr, o mais provável é que os airbags tenham sido acionados no momento da queda na árvore. O que segurou Marina no momento da capotagem foi o cinto de segurança. "Acredito que, ou no momento da pancada toda a estrutura se soltou na água, ou ela involuntariamente se soltou e procurou a saída pela janela. Ou então a porta se abriu no impacto."
Marina não lembra de ter ficado desesperada debaixo d'água: "Se a gente cai muito alto, a gente vai muito fundo e a gente sobe para nadar, sente falta de ar. Não lembro de ter sentido essa falta de ar, de ficar no desespero para subir. Lembro assim, mergulhei e subi".
O acidente foi visto no Centro de controle da Ponte. “No momento do acidente, eu estava aqui nesse monitor, visualizando, como a gente faz o monitoramento da rodovia, e de repente eu visualizei um veículo branco capotando por várias vezes nesse ponto daqui sendo projetado ao mar. Numa hora dessas a gente pega esse rádio aqui e a gente fala direto no nosso canal que aciona o resgate”, contou o controlador Diego Crespo.
“Tinham várias pessoas debruçadas na Ponte, olhando pra baixo. Dava pra ver o veículo submergindo. A gente tentou chamar a Marina -- agora a gente sabe que é a Marina -- e ela levantou a cabeça, dando sinais de vida naquele momento”, lembrou a médica socorrista Larissa Veronesi.
Marina: Tinha alguém acenando tá tudo bem? Eu não tinha força pra gritar. Eu acenei.
Fantástico: Mas teve forças pra levantar os braços como quem diz: “Estou bem”.
Marina: E mexer a cabeça. Tipo assim, “estou viva”, “estou aqui ainda”. Eu falei: Para onde que eu nado? Aqui eu não posso ficar. Tenho que me salvar, mas pra onde que eu vou pra ajudar, pra tentar ajudar? Vou pra pilastra que está mais perto. Correnteza muito forte, eu cansada, falta de ar. Falei: Ah, não. Vou boiar. Vou ficar boiando.
Até ser resgatada, Marina ainda ficou 30 minutos boiando na água.
Marina: Foi sinistro. Achei que eu tivesse boiando por muito tempo, muito tempo. A única coisa que passava na minha cabeça era: eu tenho que sair daqui.
Fantástico: Você tá sentindo alguma dor?
Marina: Não. Dor somente de roxo, dos hematomas. Fora isso, não sinto dor.
“A Marina não sofreu nenhum tipo de lesão neurológica. Isso já é uma coisa bastante importante. Ela não perdeu a consciência em nenhum momento. Se é verdade que existem aí sete vidas, eu acho que a Marina deve ter gastado umas seis. Realmente, foi um milagre”, analisou o médico Pablo Quesado.
"Acho que ela entrou para o seleto grupo das pessoas que têm dois aniversários por ano pra comemorar”, acrescentou Moacyr. "Se fosse um filme, e nós tentássemos fazer um filme de ação e o herói capotasse oito vezes, caísse de uma ponte de 50 metros e saísse do carro nadando, nós todos acharíamos uma grande mentira. No entanto foi o que aconteceu."
Acima da velocidade
A jovem admitiu que dirigia acima da velocidade permitida, mas diz que não estava correndo muito.
A jovem admitiu que dirigia acima da velocidade permitida, mas diz que não estava correndo muito.
Marina: Eu acho que eu devia estar a uns 10 quilômetros a mais da velocidade permitida, uns 90 [km/h].
Fantástico: Não tava mexendo no celular?
Marina: Não tenho costume de mexer no celular quando eu dirijo.
Fantástico: Cinto de segurança?
Marina: É, cinto de segurança. É costume já.
Fantástico: Quando você estava em queda livre, você sentia presa o tempo todo ao cinto de segurança?
Marina: Eu me sentia segura, por incrível que pareça. Eu achava que o carro tinha capotado, caído e ponto. Estou segura. Vou soltar o sinto e sair andando.
Fantástico: Marina, você está sentindo falta de alguma coisa?
Marina: Eu dou falta de tudo. Mentira, a gente fica soltando piada. Vou fazer entrevista com o ‘Fantástico’. Não posso porque a minha maquiagem está no fundo do mar. Quero falar com meus amigos. Não posso porque meu celular está no fundo do mar. Vamos sair? Não posso porque meu carro está no fundo do mar.
Fantástico: Em algum momento você pensou no pior?
Marina: Não. Nenhum momento, juro. Minha mãe sempre me ensinou que as palavras têm poder. Então pensei: pensa positivo que vai dar certo. Eu carrego isso para a minha vida, sabe? Então, em nenhum momento foi: eu vou morrer, vou me desesperar. Não, eu vou sair daqui. Eu vou sobreviver. As pessoas deveriam dar mais valor à vida, porque é muito importante, muito importante.
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