quinta-feira, 2 de julho de 2015

Ação de graças pela beatificação de Irmã Irene Stefani

 Diamantino Antunes
A pacata vila de Nipepe, no extremo sudeste do Niassa, um movimento pouco habitual no final de semana de 27 e 28 de junho. Algumas centenas de peregrinos das diferentes paróquias da diocese de Lichinga, juntamente com um bom grupo de Missionários/as da Consolata, sacerdotes diocesanos e religiosos/as dirigiram-se no sábado, 27, para a Paróquia de São João de Brito. O objetivo era agradecer a Deus o dom da santidade da Irmã Irene Stefani, proclamada Bem-aventurada no dia 23 de maio, no lugar onde, por sua intercessão, operou o milagre da multiplicação da água e a proteção dada aos catequistas e seus familiares num momento de grave perigo.
As celebrações litúrgicas começaram no sábado à tarde com a procissão da imagem de Nossa Senhora Consolata, do centro da vila até à igreja paroquial. Seguiu-se a Eucaristia e uma vigília de oração.
No domingo, o número dos fiéis aumentou em grande número, afluindo das comunidades cristãs da paróquia de Nipepe. A Eucaristia, celebrada ao ar livre, na frente da igreja paroquial, foi presidida pelo Bispo de Lichinga, Dom Atanásio Amisse Canira, e concelebrada por Dom Inácio Saúre IMC, Bispo de Tete, e por 30 sacerdotes. Estavam presentes também delegações do governo distrital e provincial, autoridades tradicionais, representantes de outras igrejas e dos muçulmanos.
A celebração começou com a apresentação feita pelo padre Giuseppe Frizzi, sobre os fatos acontecidos e o fenômeno sobrenatural da multiplicação da água: em plena guerra civil, surge do nada, o centro catequético para formação de famílias de catequistas. O objetivo era estudar e usar os subsídios litúrgico-catequeticos que a diocese de Lichinga tinha publicado recentemente: o Missal em língua Macua "Masu a Muluku", o livro de cânticos e orações "Mavekelo ni Itxipo" e o Catecismo dos Adultos em Macua.
Enquanto celebravam a missa, presidida pelo padre Frizzi, a vila foi atacada. Na igreja refugiaram-se algumas pessoas da aldeia, incluindo muçulmanos. Ficaram sitiados entre os dias 10 e 13 de janeiro de 1989. Perante o perigo e suplicando proteção, padre Frizzi, com um grupo de catequistas, celebra o sacrifício tradicional - Makeya- invocando a ajuda da Ir. Irene Stefani, da qual estava lendo uma biografia.
As dezenas de pessoas fechadas na igreja, durante o ataque nada sofreram, apesar das balas e obuses passarem muito próximo dos muros da igreja. Não tinham reserva de água e era o período mais quente do ano. E a água, inesperada e inexplicavelmente, foi suficiente para matar a sede de todos os refugiados que estavam na igreja. Os presentes repetiam mais tarde o testemunho: "por intercessão da Ir. Irene, fomos salvos". A respeito deste acontecimento foi baseada a investigação diocesana nos anos 2010-2011, ratificada pela Congregação da Causa dos Santos. O decreto com a aprovação do Papa Francisco, foi publicado pela Congregação da Causa dos Santos aos 12 de junho de 2014. Foi tomado em consideração para a beatificação o milagre atribuído à intercessão da Serva de Deus Irene Stefani.
Na homilia, feita por Dom Inácio Saure, o bispo de Tete, destacou a figura da Bem-aventurada Irene Stefani colocando em destaque as suas qualidades humanas, religiosas e missionárias. No final da celebração foram apresentados os catequistas, ainda vivos, que estavam em formação em Nipepe e que foram vitimas do ataque, muitos deles sequestrados e levados pelos guerrilheiros para a base, e testemunhas do milagre da multiplicação da água e da proteção recebida durante aqueles dias de grande perigo e risco de vida. No grupo estava a jovem Irene, a criança que nasceu dentro da igreja de Nipepe durante o sequestro e foi lavada com a água da pia baptismal. Foi um momento emocionante, em primeiro para eles, pois alguns há muitos anos que não se viam, e para a assembleia que se comoveu com o testemunho. Foi um momento de explosão de alegria e agradecimento, bem expresso com as danças e os cânticos de quem estava presente.
Antes da bênção final, várias pessoas tomaram a palavra: membros do governo, superiores IMC-MC e o pároco de Nipepe. Por último, interveio o Bispo de Lichinga, Dom Atanásio Canira. Agradeceu o trabalho de evangelização e promoção humana realizado pelos Missionários/as da Consolata no Niassa. Reafirmou que a diocese de Lichinga continua a precisar da sua colaboração no trabalho de consolidação da Igreja local: a planta por vós plantada precisa ainda da vossa ajuda para crescer! Por fim, declarou a igreja de Nipepe como lugar de peregrinação para a celebração da memória litúrgica da Bem-aventurada Irene Stefani, cuja data é o dia 31 de outubro.
A Missão de São João de Brito de Nipepe foi fundada pelos Missionários da Consolata no dia 4 de fevereiro de 1967, com território desmembrado da Missão de São Francisco Xavier de Maiaca. Foi fundador e primeiro superior da Missão de Nipepe o Padre Mário Filippi. Nesta Missão, até à sua nacionalização, trabalharam os Padres Franco Gioda e Oberto Abondio. Durante a guerra civil, a missão de Nipepe era assistida a partir de Maúa. Em 1988, foi criado o Centro Catequético diocesano na sede da Missão. Em 1998, os Missionários da Consolata entregaram a paróquia de Nipepe à cura pastoral da equipe Missionária de Além-Fronteiras (Brasil). Desde 2005 a paróquia passou à cura dos padres diocesanos de Lichinga.
Fonte: Revista Missões

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