Mostra 'Ausências' fica até 12 de julho no memorial da Resistência.
Fotógrafo registrou famílias brasileiras e argentinas antes e depois da perda.
Eduardo Germano, irmão do fotógrafo argentino Gustavo Germano, foi uma das cerca de nove mil pessoas que desapareceram durante a ditadura argentina (1973 - 1983). Na família, as lembranças permeavam os retratos antigos. Um dia, Gustavo decidiu reproduzir uma dessas imagens. Juntou os irmãos crescidos e posou com eles no mesmo lugar. O espaço ocupado por Eduardo ficou vazio. E foi assim que o fotógrafo criou o projeto 'Ausências', em exibição até 12 de julho em São Paulo.
"Eu tinha essa dupla condição de familiar de desaparecido e fotógrafo, e isso apareceu como uma maneira de representar através da fotografia o que significa o vazio da ausência. O outro elemento está baseado na maneira de representar, que é: não pude ver meu irmão envelhecer. [...] É uma maneira de poder falar com imagens sobre o que significa o desaparecimento forçado", disse Germano ao G1, em entrevista por telefone.
Por todo o ano de 2012, o fotógrafo percorreu a Argentina - e depois o Brasil, do Ceará até o Rio Grande do Sul - refazendo imagens de famílias e seus vazios. "É uma situação muito especial, em muitos casos havia pessoas que nunca haviam voltado aos lugares das fotos e tanto na Argentina como no Brasil houve situações de alta voltagem emocional", contou ele.
O fotógrafo agora trabalha em extensões do projeto na Colômbia e Chile e depois pelos demais países da Operação Condor - aliança entre governos da Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai para realização de atividades clandestinas como sequestros, torturas e assassinatos.
"É uma maneira de representar também esse método de desaparecimento forçado que se aplicou ao redor de toda a América Latina. [...] No Brasil não foi aplicado com a mecânica massiva da Argentina, mas teve o antecedente de ser pioneiro."
Germano disse que a princípio pensou que a barreira da língua seria um problema, mas quando começou a conversar com as famílias de desaparecidos no Brasil percebeu que algo os unia. "Conhecer a fundo o que significa o desaparecimento forçado, a situação dos familiares, gerou a possibilidade de conexão, muito além do país de origem ou cultura."
Os 12 pares de fotografias podem ser vistos até o dia 12 de julho, das 10h às 17h30, no Memorial da Resistência, em São Paulo. Todas as imagens do projeto podem ser vistas no site do fotógrafo.
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