Por Álvaro de Juana
Imagem referencial. Foto: Daniel Ibáñez / ACI Prensa
Vaticano, 10 Nov. 16 / 06:00 pm (ACI).- Em uma nova conversa com Pe. Antonio Spadaro, diretor da revista dos jesuítas “La Civiltà Cattolica”, contida no livro “Nei tuoi occhi è la mia parola” (“Em teus olhos está minha palavra”, em tradução livre), Papa Francisco explica esta e outras questões relacionadas às suas homilias e discursos.
“As homilias para mim são algo tão ligado à história concreta do momento que depois podem ser esquecidas”, afirma Francisco ao ser perguntado se lembra da primeira homilia que pronunciou quando foi ordenado sacerdote. “Não é feita para ser recordada pelo pregador, que em seu lugar é sempre impulsionado a avançar”, acrescenta.
A nova publicação – divulgada na Itália por Rizzoli – reúne também as homilias e os discursos do Papa Francisco quando era Arcebispo de Buenos Aires, entre 1999 e 2013, ano em que foi eleito Pontífice.
Não obstante, Francisco lembra e explica que, “quando nos ensinavam homilética no seminário, eu já tinha uma certa aversão às páginas escritas nas quais estava tudo. Lembro-me bem disto. Estava e estou seguro de que entre o pregador e o povo de Deus não deve haver nada no meio. Não pode haver um papel. Algum comentário escrito, mas não tudo”. “E disse também na escola, nesse tempo. O professor se surpreendeu. Perguntou-me por que eu era contra preparar toda a homilia e eu respondi: ‘Se lemos não é possível olhar as pessoas nos olhos’”. “Isso – acrescenta – lembro como se fosse hoje e ocorreu antes da minha ordenação sacerdotal”.
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Ele mesmo afirma que este pensamento continua presente como Papa e sublinha: “O que busco fazer ainda hoje é procurar os olhos das pessoas. Também aqui na Praça de São Pedro”. Perguntado sobre como faz com tanta gente que o espera sempre na praça, Francisco explica: “Quando saúdo há uma massa de gente, mas eu não os vejo como massa: procuro olhar pelo menos uma pessoa, um rosto concreto. Às vezes é impossível devido à distância. É difícil quando estou muito longe. Às vezes tento, não consigo, mas tento”. E, “se olho uma pessoa, depois possivelmente outros também se sintam observados, não como ‘massa’, mas como pessoas individuais”.
Para explicar melhor este aspecto, o Pontífice cita como exemplo a Missa de encerramento nas Filipinas ante milhões de pessoas, a qual “possivelmente não foi calorosa como gostaria que tivesse sido”. “Amo muito aquelas pessoas e havia muita gente”, entretanto, “em Taclobán (uma ilha das Filipinas que visitou), em meio à chuva, nessa situação verdadeiramente difícil, senti que podia olhar as pessoas e falar ao coração delas. Era uma comunicação direta. As situações são imprevisíveis, a comunicação é uma coisa que acontece no momento em que acontece”.
Apesar de tudo isso, “aqui frequentemente devo ler as homilias” e “então me recordo disso que eu dizia quando era estudante. Por isso, muitas vezes saio do texto escrito que está preparado, acrescento palavras, expressões que não estão escritas. Dessa maneira, olho para as pessoas. Quando falo, devo fazê-lo com alguém. Faço de alguma maneira, mas sinto esta profunda necessidade”.
“É verdade que é necessário ir a São Pedro com algo bem preparado, mas eu sempre tenho este desejo profundo que vai além dos contextos formais. Às vezes não consigo devido às circunstâncias e, então, não fico contente. Tenho este impulso de sair do texto e olhar nos olhos”.
Os 3 pontos característicos
Por outro lado, o Santo Padre também revela como se sente quando em suas viagens deve ser traduzido à língua do país, para que as pessoas possam entender. “Gostaria de não ser traduzido e poder falar o idioma, mas me acostumei”.
Questionado se existem diferenças entre as suas homilias como Arcebispo e como Papa, afirmou: “Não sei”. “Não, eu advirto diferenças. Na verdade, em alguns casos de Arcebispo e de Papa a preparação é mais formal e complexa”.
Francisco também confessa por que muitas vezes em suas homilias ou discursos fala de 3 pontos: “Isto vem dos Exercícios (de Santo Inácio): é a formação jesuíta”. “Os Exercícios me vêm à mente rapidamente, sempre. Formaram-me. Desde então, desde o início, não noto uma atitude radicalmente diferente com relação a quando pregava como pároco”. Mas, “o importante é ter o coração de pastor, tanto de pároco como de bispo ou de Papa”, afirma.
A missa matutina na Casa Santa Marta
No livro, o Bispo de Roma revela também que começa a preparar as homilias da manhã “no dia anterior”. Em concreto, “ao meio dia do dia anterior”. “Leio os textos do dia seguinte e, em geral, escolho uma das três leituras. Depois, leio em voz alta a passagem que escolhi. Preciso escutar o som, escutar as palavras. Em seguida, sublinho no livrinho aquelas palavras que me chamaram mais atenção. Circulo as palavras que me surpreenderam”.
O Pontífice também conta que “durante o resto do dia as palavras e os pensamentos vão e vêm enquanto faço o que devo fazer: medito, reflito, saboreio as coisas… Entretanto, há dias nos quais chego à tarde e não vem nada à minha mente, nos quais não tenho ideia do que direi no dia seguinte”.
Nesses casos, “faço o que diz Santo Inácio: durmo com isso” e, “então, imediatamente quando acordo, vem a inspiração. Vêm coisas certas, algumas vezes fortes, outras vezes mais fracas. Mas é assim: Sinto-me preparado”.
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