Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte
Arcebispo de Belo Horizonte

Não há como fugir da busca pelo consenso, sob pena de produzir totalitarismos, fundamentalismos ou mesmo afastamentos, que geram deserções prejudiciais para instituições e seus funcionamentos. Imprescindível é seguir no exigente caminho do diálogo, exercitando a paciência e nunca desistindo de avançar na construção da convergência em torno de temas, prioridades e assuntos importantes para a vida social, política, cultural e também religiosa. Esse percurso que dá espaço para diferentes opiniões não pode negociar a centralidade da verdade. Só por ela se pode discernir adequadamente e alcançar a meta fundamental do bem e da justiça.
É um enorme desafio buscar a verdade que define rumos, corrige descompassos, dá prioridade ao que, naquele momento histórico e naquele lugar, é melhor e adequado. A verdade não está nunca sob o domínio de um ou de outro. Afinal, conforme bem ensina a sabedoria popular, “cada cabeça é uma sentença”. A complexidade se apresenta, justamente, em razão do inevitável confronto entre a verdade buscada, a realidade em si e as opiniões. Estas carecem de ser analisadas em suas fundamentações. Aí se encontra um infindável número de tensões e confrontos, que refletem interesses, muitas vezes não pertinentes, estreiteza de mentalidade, além da falta de uma formação cultural e humanística para subsidiar uma participação edificante na configuração do consenso.
É importante considerar que sem a construção de entendimentos, nas diferentes instâncias, modalidades e intensidades, a cultura não avança. Atrasos de todo o tipo são perpetuados e os cidadãos não usufruem dos bens e dons da natureza, da história, do seu próprio povo e das dádivas de Deus. Dessa Babel contemporânea surgem os fundamentalismos, de tipos variados, sintomas da perda do equilíbrio, que configuram a mediocridade e incapacidade para garantir o bem, a verdade e a justiça. Não menos grave é a falta de lucidez necessária aos operadores da união, por tarefa política, cultural ou religiosa. Uma carência fundamentada na falta do imprescindível embasamento humanístico. Trata-se de um problema que compromete o exercício da liderança, com decisões, posturas e escolhas que conduzem a coletividade no caminho oposto ao bem comum.
Diante de todos está esse sério desafio à conjuntura social, com suas importantes questões em pauta, como a reforma política, das instituições todas, incluindo as religiosas. Os consensos indispensáveis na construção da sociedade não podem ser reduzidos a meros processos de negociação partidária ou de interesses cartoriais. Só o compromisso com a verdade, meta a ser sempre buscada, possibilitará um qualificado processo na formação dos entendimentos construídos a partir de escolhas acertadas, rumos bem definidos e a participação indispensável de todos.
Na complexidade dessa questão de formar consensos, como força educativa e definidora de novos rumos, não poderá faltar o exercício de um caminho indicado por Jesus, em sua maestria, a partir de ditos e parábolas: a humildade. O exercício dessa virtude tem efeitos admiráveis sobre nós todos. Aos inteligentes, dá mais luminosidade. Aos governantes, a capacidade para ouvir o povo e, a partir dessa escuta, discernir as prioridades e urgências. A cada cidadão, eleva o gosto pelo diálogo e um despertar apurado quanto ao compromisso de construir a sociedade justa e solidária. No caminho da humildade indicado pelo Mestre Jesus, a Babel de consensos se tornará a sociedade de entendimentos.
CNBB
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