sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Nossa civilização cristã

Padre Geovane Saraiva

Nossa civilização cristã, no seu perfil ou configuração, composta pelos seguidores de Jesus de Nazaré, tendo como amparo e sustento a égide da esperança. Num decisivo e heroico compromisso, é o ideal mais sublime, otimista e profético, pela mais elevada e digna causa da existência humana, no sonho de ver “novas todas as coisas” (Ap 21, 5). Daí nossa atenção aos sinais do Espírito de Deus, evidenciado no conjunto dos primeiros séculos de nossa “era cristã”, num esforço, de tal modo solidário, a ponto de se ficar clara a luta pela extinção da fome, no sentido mais amplo: material, cultural, na dignidade, na educação. Passado o quarto século, constata-se a fé consolidada, a partir do Concílio de Niceia, no ano de 325. É o povo de Deus a encontrar seu caminho por muitos séculos, tendo por fundamento a fé em Jesus Cristo, que nela se agarra; e do Filho de Deus não se afasta.

O registro da História atesta que a humanidade é generosa, através de pessoas superdotadas, homens e mulheres, com todos os dotes e talentos de sua inteligência, e está enfocada nas coisas divinas sobrenaturais, exteriorizando, por este imenso e desmedido mundo, a arte, a pintura, a arquitetura, a escultura e a literatura, com a consciência de sua força e poder influenciador, no caminho do bem; no caminho de Deus. Percebe-se, no entanto, a fé como sendo sólida e consistente em Cristo Jesus, e não há por que se duvidar da “idade da crença”, mas que aos poucos, fruto dos dons da sabedoria humana, cede lugar aos dogmas, no que diz respeito ao mesmo Senhor Jesus Cristo.

Já na Idade Contemporânea, ou hodierna, na qual estamos inseridos, nos diversos sinais, gestos e atitudes da humanidade, urge uma compreensão da amplitude do mundo. O Espírito de Deus, além de inspirar, constantemente, quer nos desafiar e provocar, na causa existencial, a mais digna possível, numa vida sensata, baseada em fundamentos sólidos. Os traços da verdadeira esperança, no cuidado de não separar fé e razão, é algo vital e revelador, na diversidade dos dons do Espírito Santo de Deus. Antevemos com humildade o futuro, o destino da vida e do mundo, mas sob o amparo da esperança como aliado, numa metáfora de contemplar o céu estrelado e luminoso. Assim seja!

*Pároco de Santo Afonso, blogueiro, escritor e integrante da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).


domingo, 18 de outubro de 2020

Padre Lima: Centenário de sua ordenação sacerdotal

Padre Francisco Lima Freitas, vigário de Aracoiaba-CE, de fevereiro de 1925 a janeiro de 1932. Era tio da minha mãe, Maria Eliete Saraiva, foi ordenado sacerdote (26/09/1920), por Dom Manoel da Silva Gomes, 3º bispo do Ceará e 1º arcebispo de Fortaleza (1912-1941). Pe. Lima, como era conhecido, no centenário de sua ordenação presbiteral, do céu, interceda por nós! Que o tenhamos em conta na nossa história familiar, ele na condição de “sacerdos in aeternum”, irmão do nosso avô materno. Sílvia Guedes, obrigado pelo presente das fotos do Pe. Lima! (Fotos: Museu de Aracoiaba-CE).

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Herança dos santos

Padre Geovane Saraiva*
O sonho por renovação espiritual, consagrado no estreitamento da fé com a vida, conduz-nos pelo bom caminho, mas numa vida devotada e lançada nas mãos de Deus. O legado e a herança dos santos nos inspiram e nos encorajam no caminho divino, o mesmo percorrido sabiamente e com rigor contemplativo por aqueles que nos precederam na estrada da santidade. Deus nos quer proporcionar bons corações, insistentes e confiantes na oração. Ele sabe o que mais nos convém, do que mais necessita a criatura humana, espalhada por toda a extensão da terra. Diante da realidade do mistério da vida, Deus propõe para nós uma única coisa: a esperança, a mesma que afugenta da terra a desconfiança, que embaça os olhares mais claros e torna turvos os horizontes mais límpidos, segundo Dom Helder. Viver na turbulência das ondas, na instabilidade do barco da vida, parecendo, muitas vezes, que vai naufragar, é um grande milagre do Deus encantador, a nos deslumbrar com seu dom e sua graça, obras da ação do Espírito Santo em nós. 
 Numa densa e consistente sinopse, voltemo-nos para Santa Teresa de Jesus (1515-1582), uma criatura humana exemplar, descomunal e desmedida no amor, um bem que pode ressoar, hoje, na vida dos cristãos como um verdadeiro milagre do inefável mistério de amor. Não tenho nenhuma dúvida de tratar-se de uma mulher fortemente movida pelo Espírito de Deus. Entre seus escritos, engrandeceu nossa civilização cristã: “Castelo Interior” e “Caminho de Perfeição”, ao agraciar obsequiosamente o mundo com sua própria experiência de vida de oração e contemplação, presente na sua lavra literária, externando seu lado místico duradouro e indelével. Ela soube colocar, diante dos olhos, na mente e no coração, o Deus grande, glorioso e esplêndido, sendo a razão de seu viver, indicando-nos, assim, o caminho da santidade e da benevolência divina. 

 Que o Espírito Santo de Deus nos ensine o caminho reto, fortalecendo-nos cada vez mais na graça da convivência humana, da proximidade e do afeto pelo nosso semelhante, que encontra sua real concretude, quando procuramos compreendê-lo e dele nos aproximar, ouvindo seus clamores e suas angústias, estendendo-lhe a mão amiga, através de gestos edificantes, fraternos e acolhedores. Só mesmo na vida transformada em oração, na busca da perfeição, se compreende o convite de Deus para o encontro das “eternas alegrias”, no exemplo de Santa Teresa D’Ávila, chamando-nos para participar de sua festa, mas contando com o melhor alimento, dos melhores manjares, insólitos e excepcionais, regados à base de vinhos raríssimos e inusitados. Assim seja!

 *Pároco de Santo Afonso, blogueiro, escritor e integrante da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).

sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Eterna Romaria

Padre Geovane Saraiva*
Nossa missão aqui na terra é uma constante e persistente romaria, como na canção: “Sou caipira, Pirapora / Nossa Senhora de Aparecida / Ilumina a mina escura e funda / O trem da minha vida”, mas na esperança da feliz e eterna romaria. Eis o nosso maior desafio: o de viver o Evangelho de Jesus. Fica patente o convite à conversão do nosso coração, na alegria de sempre mais redescobrir o amor verdadeiro, de nos inspirarmos no gesto da Mãe de Deus e de nos unirmos à Igreja em estado permanente de missão, pelos dons do Espírito Santo em Maria, neste outubro missionário. Sabemos que cada pessoa, no exemplo acima mencionado, ao mergulhar na sabedoria divina, quer mais e mais exteriorizar, difundir e disseminar a ternura compassiva de Deus, carregando consigo, neste mundo, o segredo de seu mistério ou a razão de seu encargo ou dever de edificar o mundo e sua realidade contraditória. Embora se saiba que são muitos os que se encontram na aridez do deserto, também no seu calor escaldante e exaustivo procuram um poço de água, uma torrente miraculosa, no sentido de jorrar água redentora, a mesma de Maria no Rio Paraíba. É o amor transbordante de Deus que nos faz pensar, acima de qualquer metáfora ou alegoria, no mistério da Mãe de Deus. Neste mês missionário de 2020 somos convidados a abraçar a proposta do Evangelho de Jesus, na compreensão generosa de que “a vida é missão, dom e compromisso”, na ordem vital e irrecusável de Jesus: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16, 15). Deus nos conceda a graça da consciência de que fomos criados para apreciar e valorizar seu Reino, em sua beleza, não num sentimento de tristeza, nos limites precários e na transitoriedade da vida, mas longe de ilusões e vantagens deste mundo, com um sentimento de viva esperança, anunciada no Magnificat: “O Poderoso fez em mim grandes coisas. Seu nome é santo e seu amor para sempre se estende sobre aqueles que o temem”. Aventura magnífica, a partir de Michelangelo (1475-1564), pintor, escultor, poeta, arquiteto e gênio italiano, ao retratar, evidentemente através da arte, essa tese, de um modo indizível, mostra a Virgem Maria nas sete dores sofridas com o corpo de seu filho Jesus, morto em seus braços, após a crucificação, com dores colossais e descomunais, que representam as dores da humanidade. Assim seja! *Pároco de Santo Afonso, blogueiro, escritor e integrante da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).

quarta-feira, 7 de outubro de 2020

Novo bispo para a diocese de Itapipoca

O Papa nomeou bispo da Diocese de Itapipoca (Ceará) dom Rosalvo Cordeiro de Lima, até agora bispo auxiliar de Fortaleza., aceitando a renúncia ao governo pastoral da diocese apresentada por dom Mons. Antônio Roberto Cavuto, O.F.M. Cap. Vatican News O Santo Padre aceitou a renúncia ao governo pastoral da diocese de Itapipoca (Ceará) apresentada por dom Antônio Roberto Cavuto, O.F.M. Cap. O Papa nomeou bispo da diocese de Itapipoca dom Rosalvo Cordeiro de Lima, até agora bispo auxiliar de Fortaleza. Curriculum vitae Dom Rosalvo Cordeiro de Lima nasceu em 25 de Janeiro de 1962 em União dos Palmares (Alagoas). Estudou Filosofia no Seminário Sagrado Coração de Jesus em Mogi das Cruzes e Teologia na Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, São Paulo. Foi ordenado sacerdote em 1º de novembro de 1992, em Arujá, Diocese de Mogi das Cruzes. Após a ordenação sacerdotal ocupou os seguintes cargos: vigário paroquial de Jesus Cristo Redentor do Homem, em Itaquaquecetuba (1992 - 1993); coordenador da Pastoral Vocacional da diocese de Mogi das Cruzes (1994 - 2000); administrador paroquial de Jesus Cristo Redentor do Homem (1994 - 1997); pároco de São José, em Salesópolis (1997 - 2011); diretor espiritual dos seminaristas de Mogi das Cruzes (2000 - 2011). Em 2 de fevereiro de 2011 foi nomeado bispo titular de Castelo do Tatroporto e auxiliar da arquidiocese metropolitana de Fortaleza. Na Conferência Episcopal do Regional Região Nordeste 1 foi membro da Comissão para o Serviço de Caridade, Justiça e Paz.

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Missão: dom e compromisso

Padre Geovane Saraiva*
Auristela Leite é uma mulher da Paróquia de Santo Afonso que tem preocupação e carinho para com os vulneráveis, os moradores de rua, em sua costumeira presença, à noite, nas praças da nossa querida Fortaleza, levando alimento e, por vezes, lençóis e agasalho a seus habitantes, além do conforto e alento espiritual. Pode acreditar! Tenho a certeza de que ela não quer louvores e muito menos vênias. Ela já chegou a me confidenciar certa vez: “Pe. Geovane, não gosto muito de elogios e tenho até nojo daquele linguajar jurídico e acadêmico, que parece lembrar a imagem do ‘santo do pau oco’, chegando próximo da hipocrisia”. Um dia ela me disse, dentro do contexto da missão universal da Igreja – e estamos vivendo o Mês Missionário 2020: “Gosto muito de Dom Helder, em sua apaixonante afirmação: ‘Missão é partir, é não se deixar bloquear nos problemas do pequeno mundo a que pertencemos: a humanidade é maior. Missão é partir, mas não devorar quilômetros. É, sobretudo, abrir-se aos outros como irmãos, descobri-los e encontrá-los. E se, para encontrá-los e amá-los, é preciso atravessar os mares e voar lá nos céus, então Missão é partir até os confins do mundo’”. Auristela, mulher afável, terna e carinhosa, tendo na mente e no coração os desprotegidos deste mundo, tão marcados pela dor, no sofrimento de toda natureza, disse-me também: “O Papa Francisco é minha inspiração no meu humilde compromisso por um mundo inclusivo e solidário, por uma Igreja em saída, mas nunca posso esquecer aquele papa da bondade, São João XXIII (1958-1962), no seu especial carinho para com as crianças, às quais, mesmo em tempo de pandemia, gosto de chamar de ‘maluquinhos’”. Nossa paroquiana tem larga clareza de que São João XXIII percebeu os sinais dos tempos, na sua urgência por renovação ou rejuvenescimento, o “aggiornamento”, mas dentro de uma nova pedagogia: a de que se pode contar com o remédio, o perdão, a misericórdia e a brandura, e não com a severidade. Assim, São João XXIII, com um carinho de que lhe era peculiar, chegou a dizer aos padres conciliares: “Quando vocês voltarem para casa encontrarão crianças. Deem a elas um carinho e digam: Este é o carinho do Papa”. Ó Deus e Pai de bondade, ajude-nos a compreender que a vida é missão, é dom e compromisso, como na voz do profeta Isaías: “Eis-me aqui! Envia-me!”. Assim seja! *Pároco de Santo Afonso, blogueiro, escritor e integrante da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).