Pe. Geovane Saraiva*
Pesquisar neste blog
terça-feira, 29 de março de 2022
Não aos tempos tenebrosos
sábado, 26 de março de 2022
O banquete da fraternidade
Alhures, já falei
repetidas vezes sobre uma Igreja portadora da esperança, que muito fala da
esperança, sendo sua razão de ser, de existir, e seu sonho muito acima dos
demais, mas que nem sempre assegura e provoca a suficiente esperança.[2]
Entende-se como mística a
espiritualidade de Jesus de Nazaré, própria do tempo quaresmal, a do silêncio e
do abandono nas mãos do absoluto de Deus, juntando-se à escuta da Palavra de
Deus, da adoração a Jesus eucarístico, sem esquecer do evangelho da cruz e da
busca do último lugar, identificada aqui com a espiritualidade de Charles de
Foucauld, aquele que foi seduzido pelo amor de Deus, ao confessar seus pecados
e sentir uma indizível alegria, a mesma alegria do filho pródigo. O emblema
apocalíptico da contemplação do Filho de Deus, com a parábola do pai bondoso,
ou misericordioso, que quer chegar ao preconceito dos doutores da lei e dos
fariseus, pessoas consideradas puras, justas e distantes daquelas que, ao
contrário, não eram consideradas boas e também pecadoras. Fica claro que o pai
bondoso é o próprio Deus, que, com seus didáticos ensinamentos, quer ver os
filhos livres, em suas escolhas e decisões.
Numa religião que carrega consigo
as marcas da esperança, eis o pensamento do grande educador e pensador Rubem
Alves: “Eu achava que religião não era para garantir o céu, depois da morte,
mas para tornar esse mundo melhor, enquanto estamos vivos”.[3]
Voltados para uma confissão integralmente pura, que Deus nos dê o dom da
misericordiosa graça, para que, pela mística cristã, possamos experimentar o
amor de Deus-Pai, que ama a todos indistintamente, estando sempre de braços
abertos para acolher os filhos que retornam ao aconchego do bom, generoso e
misericordioso pai.
*Pároco de Santo Afonso, blogueiro, jornalista, escritor,
poeta e integrante da academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).
[1] Cf.
Lc 15, 15 - 31
[2]
Hans Küng, Celebração do Culto Divino.
[3]
Rubem Alves: Educador e Pensador
terça-feira, 22 de março de 2022
Água: criatura de Deus!
Padre Geovane Saraiva*
Que Deus abra nossa mente e nosso coração, neste Dia Mundial da Água, diante de gritos, dores e gemidos da terra, grande casa e mãe, a partir da assertiva do saudoso Pe. João Batista Libânio: “Rios e mares, antes gigantescos úteros de vida, que vêm sendo esterilizados pela poluição industrial, esgotos, sujeira produzida pelo ser humano. Se esquece de que a água, fonte de vida, transforma-se facilmente em uma das piores fontes de morte, ao transmitir doença. Por ela navegam germes de morte até os confins da terra”.
Água é essencial à vida e sem ela a criatura humana não pode jamais subsistir, o gado e todos animais se extinguem, os campos se transformam em áridos desertos, num sinal e símbolo da morte. Portanto, comemorar o Dia Mundial da Água, na restauradora compreensão de que água para todos pode mudar a vida e a própria história, significa dizer que a vida pede coragem, com respostas que venham em socorro e favoreçam a humanidade no seu todo. Esse é o grande e maior desafio. Paz e bem!
*Pároco de Santo Afonso, blogueiro, jornalista, escritor, poeta e integrante da academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).
quinta-feira, 17 de março de 2022
Triste lembrança do passado
Pe. Geovane Saraiva*
Convém pensar no momento atual, que é doloroso e crucial, pelo qual passa a humanidade. A partir do diálogo e da concórdia, que a solução para essa situação de calamidade seja providencialmente divina. Compreendamos o sentido da mais humana e radical solidariedade, na busca do sonho do amanhã, levando em conta o amor de uns para com os outros, na semeadura da boa semente: a da esperança. Que Deus nos ajude a superar todos os empecilhos. N'Ele contamos com a reconciliação em tempos de discórdia e ódio. Jamais se deve pensar e introjetar um negativismo, imaginando que será o fim.
No amor pela vida, sobretudo através da criatura humana, se repetem, no diálogo e na consonante concórdia, as condições, “sine qua non” como única arma possível para salvar o nosso mundo, num não às armas que nos incitam à luta. Procurar o diálogo, isso sim, nos coloca em humildade e amor, como o Senhor nos pede. Do contrário, se fica diante do vexame, ineditamente histórico, triste, penoso, e que vergonhosamente o tempo não irá apagar.
*Pároco de Santo Afonso, blogueiro, jornalista, escritor, poeta e integrante da academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF
quarta-feira, 16 de março de 2022
Do Ceará Padroeiro
Padre Geovane Saraiva*
Pouco tempo após o nascimento de Jesus, recebe a ordem do alto dos céus: “Levanta-te, pega o menino e Maria, sua mãe, e foge para o Egito” (Mt 2, 3). Tempos depois, o anjo lhe diz: “Vai para a terra de Israel”. É dura a partida, mas de imediato, de noite, José foi flexível à voz soberana, por estar diante de tal situação, sem pedir explicações e não sendo causa de objeções. Pensemos na grandeza de uma alma literalmente obediente: “Servo fiel e prudente a quem o Senhor confiou sua família” (Lc 12, 24), totalmente disponível ao projeto de Deus. Esteve sempre atento à convocação divina e amplamente entregue ao serviço do Senhor, na perfeita dedicação, no amor a Deus, de todo o coração, de toda a alma e com todas as forças.
São José, da descendência de Davi, como nos asseguram as Escrituras Sagradas, une Jesus de Nazaré à linhagem do povo eleito, o qual esperava pelo Messias. Cabe a nós, pois, pensar na benevolência de Deus, que é a de reconciliar consigo mesmo todas as coisas. Vemos que, por meio de simples e humilde carpinteiro de Nazaré, se realiza a profecia anunciada a Davi: “Tua casa e teu reino serão estáveis para sempre diante de mim, e teu trono será firme para sempre” (cf. 2 Sm 7, 16), no sol da justiça, mistério oriundo do seio sagrado da Virgem Maria. Amém!
*Pároco de Santo Afonso, blogueiro, jornalista, escritor, poeta e integrante da academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).
sexta-feira, 11 de março de 2022
O interesse do Ocidente
Pe. Geovane Saraiva*
O que se evidencia na elevada atrocidade emocional e na cristalinidade de uma imprensa ocidental tendenciosa e parcial, como asseverou o Pe. José Alves dos Santos, o Dr. Enoque: “Pode-se dizer que essa guerra entre Rússia e Ucrânia tem sua principal motivação nos Estados Unidos da América, que quer a Ucrânia fazendo parte da OTAN, e isso tem impactado o Governo Russo. Essa aliança da Ucrânia com os americanos via OTAN enfraqueceria e ameaçaria a Rússia, ficando à mercê dos interesses do Ocidente, principalmente dos Estados Unidos da América. A situação se complica, porque a cobertura jornalística só apresenta uma parte da história, ou seja: os russos são os únicos vilões. Eles não abrem mão do seu maior objetivo: impedir que a Ucrânia se alie à OTAN. Vale ressaltar, que apesar dos motivos causadores dessa guerra nos seus bastidores, não se justifica a morte de tantos civis indiscriminadamente, isso é reprovável e abominável".
O que transparece é uma Europa telespectadora e bastante impotente, não desejando enfrentar e duelar com a Rússia, na mesma altura – igual e equitativamente –, mesmo assistindo sua parceira, Ucrânia, dentro do fogo demolidor e devastador. A única saída parece consistir na repercussão e no efeito da grande parcialidade da mídia. Fica patente que o prejuízo é incalculável para a Europa, na sua dependência da Rússia, olhando-a, estruturalmente empoderada, como a maior potência energética do planeta: no gás, no petróleo, no carvão e no níquel.
O respaldo chinês à Rússia causa inconformidade fugaz e mortífera aos Estados Unidos, propulsor e fomentador-mor da OTAN, embora a OTAN esteja mais sólida, mas estremecida, num imperdoável equívoco bloco ocidental, com a aproximação de Rússia e China, unidas de modo ininterrupto e permanente.
*Pároco de Santo Afonso, blogueiro, jornalista, escritor, poeta e integrante da academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).
sábado, 5 de março de 2022
O caminho da Páscoa
Pe. Geovane Saraiva*
Alimentados e envolvidos pelo
Senhor Jesus, no sonho desafiador de um humanismo novo e solidário, que o
sagrado tempo da Quaresma seja de bênçãos e graças, no esforço da construção do
dom maior do amor, pela cultura do diálogo, na esperançosa peregrinação pelo
nosso deserto do dia a dia, rumo à montanha sagrada. Gravemos na mente e no
coração a sua extraordinária força simbólica, como um tempo favorável na
caminhada do povo de Deus. Quaresma, na verdade, expressa um tempo santo e
abençoado (dias, noites e anos), em que Deus quer se revelar e se manifestar em
toda a sua plenitude, e quer uma única coisa dos cristãos: a conversão, a
começar pelo interior do coração.
Só mesmo na certeza de que Deus
quer nossa conversão interior, respondamos, não só com súplicas e louvores,
mas, sobretudo, com o coração aberto aos sinais de Deus. É na adesão pelo
essencial, invisível aos nossos olhos, que somos chamados a um profundo
mergulho no mistério de Deus, neste tempo precioso da Quaresma. Voltemo-nos ao
mistério do invisível e do essencial, como nas palavras de Dom Helder Câmara:
"Que eu aprenda afinal, com a paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, a
cobrir de véus o acidental e efêmero, deixando em primeiro plano apenas o
Mistério da Redenção”. Assim seja!
*Pároco de Santo Afonso, blogueiro, jornalista, escritor,
poeta e integrante da academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).
terça-feira, 1 de março de 2022
Igreja: paz e reconciliação
Pe. Geovane Saraiva* Foto: arquivo/Geovane Saraiva
Imaginava-se uma guerra mundial muito mais distante, mesmo com a devastação das florestas, o aquecimento ou elevação da temperatura no globo, tendo como consequência o poder destrutivo e arrasador dos oceanos, no bombardeio químico, pela pulverização das áreas terrestres, na depreciação da natureza em todo o planeta. Que não se esqueça nunca dos contínuos bombardeios, numa lista bem extensa de países soberanos, sendo patrocinados, evidentemente, pela OTAN e seu responsável maior, os Estados Unidos, transparecendo até muito chique e natural: tudo muito longínquo.
Agora, com a guerra entre Rússia e Ucrânia, como se diz na gíria, o “bicho pegou”, mas que pela palavra do teólogo Leonardo Boff possa se pensar ou refletir: “Nem chorar nem rir, mas procurar entender”. Com a dissolução da União Soviética, Gorbachev havia feito um acordo: o Ocidente desmantelaria a OTAN e a Rússia, o Pacto de Varsóvia. A Rússia fez o combinado e o Ocidente não observou. Depois fez-se outro acordo: que a OTAN não daria nenhum passo além. Muitos passos, em desacordo, foram dados.
Convém não se distanciar da Igreja, na busca da concórdia e da paz para os povos, como lugar de encontro de todos com o Pai, em Jesus de Nazaré. São Pedro exprime, de modo muito claro e sugestivo, esse processo: “A Ele (Jesus) haveis de achegar-vos, como à pedra viva rejeitada pelos homens, porém escolhida, preciosa diante de Deus e vós mesmos; como pedras vivas, sede edificados em casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo” (1 Pd 2, 4). Na fidelidade a Deus, a Igreja jamais pode perder de vista seu compromisso no mundo, como instrumento de reconciliação e de paz. Assim seja!
*Pároco de Santo Afonso, blogueiro, jornalista, escritor, poeta e integrante da academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).